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O número de pessoas infectadas e mortas pelo novo coronavírus só aumenta no Brasil, batendo o triste recorde de 3 mil óbitos em apenas um dia. Por conta do crescimento desenfreado de novos infectados pelo vírus, a quantidade de crianças e bebês com COVID-19 também aumentou, causando mais incertezas sobre os efeitos da doença.
"É esperado que, ao ocorrer aumento no número de casos de COVID-19, como o vivido neste momento no Brasil, este aumento seja observado em todos os grupos etários [...] Entretanto, não há nenhuma evidência, baseando-se na análise dos boletins epidemiológicos do MS [Ministério da Saúde], que mostre um perfil particularmente mais grave da doença em crianças e adolescentes em 2021", explica Flávia Jacqueline Almeida, infectopediatra do Hospital Infantil Sabará.
As crianças continuam sendo, proporcionalmente, as menos afetadas pela doença. De acordo com Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), somente 2,4% dos hospitalizados pela COVID-19 são menores de 20 anos de idade, e 1,27% são menores de 6 anos. Quanto à mortalidade, esses números caem para 0,62% para pessoas até 19 anos, e 0,29% para crianças até 5 anos.
Isso acontece porque o novo coronavírus acomete as crianças com frequência e gravidade bem menores do que pessoas de outras faixas etárias. Ainda não se sabe ao certo o motivo, mas especialistas especulam que:
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- As crianças possuem menos carga viral (quantidade de vírus presente no sangue), e, por isso, o vírus tem mais dificuldade de entrar no aparelho respiratório das crianças
- Por terem menos receptores para o vírus, ele encontra dificuldade para grudar nas vias respiratórias
- Crianças, às vezes, têm uma imunidade inespecífica, pois não tiveram contato com tantas infecções como os adultos e, com isso, só a própria imunidade consegue protegê-las
- Crianças ficam resfriadas com mais frequência e podem ter alguma proteção cruzada
- As vacinas obrigatórias que as crianças recebem podem ter um papel protetor para doenças respiratórias no geral.
"O fato é que as crianças se infectam menos, têm menos vírus e, consequentemente, têm menos sintomas. Tendo menos sintomas - menos tosse e espirros -, transmitem menos o vírus e a doença com menos gravidade", elucida Kfouri.
Sintomas da COVID-19 em crianças e bebês
Na maioria dos casos, as crianças e bebês com COVID-19 são assintomáticos. Quando apresentam algum sintoma, ele geralmente costuma ser leve, semelhante com os resfriados comuns, como:
- Febre
- Tosse
- Congestão nasal
- Dor no corpo
- Dor de garganta
- Dor de ouvido
- Diarreia (geralmente em crianças mais velhas)
- Vômito (geralmente em crianças mais velhas).
Apesar da incidência ser menor, os pequenos também precisam seguir as medidas de prevenção, como uso de máscara obrigatório para pessoas acima de dois anos de idade, evitar aglomerações e fazer distanciamento. Além disso, as crianças em fase escolar não devem ser enviadas para a escola caso apresentem algum sintoma da doença.
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Efeitos em longo prazo
Como o número de crianças infectadas e com quadros graves é baixo, ainda não foi possível fazer estudos que analisam sequelas da COVID-19 em longo prazo nessa faixa etária. Entretanto, em abril de 2020, na Europa, foram descritos casos de crianças com uma reação inflamatória grave e sistêmica possivelmente relacionada ao novo coronavírus.
Essas crianças tinham sintomas semelhantes aos da síndrome de Kawasaki, e algumas suposições surgiram sobre a relação da síndrome com a doença. Os sintomas foram:
- Conjuntivite
- Manchas no corpo
- Diarreia
- Dor abdominal
- Náuseas
- Vômitos.
A relação entre as doenças, porém, já foi descartada. O que se sabe é que esses sintomas são de uma doença chamada Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P). Ela é uma condição raríssima e tardia, que provoca reações inflamatórias no coração, no pulmão, nas articulações e na pele geralmente de um a três meses após a infecção pela COVID-19 - na maioria dos casos, assintomática.
"Hoje conclui-se que essa síndrome, apesar de ter semelhanças com a doença de Kawasaki, tem muitas diferenças, pois acomete crianças maiores (média de oito anos) e é mais grave", explica a infectopediatra Flávia Jacqueline Almeida.