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Não é de hoje que especialistas do mundo todo defendem que o parto normal expõe o recém-nascido a inúmeras bactérias benéficas para a imunidade - e que, consequentemente, não são encontradas nos bebês que vêm ao mundo por cesariana. Neste sentido, segundo um novo estudo feito por cientistas estadunidenses, a prática de semeadura vaginal ou "seeding" poderia normalizar o desenvolvimento da microbiota das crianças nascidas por cesárea.
A pesquisa, publicada na revista Med, foi feita pela Universidade de Rutgers, em Nova Jersey, nos Estados Unidos. Os cientistas acompanharam o primeiro ano de vida de 177 bebês: 98 nascidos de parto normal e 79 de cesárea - dos quais 30 receberam fluidos vaginais maternos com gaze logo após o nascimento, no procedimento que define a técnica de seeding.
Os resultados apontam que promover a exposição natural do recém-nascido de cesariana aos fluidos vaginais maternos é capaz de normalizar seu desenvolvimento microbiótico nos primeiros doze meses de vida. Agora, os pesquisadores buscam descobrir se a prática também é capaz de promover a proteção contra doenças.
"As mães fornecem naturalmente esses microrganismos aos corpos estéreis de seus bebês durante o parto, ajudando o sistema imunológico a se desenvolver. Mas os antibióticos e as cesarianas perturbam essa passagem de micróbios e estão relacionados ao aumento do risco de obesidade, asma e doenças metabólicas", afirmam os cientistas do novo estudo.
Técnica polêmica
Este foi o primeiro estudo amplo sobre a prática de semeadura vaginal, tema que ainda é alvo de discussões e polêmicas entre obstetras desde 2015. Neste ano, um artigo científico analisou a disparidade da microbiota dos nascidos de parto normal e de cesárea.
Até então, o Colegiado de Obstetras e Ginecologistas dos Estados Unidos havia lançado, em 2017, uma recomendação de que mulheres não executem a prática de seeding devido ao risco de transmissão de patógenos para o recém-nascido, em decorrência da carência de estudos comprobatórios.
Isso porque o corpo humano hospeda trilhões de bactérias, vírus, fungos e outros microorganismos, dentre os quais alguns são benéficos e outros prejudiciais para a saúde humana. Desta forma, ao realizar o seeding de forma inadequada, as mães poderiam expor os bebês a sérios riscos.
"Epidemia" de cesariana
Embora seja indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que a cesariana só é necessária, de fato, em 15% dos nascimentos, há países em que ela é realizada em mais da metade dos nascimentos.
O Brasil, por exemplo, ocupa o segundo lugar no ranking mundial de países que mais realizam parto cirúrgico no mundo (55% dos casos), ficando atrás apenas da República Dominicana (58,5%). Isso corresponde a mais do que o dobro da porcentagem de partos cesárea realizados na Finlândia (15%) ou na França (21%), conforme dados da Association Césarine.
De acordo com o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), em 2016, alguns estados brasileiros ultrapassaram a marca de 60% de cesáreas em seus partos, sendo eles: Goiás, Rondônia, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.