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O leite materno é o único alimento que fornece todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento do recém-nascido, sendo recomendado mantê-lo de forma exclusiva até os seis meses de idade. Além de terem seu organismo nutrido e fortalecido, os bebês alimentados com leite humano têm melhor desenvolvimento neurológico e imunológico, o que é fundamental para encararem a vida fora do útero.
Infelizmente, nem todos os bebês conseguem ser amamentados por suas mães, pelas mais variadas razões, o que faz da doação de leite materno um gesto extremamente importante para salvar vidas - principalmente no caso de nascidos prematuros.
No Brasil, a iniciativa do Banco de Leite Humano (BLH) foi estabelecida em 1998 pelo Ministério da Saúde e a Fundação Oswaldo Cruz, sendo reconhecida em 2001 pela Organização Mundial da Saúde como uma das ações que mais contribuíram para a diminuição da mortalidade infantil no mundo, na década de 90.
Segundo a pediatra e fundadora do Instituto Ery, Tiemi Yoshida, o BLH possui um papel crítico em garantir uma dieta exclusiva de leite humano aos vulneráveis neonatos prematuros. "É a solução também para suas mães, que recebem ajuda no estabelecimento de uma rotina de ordenha mamária para manutenção da lactação, o que acaba por permitir o fornecimento do próprio leite para seus filhos hospitalizados e a continuação do aleitamento após a alta hospitalar", explica a médica.
Atualmente, a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano possui 224 bancos de leite distribuídos por todo o território nacional, sendo que alguns disponibilizam o serviço de coleta domiciliar. Além disso, existem 214 postos de coleta de leite humano.
Importância do leite materno
O leite materno não só fornece os nutrientes necessários para o crescimento do bebê, mas também possui anticorpos e outras substâncias capazes de protegê-lo de uma série de doenças, como a obesidade, o diabetes e a hipercolesterolemia infantil.
Ademais, o impacto da amamentação ecoa até mesmo na vida adulta, pois está diretamente relacionado ao desenvolvimento cerebral do bebê, influenciando no desenvolvimento motor e no aprendizado como um todo.
"O bebê não precisa andar após nascer, ele será carregado por sua família, mas o cérebro precisa se desenvolver rápido, pois é a base de todo o desenvolvimento. Seu corpo cresce mais devagar, por isso o leite tem mais dessas gorduras que estimulam o desenvolvimento cerebral e menos proteína", explica a médica Tiemi Yoshida.
A especialista esclarece que o leite produzido por mães de bebês prematuros possui uma composição diferente, ao menos nas primeiras semanas, de forma a atender às necessidades específicas do recém-nascido - ele é rico em proteínas e minerais, como o sódio, e contém inúmeros tipos de gordura que o bebê pode digerir e absorver com mais facilidade.
Benefícios da doação para a mãe
Embora ainda precise de muito incentivo, a doação de leite materno não envolve qualquer efeito negativo - pelo contrário, a ação traz diversos benefícios tanto para a mãe doadora quanto para o bebê que recebe a doação, principalmente aqueles que estão em UTI neonatal.
Para a mãe, além do benefício individual em estar contribuindo para a redução da mortalidade infantil, a ginecologista e obstetra Fernanda Torras esclarece como a doação afeta seu corpo e o organismo de forma positiva. Segundo ela, a doação:
- Contribui para a redução do peso materno
- Melhora o conforto mamário
- Previne a mastite, já que a ordenha do volume excessivo impede o acúmulo de leite, evitando infecções e inflamações
- Aumenta a produção de leite na mãe, pois quanto maior o estímulo e ordenha, maior o volume da lactação.
Benefícios para o bebê prematuro
O leite doado ao BLH, depois de processado e analisado, é destinado aos bebês internados em UTIs neonatais, prematuros, com baixo peso e com doenças, especialmente do trato gastrointestinal, já que não podem ser alimentados diretamente pelas mães.
"Esses bebês não conseguem se alimentar pela boca, na sua grande maioria, devido a sua condição de saúde. Dessa forma, são nutridos por uma sonda que vai da boca ao estômago", elucida Tiemi Yoshida.
Sendo o alimento mais importante na vida do bebê, os benefícios de doar leite materno incluem:
- Maior chance de recuperação dos bebês prematuros e de terem uma vida saudável
- Menor tempo de internação na UTI e também menor tempo de respiração por aparelhos
- Aceleração da maturidade intestinal, prevenindo doenças como a enterocolite necrosante, complicação grave no intestino do bebê, muitas vezes fatal
- Prevenção de displasia broncopulmonar e sequelas pulmonares no bebê prematuro, que causam dificuldades respiratórias
- Prevenção de retinopatia da prematuridade, uma alteração no desenvolvimento da retina do bebê que pode levar a dificuldades ou perda visual
- Prevenção de doenças crônicas, como diabetes, obesidade e doenças letárgicas.
Quem pode doar?
Toda mulher saudável, com estado nutricional adequado, é uma possível doadora de leite materno. De acordo com Fernanda Torras, é importante que não se faça uso de medicamentos incompatíveis com o aleitamento ou drogas, esteja realizando tratamentos quimioterápicos e de radioterapia ou tenha doenças infecto-contagiosas.
Além disso, a pediatra Tiemi Yoshida ressalta a necessidade de realizar exames de sangue para verificação de doenças quando o cartão de pré-natal não estiver disponível. "Um litro de leite doado pode alimentar até 10 recém-nascidos por dia. E, dependendo do peso do prematuro, 1 ml é o suficiente para cada vez que for alimentado", afirma a médica.
A especialista também destaca que o banco de leite proporciona a estrutura necessária e segura para que as mulheres possam retirar o leite e ele chegue aos seus próprios bebês ou aos demais internados na UTI.