Redatora especialista na cobertura de saúde, bem-estar e comportamento.
Ficar no celular pode ser um passatempo divertido. Mas, às vezes, o excesso de tempo no smartphone, no notebook, no tablet, entre outros dispositivos eletrônicos, pode indicar um comportamento que vale a atenção. Isso porque a chamada hiperconectividade pode causar diversos problemas de saúde. Entenda, a seguir, o que isso significa, como ela afeta o nosso organismo e como aliviar o excesso de conexões e uso de tecnologia.
Hiperconectividade: o que é
O termo hiperconectividade está relacionado à necessidade de ficar conectado à tecnologia o tempo todo. Na prática, isso acontece quando não conseguimos ficar sem olhar o celular ou sentimos a necessidade de dar scroll nas redes sociais sem que haja motivo real para ficar ligado nela, entre outros comportamentos.
Dependência ou excesso?
Identificar a hiperconectividade e se há, de fato, uma pendência da tecnologia não é algo fácil.
"Não conseguimos dizer se a pessoa está dependente ou se ela está abusando, porque essa linha é muito tênue. O que sabemos é que existe essa sensação na pessoa, essa necessidade de estar sempre conectado", afirma a psicóloga Fabiane Curvo de Faria.
Para complicar ainda mais o cenário, é preciso levar em conta o momento que estamos passando. A pandemia de COVID-19, por exemplo, nos forçou a usar os recursos digitais para estarmos conectados com nossos parentes, amigos e também com o trabalho.
"Acho importante frisar isso, que neste momento estamos sendo convidados a usar mais [tecnologia]. Isso acaba, realmente, acelerando os sintomas [da hiperconectividade]", diz Fabiane.
Como a hiperconectividade pode nos afetar
O fato é que a hiperconectividade impacta diretamente o nosso organismo, principalmente quando falamos de saúde mental. Passar um tempo sem poder usar o celular, por exemplo, é algo penoso. "A pessoa chega a ficar angustiada e ansiosa", aponta a psicóloga.
A psiquiatra Maria Francisca Mauro ainda lista outros impactos que a hiperconectividade causa em nosso organismo:
- mudanças no sono
- mudança nos hábitos alimentares
- problemas oftalmológicos
- dores na nuca e pescoço (por ficarmos encurvados olhando para aparelhos eletrônicos, como o celular)
- problemas auditivos (pelo uso de fones)
- acidentes em casa, na rua ou mesmo de trânsito por ter se distraído no celular
- sedentarismo
- cansaço
- aumento da insatisfação
- bruxismo (pelo aumento da ansiedade)
Como aliviar os impactos da hiperconectividade
Pode ser complicado num primeiro momento, mas é preciso buscar limites no uso da tecnologia. Para começar, o recomendado é:
- Se desligar da tecnologia em refeições
- Controlar o tempo de uso do celular
- Fazer pausas estratégicas no dia a dia
- Fazer mais atividades ao ar livre
"Um mantra que as pessoas podem se propor é: início - meio - fim. Estabelecer pequenos objetivos e os concluir dentro de um cronograma factível consigo próprio", também recomenda Maria Francisca.
Limite de conexão: já atingimos ou isso pode piorar?
Para complicar ainda mais todo o cenário, é difícil dizer se atingimos o máximo da hiperconectividade ou se esse comportamento pode piorar. Para a psiquiatra, a sociedade, de uma forma geral, ainda está muito imatura quanto ao uso de tecnologias e a forma como ela se relaciona com esse recurso.
"Se o uso de computadores pessoais é um fenômeno dos últimos 30 anos, a internet de forma ampliada dos últimos 20 e uso dos dispositivos pessoais como os celulares de forma mais massiva acontece há, pelo menos, 15 anos, ainda estamos jovens, enquanto sociedade, quanto aos fatores que esses recursos nos beneficia e ao mesmo tempo nos aprisiona (...) O que precisamos compreender é que o 'piorar' precisa ser ressignificado para 'compreendido'", diz Maria Francisca.