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A variante Delta do novo coronavírus tem causado preocupação por ser a protagonista dos atuais casos de COVID-19 no mundo todo. Nos Estados Unidos, por exemplo, cerca de 99% dos quadros mais recentes são causados pela nova linhagem, segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Outros países, como Reino Unido, Alemanha e França, também não ficam atrás nesse quesito.
Em terras brasileiras, a variante também vem se espalhando, sendo que o Estado do Rio de Janeiro já é considerado como o epicentro dessa nova cepa. Diversas cidades de São Paulo, Paraíba, Ceará e Paraná já registraram casos de morte pela linhagem Delta - incluindo uma gestante de 42 anos, que chegou a passar por uma cesárea de emergência, mas não resistiu.
Afinal, o que essa mutação do coronavírus tem de diferente que está preocupando a comunidade científica? Entenda, a seguir, o que se sabe até agora sobre a variante Delta, além de seus sintomas específicos, suas formas de transmissão e se as vacinas atuais oferecem alguma proteção contra essa nova cepa.
O que é a variante Delta?
Identificada pela primeira vez na Índia, a variante Delta é uma das várias linhagens do SARS-CoV-2 (identificada como B.1.617.2). Assim como outras mutações - Alpha (B.1.1.7), Beta (B.1.351) e Gama (P.1) -, ela se diferencia do coronavírus original por carregar uma alteração na chamada proteína spike (ou proteína S).
Com um formato semelhante a uma coroa pontiaguda, essa proteína é uma das estruturas-chave para entender a interação do SARS-CoV-2 com o corpo humano. É ela que se conecta aos receptores ACE2 do corpo - molécula enzimática encontrada em regiões como vias respiratórias, coração e rins.
Sintomas da variante Delta
Via de regra, os sintomas da COVID-19 causados pela variante Delta são semelhantes a um resfriado forte. "Dor de cabeça, dor de garganta e coriza são os sinais mais frequentes observados nos casos reportados em um estudo realizado no Reino Unido", diz a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, membro do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
De acordo com o CDC, pacientes infectados pela Delta podem apresentar febre também. Porém, diferente do coronavírus original, não é comum a ocorrência de tosse e perda de olfato.
É importante lembrar que, embora a variante Delta provoque sintomas característicos, o exame clínico não é o suficiente para caracterizar se uma pessoa está ou não contaminada pela nova linhagem. Um teste laboratorial é a melhor técnica para essa finalidade.
Transmissão
Assim como as demais variantes de coronavírus, a Delta é transmitida pelo ar e pelas gotículas eliminadas pelas vias respiratórias. Entretanto, de acordo com o CDC, a variante Delta é duas vezes mais contagiosa que as demais. É sabido também que pessoas vacinadas continuam transmitindo o coronavírus da variante Delta.
A variante Delta é mais mortal?
Segundo a imunologista Ana Karolina Barreto Marinho, apesar de ser mais transmissível, a variante Delta não é diferente em relação às hospitalizações e mortalidade quando comparada às outras linhagens do coronavírus.
A grande questão, segundo o CDC, são as pessoas não vacinadas. Isso porque, mesmo com a vacinação em vigor (ou seja, mesmo tendo tomado uma ou duas doses de alguma vacina), nosso organismo segue transmitindo o coronavírus.
Por ser mais fácil de ser transmitida, existe uma maior chance de contaminação pela variante Delta entre os não vacinados - e, consequentemente, essa parcela da população acaba ficando mais vulnerável a todas as complicações que a COVID-19 pode provocar.
Assim, a preocupação é que a variante com alto potencial de transmissibilidade se espalhe e provoque casos graves de COVID-19 em uma população que ainda não está protegida contra o coronavírus.
A vacina protege contra a variante Delta?
Com o surgimento das variantes de coronavírus, uma pergunta que surge é se alguma vacina da COVID-19 é, de fato, eficaz ou não contra as mutações do SARS-CoV-2 - principalmente os quatro imunizantes usados, atualmente, no Brasil. O que se sabe, até o momento, é que as vacinas Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford, CoronaVac e Janssen protegem, sim, contra a variante Delta.
"O estudo inglês Public Health England aponta que duas doses das vacinas Pfizer/BioNTech ou AstraZeneca/Oxford protegem efetivamente contra a hospitalização pela variante Delta. Em números reais, a vacina da Pfizer protege 96% contra os casos mais graves da variante Delta, enquanto a da AstraZeneca tem eficácia de 92%", diz Ana Karolina Barreto Marinho.
De acordo com um estudo feito por pesquisadores do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da província de Cantão (Guangdong), a CoronaVac tem eficácia de 69,5% contra o aparecimento de pneumonias decorrentes da COVID-19 e evita em 100% os casos graves da doença causados pela variante Delta.
Já um estudo chamado Sisonke apontou que a vacina da Janssen protege contra a variante Delta. A pesquisa é desenvolvida na África do Sul e considerada a primeira feita "no mundo real", por analisar uma larga escala de pessoas - são, aproximadamente, 500 mil profissionais de saúde envolvidos. Números do estudo, divulgados pelo jornal The New York Times, mostram que o imunizante tem eficácia de 71% contra a hospitalização gerada pela variante e protege em 95% contra casos de óbito.
Vale ressaltar que pessoas que tomaram as duas doses da vacina contra a da COVID-19 (ou a dose única do imunizante, no caso da Janssen) podem desenvolver novamente a doença e não estão 100% imunes contra o vírus. Porém, essa reinfecção pelo coronavírus não é uma regra.
Prevenção contra a variante Delta
Neste sentido, a prevenção contra a variante Delta segue a receita já conhecida dessa pandemia. "Além da necessidade de avançarmos nas coberturas vacinais no país, precisamos manter o uso de máscara, higiene das mãos e respeitar os protocolos de distanciamento preconizados pelos órgãos regulatórios", indica Ana Karolina.
Atualmente, o Brasil conta com 62,37% de pessoas que receberam a primeira dose da vacina e 30,32% que tomaram as doses necessárias do imunizante (duas aplicações ou a dose única da Janssen). Para atingir a imunização ideal, é necessário chegar à taxa de, pelo menos, 70% das doses necessárias da vacina em toda a população.