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Paralisia facial, falta de apetite, fraqueza muscular e espasticidade (aumento involuntário da contração muscular na qual os músculos podem ficar mais rígidos). Você sabe qual é a relação entre esses sintomas? Todos eles são possíveis consequências de um acidente vascular cerebral (AVC)1. Esses sintomas surgem de acordo com a área do cérebro que foi afetada pelo AVC, como explica o Dr. Marcos Lange, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares.
"Por exemplo, se a lesão ocorrer na região da fala, o paciente pode ter dificuldade em falar ou entender o que as pessoas falam. Se ocorrer na região que se relaciona com o movimento do lado direito do corpo, pode ter uma perda de força deste lado".
Esses acontecimentos podem mudar completamente a vida de uma pessoa, como aconteceu com Cristina Simões, presidente da Associação dos AVCistas do Estado de São Paulo. Após sofrer um acidente vascular cerebral, em 2017, ela precisou adaptar a sua rotina.
"Eu era uma pessoa muito agitada, tinha uma carreira baseada em eventos... Tinha minha própria empresa. Após o AVC, eu tive que me adaptar ao ritmo do meu corpo. Eu faço as coisas mais lentamente. Tive que reaprender a andar e encontrar novas formas de solucionar problemas que antes eram fáceis para mim", relata.
Existem dois tipos de AVC, e cada um deles atinge o cérebro de uma maneira diferente. O AVC isquêmico, como o que ocorreu no caso de Cristina, acontece após obstrução de algum vaso sanguíneo, que causa bloqueio do fluxo de sangue para o cérebro - no caso dela, cinco vasos estavam obstruídos. O outro tipo é o AVC hemorrágico, quando há ruptura de algum vaso, provocando sangramento1.
Para identificar se o AVC afetou as funções sensoriais, motoras, cognitivas ou psicomotoras e qual o nível de comprometimento, o paciente deve ser submetido à uma avaliação, realizada por uma equipe especializada, que envolve médicos, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e psicólogos. Essa avaliação é fundamental para definir um plano de reabilitação efetivo e que ajude na recuperação do paciente1.
Quando os desafios pós-AVC surgem?
"As alterações que ocorrem no AVC, em geral, podem ser observadas já no início do quadro, e na falta de um tratamento que permita reverter estes achados, eles podem permanecer. Nestes casos, é necessário introduzir as atividades de reabilitação o mais breve possível", ressalta Lange.
Cristina Simões percebeu que teria alterações já no momento que estava tendo o acidente vascular cerebral. Hoje, após 4 anos do quadro e com reabilitação contínua, ela apresenta algumas sequelas na perna esquerda, que dificultam caminhar, no braço esquerdo, principalmente nos movimentos da mão, no riso e choro. Entre essas dificuldades, porém, a que mais prejudica sua vida é a fadiga: "eu tenho que planejar muito o que eu vou fazer para não entrar em exaustão".
Entre as complicações relacionadas ao AVC há1:
- Espasticidade, aumento involuntário da contração dos músculos, o que pode ocasionar uma rigidez muscular
- Fadiga
- Edema (inchaço por acúmulo de líquidos) das extremidades
- Dificuldades relacionadas à alimentação, como falta de apetite, recusa alimentar, dificuldade de reconhecimento visual do alimento, alterações de olfato e paladar, etc.
- Paralisia facial
- Fraqueza muscular
- Diminuição ou aumento da sensibilidade
- Alterações visuais, como perda da visão central e problemas com movimentos oculares e de processamento visual
- Limitação de atividades motoras e funcionais
- Afasia, distúrbio que afeta a forma e uso da linguagem oral e escrita.
Reaprendendo a viver
Não é exagero dizer que alguns pacientes precisam reaprender a viver após um AVC. As alterações no organismo, decorrentes do quadro, podem oferecer diversas limitações que modificam a qualidade de vida da pessoa1.
"De várias formas, desde o cuidado com ele mesmo, como vestir-se, fazer sua higiene, alimentar-se sozinho; até atividades mais complexas, como dirigir, preparar uma refeição, ir ao banco", elucida o Dr. Marcos Lange, presidente da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares.
E para cada desafio provocado pelo AVC, há um tipo específico de reabilitação. Prática essa que Cristina Simões considera fundamental. "O meu processo de reabilitação será para o resto da vida, fazendo todo tipo de fisioterapia, ginástica, academia, natação, contato com pessoas. Viver já é um processo de reabilitação", comenta.
A reabilitação engloba diferentes formas de tratamento. Para fadiga, por exemplo, a intervenção envolve técnicas de simplificação de tarefas e conservação de energia. Já para os edemas, são utilizados massagem retrógrada, banho de contraste, entre outros1. No caso da espasticidade, há o uso de medicação antiespástica oral, estimulação elétrica e aplicação de toxina botulínica A1,2.
A espasticidade pós-AVC é frequente entre os pacientes, atingindo 30% dos casos.3 Ela pode estar associada a dor, rigidez dos tecidos moles, contratura articular e postura anormal dos membros2.
"A toxina botulínica age bloqueando os receptores destes músculos, permitindo melhor qualidade dos exercícios de reabilitação. Ainda, ela é importante em situações que esta contração muscular limita a higienização de pacientes com espasticidade grave", explica o Dr. Marcos Lange.
A toxina botulínica A (TBA) também faz parte da reabilitação da Cristina. De acordo com o estudo BCause (Botulinum toxin in the treatment of Chronic post-stroke spAStic patiEnts), realizado em 10 centros de reabilitação do Brasil com pacientes com AVC há mais de 1 ano, o tratamento com TBA mostrou melhoras significativas dos sintomas da espasticidade2.
Isso porque o número de pacientes que reportaram melhoras em atividades cotidianas como caminhar, tomar banho e vertir-se, aumentou ao longo do estudo. Ao avaliar a satisfação com o tratamento entre os pacientes, cuidadores e investigadores, a pesquisa obteve mais de 70% de opiniões de pessoas que relataram 'algum benefício' e 'grande benefício' com a TBA2.
Evolução e união
Para Cristina Simões, é importante tanto ouvir quanto dar voz para pessoas com AVC. E foi com esse pensamento que ela fundou a Associação dos AVCistas do Estado de São Paulo, em 2018. Além de conscientizar a população sobre o assunto, a associação oferece grupos de apoio com ajuda psicológica para motivar as pessoas, especialmente em relação à volta ao mercado de trabalho.
Cristina Simões é responsável também pelo projeto "Aveados", um canal de Youtube que nasceu com o objetivo de ser um espaço para que as pessoas compartilhem as dificuldades que encontram na vida pós-AVC. "E aí eu acabei conhecendo muitas pessoas maravilhosas que se dispuseram a contar sua própria história [...] Coloco no ar e faço como se fosse uma nuvem para que elas percebam, no futuro, o quanto evoluíram", finaliza.
Outra iniciativa que a Associação dos AVCistas do Estado de São Paulo, a Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares, Associação Acidente Vascular Cerebral de Cuiabá e Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação fazem parte é a campanha recém lançada: Caminhos pós-AVC. Esta iniciativa é um canal que traz informações e promove a troca de experiências, dando voz aos pacientes, familiares, cuidadores e profissionais especializados para valorizar suas histórias e vivência durante a jornada de reabilitação do paciente que sofreu um acidente vascular cerebral (AVC).
Prevenção em primeiro lugar
A melhor maneira de evitar as dificuldades e consequências após o AVC é prevenindo o surgimento do quadro. Entre os fatores de risco, há hipertensão, tabagismo, alcoolismo, diabetes, sedentarismo, obesidade, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares, entre outros1.
Além de tratar ou controlar esses fatores, existem alguns hábitos que ajudam a prevenir o acidente vascular cerebral, como praticar exercícios físicos na maioria dos dias da semana, manter uma dieta equilibrada e não fumar1.
Nota: Este conteúdo foi patrocinado pela empresa Beaufour Ipsen Farmacêutica LTDA.
Referências
1 - Ministério da Saúde. Diretrizes de Atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_acidente_vascular_cerebral.pdf Acesso em 07 de outubro de 2021.
2 - Khan, Patricia et al. "The Effectiveness of Botulinum Toxin Type A (BoNT-A) Treatment in Brazilian Patients with Chronic Post-Stroke Spasticity: Results from the Observational, Multicenter, Prospective BCause Study." Toxins vol. 12,12 770. 4 Dec. 2020, doi:10.3390/toxins12120770
3 - Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Espasticidade, 2017. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-terapeuticas-pcdt/arquivos/2017/portaria_sas-sctie_2_pcdt_espasticidade_29_05_2017.pdf/view. Acessado em: 07 de outubro de 2021.
Material Informativo
Out/2021 DYS-BR-00101112