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Muita gente confunde alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e intolerância à lactose, já que, embora as duas condições sejam bem diferentes, o culpado pelo aparecimento dos sintomas é o mesmo alimento: o leite e seus derivados.
A alergologista Cristina Abud explica que a alergia é mais comum na infância, principalmente nas crianças abaixo dos três anos de idade, e está relacionada a uma resposta do sistema imune às proteínas do leite de vaca, que são vistas pelo corpo como inimigas e estimulam a produção de anticorpos, promovendo reações alérgicas.
Já os sintomas da intolerância, com maior incidência em adultos, surgem por causa da deficiência da lactase, enzima que digere a lactose - um açúcar do leite - no organismo, o que provoca uma reação intestinal. "Não se trata de um processo alérgico, já que não há mecanismos imunológicos envolvidos", aponta a especialista.
Sintomas
As doenças se manifestam de formas diferentes. Segundo Cristina Abud, enquanto a intolerância à lactose só conta com sintomas gastrointestinais, como diarreia, distensão abdominal, náusea, enjoo e empachamento, a alergia também tem reações em outras partes do corpo.
Entre os sintomas da APLV, a médica cita, além dos gastrointestinais, os cutâneos, que incluem vermelhidão, coceira e inchaço; os respiratórios, como falta de ar, chiado, aperto no peito e coriza; e os cardiovasculares, que podem envolver queda de pressão arterial.
Indicando mais uma diferença entre as duas condições, Abud menciona uma característica particular da alergia: "Existem pacientes extremamente alérgicos que, a partir do contato da pele com o próprio leite ou com cosméticos que contenham a proteína do leite, podem manifestar sintomatologia".
Além disso, ao contrário da intolerância à lactose, os sintomas da alergia à proteína do leite de vaca podem demorar para aparecer, surgindo até 24 ou 48 horas após o consumo do alimento, apesar da doença também contar com reações imediatas à ingestão, conforme explica a especialista.
Tratamentos
Como parte do tratamento da alergia, os médicos costumam pedir que os pacientes não consumam produtos que contenham o alérgeno, incluindo medicamentos e cosméticos. "Tem que tomar muito cuidado com rótulos e as várias formas da proteína do leite estar contida no alimento", alerta Cristina Abud.
Para ela, é fundamental o acompanhamento de um especialista nesse processo para a possível reintrodução do leite à dieta mais tarde, já que existe o risco de anafilaxia em casos de alergias graves quando o tratamento é mal manejado, e ele pode ser perigoso a ponto de ser fatal.
"Em relação à intolerância à lactose, o que temos de possibilidade dentro do tratamento é a reposição da enzima lactase. Hoje ela está disponível em algumas farmácias para ser ingerida cerca de 15 a 30 minutos antes de uma refeição que contenha esse açúcar", conta a alergologista, que reforça a importância de uma orientação médica devido a necessidade de checar o grau da doença antes de adotar tais medidas.
Chances de cura
"Na alergia à proteína do leite, dependendo do quadro existe cura com acompanhamento e tentativa de reintrodução alimentar", afirma a especialista. Segundo um estudo publicado no European Journal of Pediatrics, 50% das crianças deixam de ser alérgicas ao leite já no primeiro ano de vida, 70% por volta dos dois anos e 85% até os três anos de idade.
A intolerância à lactose, por outro lado, muitas vezes se perpetua para a vida inteira, diz Cristina Abud, que ainda acrescenta: "isso quando ela não está associada a um quadro viral que pode provocar uma intolerância à lactose transitória".
Vale destacar que é muito importante consultar um médico para que o diagnóstico de cada uma das doenças seja feito da maneira correta, assim como o tratamento. A alergologista pede: "No momento em que surgir a hipótese de ter qualquer uma delas, tanto a alergia quanto a intolerância, procure um especialista".