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A pancreatite nada mais é do que uma inflamação no pâncreas, órgão responsável por realizar a digestão das gorduras e carboidratos presentes na nossa alimentação, além de produzir hormônios como a insulina e o glucagon. Essa complicação pode surgir de duas maneiras: aguda ou crônica1.
As causas mais comuns da pancreatite são os cálculos biliares, o alcoolismo e a hipertrigliceridemia1. "O abuso do álcool pode causar uma agressão direta ao pâncreas, que pode evoluir, inclusive, para a necrose de parte do órgão ou até para a insuficiência pancreática", explica o cirurgião geral Bruno Pereira, um dos diretores da Clínica Surgical Medicina Integrada.
Já os cálculos biliares podem afetar o órgão da seguinte forma: o cálculo migra da vesícula para o canal principal, chamado de colédoco, provocando uma obstrução no local. Isso pode causar um refluxo de bile para dentro do pâncreas, resultando em uma pancreatite aguda biliar1.
Ainda de acordo com o cirurgião, essa produção de cálculo é mais comum em indivíduos que estão acima do peso, possuem hábitos alimentares ruins ou têm alguma doença que facilita essa condição.
"A pancreatite aguda biliar é uma causa comum de internação. Ela normalmente é mais amena do que a pancreatite alcoólica. A diferença é que a pancreatite aguda biliar precisa de uma intervenção", ressalta Pereira.
Essa intervenção consiste em realizar uma colangiopancreatografia retrógrada endoscópica, abreviada para CPRE. Esse exame abre o local da obstrução e faz com que a bile seja novamente drenada para o seu caminho de origem, "desentupindo" o canal. Após isso, é necessário apenas aguardar o tempo biológico de recuperação do pâncreas2.
Por fim, a pancreatite causada por hipertrigliceridemia está relacionada aos níveis elevados de triglicérides (gorduras) no sangue1. Independentemente do tipo, a pancreatite é uma doença grave e, quando não diagnosticada ou tratada corretamente, pode ser fatal3.
Níveis de pancreatite e tratamento
A pancreatite pode ser leve, moderada ou grave; e essa classificação define como será feito o tratamento. O primeiro tipo pode ou não ser tratado no hospital. Fica a critério do médico que realizou o diagnóstico decidir se é necessária uma internação1.
Já a moderada e a grave precisam, obrigatoriamente, serem tratadas dentro do ambiente hospitalar. Isso porque, na maioria dos casos, o tratamento inclui jejum e hidratação venosa, e existe, eventualmente, até a necessidade de internação em terapia intensiva1.
São as pancreatites graves que comumente podem levar a óbito. Por isso, elas precisam de tratamento rápido e intensivo, incluindo uma nutrição específica feita por meio intravenoso ou através de sonda1,3.
Pancreatite X SQF
Se forem recorrentes e acompanhadas de sintomas como xantomas eruptivos, dores abdominais sem explicação e alterações neurológicas e na retina, as crises de pancreatite podem indicar uma doença rara e genética que altera o metabolismo: a Síndrome da Quilomicronemia Familiar (SQF)4.
Essa síndrome é caracterizada pelo nível extremamente elevado de triglicérides na circulação sanguínea, com números acima de 1.000 mg/dL. Isso acontece porque indivíduos com SQF possuem falta de lipase lipoproteica no organismo, uma enzima que catalisa a gordura dos alimentos4.
Por causa desse déficit, o sangue fica com excesso de quilomícrons (lipoproteínas que transportam a gordura pelo organismo), e, consequentemente, os níveis de triglicérides se elevam5. Essa condição também pode provocar sangue com aparência cremosa, HDL (colesterol bom) abaixo da média e aumento do fígado e do baço4.
O diagnóstico da Síndrome da Quilomicronemia Familiar pode ser feito somente através do teste genético. Os especialistas que costumam identificar, tratar e acompanhar essa síndrome são6:
- Endocrinologista
- Cardiologista, especialmente os que trabalham na área de dislipidemias
- Gastroenterologista
- Clínico geral.
O tratamento da SQF consiste, principalmente, em uma alimentação especial, com apenas 15 a 20g de consumo de gorduras por dia1,7.
"Mas é uma dieta difícil de ser mantida ao longo da vida por ser muito restritiva. Se o paciente sai dessa dieta, ele passa mal. Pode internar com pancreatite, apresentar vômito, dor abdominal e mal estar. Então, é um quadro bastante complexo e, até então, não existe um medicamento específico disponível para tratar essa condição", destaca a cardiologista Maria Cristina Izar.
Como prevenir a inflamação no pâncreas?
A principal maneira de prevenir a pancreatite é adotando uma dieta equilibrada e a prática regular de exercícios físicos, além de evitar o consumo de bebida alcoólica1.
"A pessoa obesa certamente tem um risco maior de pancreatite aguda biliar do que o indivíduo que leva uma vida saudável e regrada do ponto de vista alimentar. A mesma coisa vale para a hipertrigliceridemia. Mas, se a pessoa tem hipertrigliceridemia de ordem genética, ela já tem que se preparar para uma possível pancreatite e se cuidar", orienta Pereira.
Referências
1 - Federação Brasileira de Gastroenterologia. Pancreatite Aguda. Disponível em: https://campanhas.fbg.org.br/pancreatite-aguda/ Acesso em 24 de setembro de 2021.
2 - Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva. Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica. Disponível em: https://sobedrj.com.br/novo/informacoes-para-pacientes/colangiopancreatografia/ Acesso em 24 de setembro de 2021.
3 - Amálio SMRA, Macedo MATV, Carvalho SMMA et al. Avaliação da mortalidade na pancreatite aguda grave: estudo comparativo entre índices de gravidade específicos e gerais. Revista Brasileira de Terapia Intensiva. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbti/a/vDJp664yxq6ZMr6bM9GZsJn/?lang=pt Acesso em 24 de setembro de 2021.
4 - Falko JM. Familial Chylomicronemia Syndrome: A Clinical Guide For Endocrinologists. Endocr Pract. 2018;24(8):756-763.
5 - Tso P, Balint JA. Formation and transport of chylomicrons by enterocytes to the lymphatics. Am J Physiol. 1986;250(6 Pt 1):G715?G726.
6 - Chyzhyk V, Brown AS. Familial chylomicronemia syndrome: A rare but devastating autosomal recessive disorder characterized by refractory hypertriglyceridemia and recurrent pancreatitis. Trends Cardiovasc Med. 2020;30(2):80?85.
7 - Izar MCO, Lottenberg AM, Giraldez VZR et al. Posicionamento sobre o Consumo de Gorduras e Saúde Cardiovascular - 2021. Arq Bras Cardiol. 2021; 116(1):160-212