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Seca, mista, oleosa... Apesar de serem definições importantes na hora de cuidar da pele, essas características não são as únicas que devem ser levadas em consideração durante a rotina de tratamentos e escolha de produtos.
Assim como as condições genéticas, a ancestralidade também é um fator de grande influência na aparência da pele. Pessoas com ascendência indígena, por exemplo, são menos suscetíveis a apresentarem estrias ou crescimento de pelos, enquanto a pele asiática é conhecida pela sua resistência ao aparecimento de rugas.
No caso da pele negra, que possui uma diversidade extrema de tonalidades, as principais características podem variar de acordo com seus subtons e quantidade de melanina produzida pelo organismo. Entretanto, o mais comum é que pessoas negras apresentem a pele do rosto oleosa, enquanto a do corpo é mais seca, exigindo cuidados específicos na hora da hidratação.
Saiba mais: Hidratação da pele negra: quais substâncias são indicadas?
Por isso, ao consultar um dermatologista, é importante que o profissional saiba lidar com as especificidades dessa pele, entendendo a influência do DNA ao propor tratamentos e cuidados. Porém, nem sempre essa é a realidade.
Falta de conhecimento sobre a pele negra
A não familiaridade de profissionais em relação à pele negra pode ser demonstrada de diferentes maneiras. Em uma consulta dermatológica, Clovis Filho relatou um comentário feito pela médica que o fez se sentir inseguro durante o atendimento.
"Durante uma consulta, a profissional me olhou e disse: 'nossa, já atendi uma menina igual a você. Morenona, com um cabelo igual ao seu'. Como se fosse algo de outra realidade para ela. Isso me causou uma insegurança e me fez perguntar se aquela pessoa realmente poderia me ajudar a cuidar do meu cabelo e da minha pele".
Esse tipo de situação pode ser provocada pela falta de discussões sobre a pele negra durante convenções e eventos dermatológicos. Segundo Katleen Conceição, médica dermatologista, os cuidados com a pele de diferentes etnias não são um assunto frequentemente debatido entre profissionais.
"Normalmente, se discute mais sobre as peles brancas. Sou pioneira em abordar e falar desse assunto [pele negra] em congressos de dermatologia, principalmente abordando o laser na pele negra", conta a especialista.
Entre as possíveis explicações para esse fator, pode estar o baixo número de médicos negros no Brasil. Segundo um estudo publicado pela Universidade de São Paulo (USP) em 2018, apenas 18% dos médicos brasileiros se declararam negros. Por outro lado, há a discussão de que a iniciativa de conhecer as características de cada etnia nem sempre precisa partir de pessoas pertencentes aos grupos raciais minoritários.
Empatia durante as consultas
Ser atendido por uma pessoa que compartilha as mesmas características que você é algo que pode fazer grande diferença durante uma consulta. "Muitos pacientes, em sua grande maioria, na minha experiência, negros, se sentem mais representados e mais à vontade para falar de queixas como 'virilha escura' e 'cabelos ressecados'. Chegam fragilizados e desejando muito serem acolhidos e ouvidos", conta Katleen Conceição.
Entretanto, o senso de empatia é um fator de extrema importância para todos os tipos de profissionais, já que é capaz de moldar a autoestima e a autoconfiança de muitas pessoas, principalmente quando o assunto envolve a estética.
"Têm algumas condições que pessoas negras são mais propensas a desenvolverem, mas, mesmo as pessoas que tinham conhecimento sobre isso, na hora da consulta, faltavam com um senso de empatia. Por exemplo, a forma como demonizavam a minha hiperpigmentação da pele por espinha", relata Clovis sobre uma de suas experiências durante consultas dermatológicas.
Situações como essa podem ser evitadas com a capacitação adequada de profissionais da área, como conta Katleen, que também é mentora na Skin of Color Society.
"Acredito que ser atendido por uma médica ou médico negro é importante devido à representatividade, mas acredito e ensino aos meus alunos para sempre terem empatia e carinho com os pacientes, independentemente da cor. Dessa forma, [os pacientes] se sentirão acolhidos sempre", finaliza a especialista.