Carolina Freitas (CRP 09 8329 - Inscrição anterior CRP 01 de 13/03/1998 a 05/12/2012) é mestre em Psicologia pela Univer...
iNa pandemia, o isolamento social foi necessário. Ficamos em casa. Ficamos no virtual. E, há pouco tempo, começamos a retornar para o presencial, com os devidos protocolos sanitários. Limpar a casa, cuidar de plantas, preparar as refeições, home office, homeschooling, compras online, videochamadas, dentre outras diversas atividades passaram a fazer parte da nossa nova realidade. Mas e a vida sexual, ficou como?
Entre cliques em botões, seguimos em busca de amores (novos e antigos):
- Pessoas voltaram a amores conhecidos: para minimizar os riscos, alguns(as) voltaram a ter contato com pessoas conhecidas, contato com pessoas mais próximas, contato com quem tem confiança
- Pessoas buscaram o autoconhecimento: o estar sozinho(a) trouxe a auto exploração e novas descobertas
- Pessoas ainda estão em busca de novos amores: abriu-se um espaço para novas conversas e possibilidades
Não há regras quando falamos em pandemia e vida sexual. Assistimos, por exemplo, ao aumento de acesso a conteúdos pornográficos e ao aumento no consumo de brinquedos sexuais. As conexões, incluindo as redes sociais, trouxeram novas possibilidades. Na procura pelo prazer, foi necessário se reinventar e reaprender a se relacionar sexualmente.
E foi na liberdade, na autonomia, que nasceu o que antes era impensável: o sexo híbrido. Aos poucos, foram surgindo novas formas de explorar a sexualidade. Pornografia, brinquedos sexuais, sexting (troca de mensagens sexuais), videochamadas sexuais, troca de nudes. Ou seja, a tecnologia foi facilitando a prática sexual de forma online, antes do encontro presencial acontecer.
O sexo híbrido traz a possiblidade das afinidades sexuais serem vivenciadas primeiro no online. Isto pode ser positivo, inclusive para quem apresenta F.O.D.A (Fear of Dating Again, que em tradução livre significa "medo de voltar a namorar").
A sigla foi criada pela cientista comportamental inglesa Logan Ury. Ela fala sobre os bloqueios e medos das pessoas voltarem a se relacionar após esses tempos de isolamento por conta da pandemia. Sentimentos que podem fazer com que a pessoa desista de ir a um encontro incluem:
- Medo de sair de casa
- Medo de se contaminar com o vírus
- Medo de ter perdido o jeito de paquerar
- Medo de qualquer aproximação mais íntima
- Inseguranças para se vestir e se arrumar para um encontro
Ah, mas e aquele abraço, aquele cheiro no cangote, aquela pegada, o gosto, o olhar nos olhos? Para evoluir para o encontro físico, há novos acordos e novos hábitos. Negocia-se, além do uso do preservativo, o teste de PCR e a carteira de vacinas, por exemplo. E também os protocolos de proteção, como nada de sintomas gripais, deixar os sapatos na porta de entrada, tomar banho ao chegar da rua, etc.
Como será no futuro? Não sabemos ainda. Mas podemos acompanhar as mudanças e ter um olhar positivo e acolhedor para as novas formas de se relacionar sexualmente. O movimento sanitário da pandemia, não antes por nós experienciado, vem estimulando o desaprender e reaprender a se relacionar sexualmente. E em revisitar seu script sexual e de forma consciente e deliberada reescrevê-lo.
Alguns dizem que estaríamos vivendo uma revolução sexual e que o sexo híbrido é uma afirmação disto. Eu acredito que as mudanças sejam uma questão de tempo. E você, concorda que o contato sexual virtual pode ajudar, de verdade, no presencial?