Redatora especialista em conteúdos sobre saúde, família e alimentação.
O que é transtorno de processamento sensorial?
O Transtorno de Processamento Sensorial (TPS) é uma condição neurofisiológica caracterizada por uma desordem na forma como o sistema nervoso e o cérebro processam as informações vindas dos receptores sensoriais. Desse modo, os sinais que chegam ao cérebro são interpretados erroneamente, caracterizando casos de hiperresponsividade e hiporresponsividade.
Hiporresponsividade e hiperresponsividade
Quando há hiporresponsividade, o cérebro responde mal ao estímulo sensorial recebido, de modo que a criança precisa de bastante esforço ou excitação para sentir o estímulo. Por consequência, é comum que ela seja mais agitada, tenha pouca resposta à dor e goste de locais barulhentos.
Já na hiperresponsividade, as informações são exageradamente interpretadas pelo cérebro. São casos em que, normalmente, a luz pode ser muito intensa, o som muito alto, um odor muito forte ou uma sensação tátil muito profunda.
"A criança não suporta alguns estímulos sensoriais e se desorganiza quando exposta a eles. É muito comum que a criança tenha hiperresponsividade a uns estímulos e hiperresponsividade a outros ao mesmo tempo", explica Ana Márcia Guimarães, membro do Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Relação entre TPS e Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
Embora muitas vezes associado ao Transtorno do Espectro do Autismo, o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 2013 (DSM5) inclui as alterações sensoriais do TPS como sempre presentes no TEA, mas não sendo exclusivas dele.
Segundo alguns estudos, existe um elevado grupo de sujeitos que não são autistas, mas que apresentam o Transtorno de Processamento Sensorial.
Causas do Transtorno de Processamento Sensorial
Casos isolados de TSI não apresentam causas conhecidas, mas a ciência acredita que o transtorno tenha uma forte base genética com interferência do meio, segundo Flávia Oliveira, pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
"Hoje a gente sabe, com os dados de epigenética, que 70% da expressão gênica tem haver com o ambiente, ou seja, com os estímulos externos", explica a especialista.
Fatores de risco
Qualquer condição que afete o sistema nervoso central precocemente pode ser um fator de risco para o Transtorno do Processamento Sensorial, segundo Ana Márcia. Essas condições incluem:
- Infecções cerebrais
- Traumas cerebrais
- Síndromes genéticas
- Transtorno do Espectro do Autismo (TEA)
- Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
- Prematuridade
- Condição genética isolada do TPS.
Incidência do transtorno
O TPS atinge entre 5% e 16% da população em geral. Em pessoas com diagnósticos específicos, como autismo ou síndrome de Down, esse índice fica entre 30% e 80%, conforme a revisão científica feita por pesquisadores das faculdades de Medicina e de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Crianças nascidas antes de 37 semanas de gravidez também fazem parte de um grupo de risco para o distúrbio.
Sintomas do Transtorno de Processamento Sensorial
A dificuldade em manusear algumas texturas é um dos principais sintomas do transtorno. É comum que as crianças se sintam desconfortáveis ou irritadas com a sensação das roupas no corpo. Nesses casos, o ideal é utilizar vestimentas sem costura e com tecidos que não causem desconforto.
O ato de brincar na areia ou sujar as mãos também pode ser comum em uma criança com o transtorno, visto que essas atividades podem gerar inputs táteis, que são mais difíceis de serem interpretados pelo cérebro.
Da mesma forma, a criança pode apresentar um maneirismo alimentar. "Chamamos de maneirismo alimentar quando há aversão a alguns alimentos, que pode estar relacionada à textura, à cor, ao sabor ou ao visual do alimento", esclarece Guimarães.
Outros sintomas do transtorno podem incluir:
- Relação de terror ou cólera quando surpreendidos ou forçados a mudar de rotina. Pessoas com TPS podem ter problemas com mudanças, como mudar de ambiente ou de moradia
- Intolerância a ruídos: nesses casos, algumas crianças podem se sentir ansiosas ou angustiadas diante de estímulos comuns, como o bater de uma porta ou latido de um cachorro
- Problemas em usar as habilidades motoras finas ou grossas.
A depressão ou a ansiedade podem ser comorbidades com o TPS, mas não possuem relação direta entre eles, de acordo com Ana Márcia.
"A pessoa só evoluiu para ansiedade ou depressão por causa do sofrimento que o transtorno causa, mas, se tratado precocemente, essas comorbidades podem ser evitadas", diz a especialista.
Como é feito o diagnóstico?
Segundo Ana Márcia Guimarães, o diagnóstico é clínico, feito com base na história dos sintomas no desenvolvimento da criança e com a avaliação clínica feita pelo médico ou pelo terapeuta ocupacional. Não há necessidade de exames complementares para diagnosticar o transtorno.
Como funciona o tratamento?
O tratamento de Transtorno de Processamento Sensorial é feito com sessões de terapia ocupacional e costuma ser bastante efetivo em pacientes com o transtorno. Por meio de atividades e brincadeiras, a terapia ocupacional irá ajudar a criança com suas habilidades sensoriais e cognitivas. Dependendo do caso, Flávia Oliveira esclarece que a terapia comportamental pode ser indicada para lidar com sintomas de depressão ou de isolamento.
Sob orientação do terapeuta, muitos outros profissionais podem estar envolvidos no tratamento dessa condição.
Como o transtorno afeta a convivência social?
O Transtorno de Processamento Sensorial pode interferir diretamente no convívio social da criança, que pode apresentar comorbidades emocionais, como ansiedade, depressão, bullying e isolamento. Algumas podem ter dificuldades em se relacionar com outras pessoas ou fazer parte de um grupo.
"Imagine uma criança que tem náusea com diversos estímulos de paladar. Você fica muito limitado e isso gera muita angústia e dúvida na mãe referente à saúde da criança, à nutrição e ao desenvolvido - não só físico, como mental", explica Flávia Oliveira.
É muito comum que, devido aos sinais, o transtorno seja visto como uma simples birra da criança. No entanto, é importante que os pais estejam atentos e busquem ajuda médica por conta dos atrasos no desenvolvimento e na aprendizagem que a criança com TPS pode apresentar.
Referências
Ana Márcia Guimarães (CRM-GO 7003), membro do Departamento de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Flávia Oliveira (CRM 113123), pediatra pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBD).