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Durante os dois anos da pandemia do coronavírus, muitos foram os impactos que a COVID-19 provocou na vida de todos. Porém, a parcela feminina da sociedade brasileira parece ter vivido esse período de uma forma ainda mais intensa. Pelo menos é o que sugere um levantamento realizado pelo Google especialmente para o Dia Internacional da Mulher, celebrado em 08 de março de 2022.
Só nos últimos 12 meses, termos como "cansada psicologicamente" e "cansada mentalmente" se destacaram entre as pesquisas da plataforma. Os dados mostram ainda que, desde 2015, o termo "cansada", especificamente no gênero feminino, é mais procurado do que "cansado" pelos usuários no Brasil. Para complementar, nos últimos 12 meses, a pesquisa pela expressão "mãe cansada" também teve um crescimento abrupto no buscador.
Burnout parental: o desafio de ser mãe na pandemia
Os dados mostrados pelo Google se unem a outros levantamentos já divulgados durante a pandemia, evidenciando que as mães brasileiras de crianças e adolescentes formam um dos grupos mais fragilizados emocionalmente em decorrência das dificuldades enfrentadas no cotidiano.
Aliás, não é a primeira vez que o cansaço materno vira tema de discussão no Brasil. Em 2018, as pesquisadoras Isabelle Roskam e Moïra Mikolajczak realizaram um estudo global sobre um tema que já são pioneiras - o burnout parental, caracterizado pela exaustão mental em relação à maternidade ou paternidade.
Embora o termo burnout esteja relacionado ao estresse crônico e duradouro, a síndrome relacionada a aspectos parentais é um fenômeno diferenciado e com diferentes formas de manifestação.
Conforme apontou a pesquisa, realizada na Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, 1,3% das mães brasileiras já enfrentavam uma situação de esgotamento naquele período (cerca de dois anos antes da pandemia). Com o cenário do coronavírus, os quadros se agravaram significativamente.
De acordo com uma pesquisa do Instituto FSB, feita a pedido da companhia seguradora SulAmérica e divulgada em novembro de 2021, 62% das brasileiras afirmam que a saúde emocional piorou ou piorou muito nos últimos dois anos de pandemia.
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Mulheres estão mais cansadas do que nunca
Embora o trabalho doméstico sempre tenha sido um fator de cansaço e exaustão para a mulher, a pandemia agravou essa situação com uma dupla jornada de trabalho mais intensa, sem chance para descanso - principalmente no caso de quem precisou trabalhar de forma remota.
"Acumulou dentro de casa as funções maternas, as funções do lar, ajudar os filhos nas questões escolares e o trabalho remoto. Sem contar que, em muitos casos, ainda havia o marido que também ficou em casa fazendo o serviço dele remotamente", aponta Marilene Kehdi, psicóloga especialista em atendimento clínico.
Segundo a especialista, por questões culturais, a mulher possui muita dificuldade em pedir ajuda e demonstrar que está no limite. Consequentemente, toda a sobrecarga cai em seus ombros. Além disso, em algumas situações, a mulher simplesmente não conta com a ajuda do parceiro para dividir as tarefas e responsabilidades da família, acumulando para si todos os deveres.
E isso não acontece apenas com as mães: mesmo as mulheres que não possuem filhos também tiveram que enfrentar esse tipo de problema em casa. Conciliar os cuidados constantes com a casa junto com o trabalho ou estudos em casa forma uma rotina desgastante que leva inúmeras mulheres a uma sobrecarga emocional durante a pandemia. Não à toa, os quadros de esgotamento mental e burnout se intensificaram nesse período.
Burnout feminino em alta
A síndrome de Burnout, também chamada de esgotamento profissional, é um distúrbio emocional caracterizado pelo estado de estresse extremo e crônico, normalmente resultante de situações de trabalho desgastante. Sintomas como alterações no sono, irritabilidade e desânimo acentuado para realizar tarefas diárias são os mais comuns nesses casos.
De acordo com Marilene Kehdi, pessoas com altos níveis de estresse, esgotamento físico e mental e que possuem sobrecarga de função também podem vir a desenvolver a síndrome. Ademais, é importante apontar que quadros de burnout podem evoluir para depressão, transtornos de ansiedade e síndrome do pânico.
"Quando a pessoa se entrega totalmente às funções dela, ela fica sobrecarregada. É o acúmulo de coisas para fazer, pode ser o que for! Isso pode levar à exaustão física e mental. Então, pode ser por questões pessoais ou por questões profissionais", explica a especialista.
Autocuidado é chave para o bem-estar
O primeiro passo para reconhecer os sinais de esgotamento e buscar ajuda é não ignorar os sentimentos e inquietações. Negligenciar e reprimir os problemas do cotidiano pode levar a sintomas físicos sérios, como desmaios, crises de choro e ataques de pânico.
"É importante que as mulheres entendam que dividir tarefas, pedir ajuda faz muito bem para elas. Isso é um ato de autocuidado, é prestar atenção nas emoções e sentimentos que mais estão se destacando no dia a dia", informa Marilene.
Além disso, segundo a especialista, é importante que a mulher esteja atenta a seu estilo de vida e saiba respeitar os próprios limites. Logo, é importante não exigir demais de si mesma e estar atenta às emoções e sentimentos que mais prevalecem.
"Porque, se ela não fizer isso, mesmo após a pandemia, ela vai continuar nessa situação. Então, é fundamental, para preservar a saúde física e mental, que a mulher modifique o estilo de vida, que tenha uma rotina mais organizada, mais saudável, e que priorize o autocuidado", finaliza Marilene.
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