Possui graduação em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade Santo Amaro (1993). Mestrado e Doutorado em Medi...
iAtualmente, estima-se que há 50 milhões de pessoas convivendo com a doença de Alzheimer no mundo. Segundo a Alzheimer's Disease International, esse número pode chegar a 74,7 milhões em 2030 e 139 milhões em 2050, devido ao envelhecimento da população.
No Brasil, dados de estudos com a participação da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam haver 1,85 milhão de pessoas com alguma forma de demência. Além disso, cerca de 4% dos idosos brasileiros tem a doença de Alzheimer, somando um total de 1,3 milhão de pessoas.
Em 10 anos, teremos 50% mais pessoas vivendo com Alzheimer, chegando em 2 milhões de brasileiros. Lembrando que a estimativa atual é que mais de 50% das pessoas vivendo com Alzheimer não são diagnosticadas.
Assim, em meio ao Setembro Roxo, criado para conscientizar a população sobre o Alzheimer, esclarecemos algumas das principais dúvidas sobre a doença neurodegenerativa que afeta tantas famílias ao redor do mundo.
1. Demência e Alzheimer são a mesma coisa
Mito. O Alzheimer é o tipo mais comum de demência, mas existem várias outras formas, como a vascular e a de corpúsculos de Lewy, por exemplo. O Alzheimer é uma doença altamente complexa, cujas causas ainda não são totalmente conhecidas.
No entanto, sabe-se que características fisiológicas, como o acúmulo das proteínas beta-amiloide e tau no cérebro, e até mesmo índices socioeconômicos, sendo o principal deles a baixa escolaridade, podem ter ligação com a origem da doença.
2. Alzheimer começa antes do aparecimento de qualquer sintoma
Verdade. No passado, se compreendia que a pessoa com doença de Alzheimer era aquela que já manifestava sintomas, mas estudos demonstraram que a condição começa décadas antes do início da apresentação clínica, com perda de memória e confusão mental, por exemplo.
Hoje, entendemos o Alzheimer como um processo contínuo, composto por uma fase pré-clínica assintomática, seguida pelo chamado comprometimento cognitivo leve (CCL). O principal fator que pode indicar o CCL são alterações de memória sem comprometimento da funcionalidade no dia a dia. Nas fases da demência, fica estabelecido um impacto nas atividades instrumentais e básicas da vida diária.
3. Perder a memória e se confundir são sintomas normais da velhice
Mito. Esquecer datas de aniversário e compromissos, confundir o caminho para casa, repetir perguntas, abrir mão do “filtro” na hora de responder e outros comportamentos são, muitas vezes, interpretados como sinais normais da velhice. Porém, podem indicar o início de um problema neurológico.
É importante procurar um profissional, seja um clínico geral, geriatra, psiquiatra ou neurologista, para identificar a origem desses sintomas e tentar ajudar, ainda que não seja nenhuma demência. Há outras questões que podem influenciar no surgimento de sintomas semelhantes, como distúrbios do sono e depressão, e é importante identificar o problema para iniciar um tratamento adequado, e até para eliminar a hipótese de um distúrbio neurológico.
É importante para o indivíduo e sua família ficarem atentos a sinais mais prolongados envolvendo perda de memória recente, disfunção na linguagem e alterações de humor e comportamento, procurando um profissional assim que as mudanças se tornarem perceptíveis.
Não podemos dizer que é normal uma pessoa que sempre teve memória boa começar a se esquecer de coisas simples, por exemplo. Existe um certo estigma em torno da velhice, que não só gera um sub diagnóstico de problemas neurológicos, como também prejudica a saúde mental dos idosos. O “normal” deveria ser incentivar e esperar um envelhecimento saudável, na medida do possível, para cada um.
4. Quem não é idoso também pode desenvolver o Alzheimer
Verdade. Pessoas com menos de 65 anos também podem desenvolver demência. Isso, apesar de incomum, não é raro, e os sintomas podem começar antes mesmo dos 60 anos. Nesses casos, normalmente, há um componente genético mais forte que explica o desenvolvimento do problema neurológico.
5. Não faz diferença diagnosticar o Alzheimer cedo, pois não existe cura
Mito. Um diagnóstico inicial é importante para que a orientação e os cuidados adequados aconteçam, mantendo a doença mais controlada. O uso de medicações e um acompanhamento multidisciplinar envolvendo fonoaudiólogos, psiquiatras, psicólogos, fisioterapeutas, assistentes sociais, nutricionistas, entre outros profissionais, pode ser recomendado, a depender do caso.
Confirmar o diagnóstico também pode reduzir a ansiedade e fornecer mais segurança para a pessoa e sua família. Uma pesquisa sobre o valor do conhecimento, encomendada pela Alzheimer’s Association, indicou que mais de 90% dos participantes gostariam de saber o diagnóstico se seus sintomas fossem devidos ao Alzheimer.
6. É possível se prevenir do Alzheimer
Verdade. É mais cômodo ingerir um comprimido do que mudar os próprios hábitos, mas a questão da prevenção a partir de um estilo de vida saudável é essencial. São doze os chamados fatores de risco conhecidos e estudados, que poderiam prevenir até 40% das demências caso solucionados. Entre os principais, estão: baixa escolaridade, problemas de audição, sedentarismo, tabagismo, álcool, dislipidemia e hipertensão arterial. Sono, solidão e desesperança também estão sendo estudados como fatores de risco do Alzheimer e de outras demências.