Livia Campagnari é formada em Medicina pela Universidade Santo Amaro (2012). Ela fez residência em Clínica Médica no Hos...
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Depois de ver alguém com um piercing no corpo, você já ficou com vontade de colocar um também? Pois saiba que, embora esse seja um acessório comum, ele precisa de bastante cuidado e atenção, principalmente nos primeiros meses após a perfuração, para evitar problemas de saúde.
“Todos os piercings têm potencial de complicação”, alerta a dermatologista Livia Campagnari Ribeiro de Macedo, da Vibe Saúde. Isso acontece porque, quando se fura a pele, o corpo entende que o local sofreu uma lesão, algo parecido com um machucado, dando início a um processo de cicatrização - que pode ser atrapalhado por diversos fatores, incluindo infecções e traumas repetidos.
“Muitos acham que piercing é algo simples, mas como se trata de um procedimento invasivo, quando não realizado ou cuidado da forma correta, pode acarretar danos à saúde", afirma Rafaela Ribeiro, piercer do iTatto Club.
Por essa razão, antes de mais nada, é importante encontrar um profissional capacitado, que trabalhe com materiais de qualidade, descartáveis ou esterilizados no equipamento de autoclave, para fazer uma perfuração segura e de menor risco.
Cuidados com o piercing
Um profissional bem preparado deve saber informar quais são os cuidados corretos para cada tipo de perfuração, porque, sim, eles variam, mas há uma regra geral: os piercings precisam ser limpos diariamente com sabonete líquido neutro e, antes da cicatrização, é fundamental hidratar de duas a três vezes por dia a região com soro fisiológico.
Nos primeiros cinco dias após o procedimento, o ideal é não fazer atividades físicas, uma vez que o excesso de movimentação pode impactar o local perfurado, provocando sangramentos, aumento do inchaço e novos traumas. Evitar mar, piscinas e saunas também é importante para prevenir contaminações.
“Cada perfuração tem suas particularidades e precisa de acompanhamento para que cicatrize de forma saudável”, reforça a piercer Rafaela. Segundo ela e a dermatologista Livia Campagnari, a cicatrização completa varia muito de acordo com cada organismo e o local da perfuração, mas, no geral, leva de três a seis meses. A joia só deve ser trocada depois desse período.
A médica ainda destaca que esse processo pode demorar um pouco mais dependendo da condição clínica e nutricional da pessoa. Isso está relacionado à existência de doenças, como diabetes, ao tabagismo, a uma alimentação não saudável e até mesmo ao uso de certas medicações que podem aumentar o tempo de cicatrização.
Confira quais cuidados especiais devem ser tomados com cada tipo de piercing:
Piercing na orelha
A principal recomendação é não dormir em cima da área perfurada, uma vez que isso pode prolongar o período de cicatrização ou até mesmo mudar a angulação do piercing. Além disso, para evitar rasgos na pele, é importante tomar cuidado para não enroscar a joia em máscaras, fones de ouvido, roupas, óculos, etc.
Piercing no nariz
Deve ser suspenso o uso de protetores solares, cremes e outros cosméticos no intuito de facilitar a cicatrização. Outro cuidado essencial é assoar o nariz, lavar e secar o rosto com bastante cautela para evitar novos traumas no local perfurado.
Piercing no umbigo
As restrições para esse tipo de piercing envolvem não dormir de bruços por pelo menos 15 dias e evitar roupas de cintura alta até a cicatrização. Tudo para não pressionar o umbigo, que está mais vulnerável.
Piercing na boca
Nesse caso, a higiene bucal é uma das partes cruciais para uma boa recuperação. O ideal é escovar os dentes cuidadosamente sempre após as refeições, evitar a troca de fluidos corporais durante o período de cicatrização e não fumar nos primeiros 30 dias depois que o piercing foi colocado.
Piercing na língua
Como essa é uma região muito sensível, é fundamental ficar longe de bebidas alcoólicas, cigarro e troca de fluidos corporais ao longo da cicatrização, principalmente nos primeiros 30 dias. Já a limpeza deve ser feita com escovação e antisséptico bucal sem álcool após todas as refeições. Ingerir alimentos gelados pode ajudar a reduzir o inchaço.
Piercing na sobrancelha
Os cuidados com esse tipo de perfuração são bem parecidos com os de piercing no nariz. Sendo assim, é importante secar e lavar o rosto com cuidado, bem como suspender o uso de maquiagens, cremes e protetores solares até que a área esteja cicatrizada.
Piercing no mamilo
Para diminuir o risco de contaminação, deve-se usar sutiãs e tops limpos todos os dias. Outro fator essencial é evitar dormir de bruços e tomar cuidado para não enroscar a joia em roupas ou deixá-la entrar em contato com fluidos corporais antes do procedimento completar 30 dias.
Evite certas perfurações
Mesmo que sejam tomados todos esses cuidados, alguns tipos de perfurações devem ser evitados pelo risco que oferecem à saúde. É o caso de piercings feitos no dedo, um local muito exposto a sujeira e atritos, estando em constante movimentação — o que dificulta a cicatrização e favorece lesões graves por enroscamento.
Outro piercing contraindicado é o snake eyes, que é capaz de atrapalhar a movimentação da língua por prender dois músculos diferentes na mesma joia. “Minimamente, isso poderia causar fala arrastada, dificuldade para comer, além de danos aos dentes e à própria estrutura da língua”, conta Rafaela Ribeiro.
Esses são alguns motivos pelos quais é essencial pesquisar sobre o assunto e buscar profissionais qualificados quando surgir a vontade de fazer uma perfuração, já que eles sempre saberão explicar o que é mais seguro.
Dá para prevenir queloide?
A resposta é não, já que, de acordo com Rafaela Ribeiro, o aparecimento de queloide não depende de fatores externos, mas de uma predisposição do organismo, podendo acontecer mesmo quando todas as recomendações são seguidas corretamente.
A boa notícia é que a queloide se trata apenas de um excesso de tecido cicatricial e, portanto, não constitui um problema de saúde em si que possa causar dor ou secreção - apesar de, geralmente, ocasionar um desconforto relacionado à aparência por ser saliente, avermelhada, rosada ou escura.
A queloide, no entanto, não deve ser confundida com um granuloma, que é mais comum e pode se assemelhar a uma espinha. Ele funciona como um isolamento de bactérias para evitar que elas se espalhem pelo organismo. Entre suas causas mais comuns, Rafaela cita a manipulação do piercing com mão suja e o uso de joias de baixa qualidade.
Quando procurar um médico
Diante da suspeita de queloide, granuloma ou qualquer outro problema na região perfurada, o melhor a se fazer é entrar em contato com o profissional que fez o piercing e tentar entender o que causou o problema. “Se for necessário, ele irá fazer o encaminhamento para um médico”, esclarece Rafaela Ribeiro.
Em casos de inflamação, pode haver muita dor, inchaço, vermelhidão e até secreção no local. Para o tratamento, dependendo da situação, é necessário retomar os cuidados do começo ou até retirar o piercing. Por isso, é fundamental consultar um especialista. Com uma avaliação médica adequada, será possível definir o que é melhor para cada caso e resolver o problema o mais rápido possível.