Formada em psicologia pelo Centro Universitário Paulistano e em psicanálise pelo Centro de Estudos em Psicanálise.Especi...
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Não existe maneira fácil de terminar um relacionamento. Na maioria das vezes, a pessoa que não tomou a decisão ficará magoada e terá o coração partido. É por conta disso, inclusive, que muitos preferem um jeito “mais fácil”, porém muito danoso, de encerrar uma relação: o ghosting.
O termo é derivado da palavra “ghost”, que significa “fantasma”, em inglês. Ele se refere à prática de terminar um relacionamento cortando a comunicação com a outra pessoa, sem oferecer maiores explicações, e dando um verdadeiro “sumiço” da vida dela.
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“O ghosting é tido, hoje, como uma estratégia de término de relacionamento que se tornou muito comum com o uso da tecnologia e com o surgimento das relações virtuais”, explica a psicóloga Raquel Baldo. “Ele acontece quando uma das pessoas do relacionamento some de repente e é mais comum em relações recentes, em que as pessoas se conhecem há pouco tempo e só tiveram alguns encontros”, completa.
Na maioria dos casos, o ghosting acontece de forma virtual: a pessoa para de responder mensagens, atender ligações, deixa de seguir nas redes sociais e de interagir com as publicações. Tudo isso sem dar explicações do que a motivou a tomar essa decisão.
Os danos que o ghosting causa à saúde mental
Na visão de Raquel, o ghosting se popularizou por ser uma maneira “fácil” de terminar um relacionamento. “A comunicação virtual, da mesma forma que facilitou o contato com as pessoas, também facilitou os términos e os sumiços, porque existe essa ideia de que você está distante da pessoa e, por isso, causará menos danos emocionais a ela”, analisa.
Porém, isso é uma ilusão. O ghosting é, inclusive, a forma mais tóxica de terminar um relacionamento, segundo um estudo publicado no periódico Cyberpsychology. De acordo com os pesquisadores, a prática foi considerada pelos entrevistados como inesperada e injusta e “representa uma experiência excludente (ou seja, de rejeição) mais ameaçadora” do que os outros tipos de término.
“A pessoa que sofre o ghosting entra em um nível de angústia que chamamos de ‘angústia de desamparo’. Ela se sente como um objeto desmerecido, desvalorizado e passa a questionar o valor da própria existência e o seu valor social”, explica Raquel.
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Segundo a psicóloga, a pessoa que foi vítima de um ghosting enfrenta uma grande confusão, já que não tem conhecimento do que fez a outra pessoa se afastar. Nessa posição, ela pode se culpabilizar pelo ocorrido.
“Ela tenta perseguir, insistir demais no outro, buscar o outro e ser atendida, porque precisa de uma resposta para se redimir consigo mesma, porque alimenta a ideia de que foi ela que causou algum problema”, explica. “A pessoa também pode achar que algo sério aconteceu com o par e tentar justificar imaginando uma situação onde ela não seria o problema”, completa.
Como superar e começar um novo relacionamento?
Nessa angústia de desamparo, causada pelo sumiço do par, quem sofreu o ghosting pode sentir dificuldades de iniciar novas relações, tanto as amorosas quanto as de amizades e, até mesmo, profissionais. “Ela rompe com outras relações ou não se permite se aprofundar nelas porque passa a desconfiar e ter medo, já que ela não quer viver novamente aquela sensação de desmerecimento”, diz Raquel.
É claro que cada um é cada um e pode haver pessoas que reagem das mais diversas formas. Por isso, a forma de superar o ghosting também vai variar de pessoa para pessoa. Não existe fórmula mágica, nem uma única resposta para esse dilema.
“No geral, o que ajuda a se recuperar é voltar a sentir segurança em si mesmo, se sentir amparado”, afirma Raquel. Mas de que forma isso pode ser feito? Buscando ajuda. “Seja profissional, de um psicólogo, ou da família, amigos, pessoas com as quais você possa se sentir acolhido, pessoas que tenham empatia com a sua dor, com a sua angústia, que vão ter o manejo adequado para te respeitar e não te forçar”, exemplifica a psicóloga.
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Ou seja, cercar-se de pessoas que realmente se importam com você e que são capazes de oferecer o amparo que, de certa forma, foi perdido com o ghosting, é uma forma de se fortalecer e reestabelecer após o sumiço da pessoa desejada. “Para poder se recuperar e voltar a se sentir bem, a pessoa precisa resgatar dentro dela a potência de vida, seu lugar de valor, de merecimento e saber que é amada”, diz.
Além disso, Raquel explica que é importante entender que se uma pessoa foi irresponsável afetivamente, não quer dizer que outra fará o mesmo. De maneira geral, o caminho é cuidar da ferida e permitir que outras pessoas ajudem nesse processo.
Cuidado para não cometer o “ghosting” como vingança
Durante o processo de superação do ghosting, é preciso tomar cuidado com uma armadilha bastante comum: fazer o mesmo com outra pessoa. “Na maioria das vezes, isso acontece de forma inconsciente, como quem se vinga. É um pensamento de ‘se fizeram isso comigo, eu também vou fazer’. É importante esse alerta porque pessoas machucadas acabam machucando também”, ressalta Raquel.
Por isso, ao iniciar uma nova relação, a comunicação deve ser primordial desde o início. “É interessante tentar estabelecer diálogos, conversas e deixar claro para o outro que você prefere saber das situações e ter conversas, mesmo que seja desagradável ou gere uma tensão, porque isso leva à honestidade na relação”, orienta a psicóloga.
Dessa forma, também é possível evitar novos casos de ghosting. “Se puder deixar claro para outra pessoa que jogar aberto e ser honesto é fundamental para você, isso pode facilitar para que ela repense como agir”, finaliza. Por fim, vale relembrar: a comunicação é a base de um relacionamento saudável.