Médico urologista formado em medicina pela Universidade Federal do Paraná em 1991, realizou Residência médica em Urol...
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O anticoncepcional masculino já pode ser uma realidade nos próximos anos. Chamado de RISUG (sigla em inglês para Inibição Reversível do Esperma Sob Controle), o método está em fase de estudos, com previsão de liberação em 2023.
Com o foco na inibição do processo ovulatório desde a sua criação, nos dias atuais, apenas opções anticoncepcionais voltadas para o público feminino podem ser encontradas. Porém, a grande carga hormonal e efeitos colaterais dos anticoncepcionais fizeram com que novas alternativas fossem debatidas.
Assim, a pesquisa liderada pelo engenheiro biomédico Sujoy Guha é focada na criação de um anticoncepcional masculino que não só inibe a produção de espermatozoide, como também pode bloquear a transmissão de HIV.
Como funciona?
Fernando Meyer, médico urologista, explica que o RISUG foi formulado como um polímero (macromoléculas) oclusivo para esterilizar indivíduos por injeção única. Além disso, a técnica pode ser revertida a qualquer momento após a oclusão do vaso.
O medicamento é injetado em formato de gel diretamente na região responsável por levar os espermatozoides até o sêmen. Após 72 horas, o RISUG provoca um tipo de “estresse iônico” nos espermatozoides, o que causa a alteração no pH e uma série de mudanças na sua estrutura, os tornando incapazes de fertilizar os óvulos.
“Ou seja, injetamos essa substância dentro do canal deferente (canal que leva o espermatozoide do testículo para dentro da próstata, onde ele se mistura com esperma e é ejaculado). Quando o homem tem a relação sexual, esse espermatozoide dentro da vagina vai ter um movimento de subir pelo colo do útero até fazer a fecundação no óvulo. E essa substância injetada nesse canal (que é o canal que cortamos para fazer a vasectomia) tem uma carga positiva”, conta o médico.
Normalmente, o espermatozoide tem uma carga negativa. Dessa forma, a substância vai neutralizá-lo, o deixando imóvel. “Ele não vai ter capacidade de, quando ejaculado, progredir até dentro do útero e chegar na trompa para fazer a fecundação. Esse é o mecanismo de ação: é uma substância que vai neutralizar o espermatozoide, deixando-o imóvel para que ele não tenha capacidade de realizar a fertilização”, explica Fernando.
Eficácia do método
Até o momento, o RISUG está na fase III de estudos - considerada a fase final. Durante o processo, Fernando conta que seis meses após o início dos testes, cerca de 6,7% dos indivíduos apresentaram azoospermia (ausência de espermatozoides no sêmen) após a injeção do gel.
“A eficácia contraceptiva foi de 99,02% com 0,3% de falha do método e 0,98% de falha geral na eficácia do medicamento”, diz. A pílula anticoncepcional, por exemplo, se usada de maneira absolutamente correta, tem a eficácia de 99,8%.
Por ainda estar sendo estudado, não há uma faixa etária definida ou restrições para o uso do anticoncepcional. Além disso, apesar de ser um potencial medicamento antirretroviral, ainda são necessárias análises mais profundas sobre a ação da injeção contra IST’s (Infecções Sexualmente Transmissíveis).
Chegada ao mercado
Apesar de promissor, ainda são necessários novos testes e análises para que o RISUG seja liberado para o público. Ainda, há profissionais de saúde que questionam a eficácia do método, o que pode levar à realização de pesquisas específicas em cada país.
“Visto estar em estudos clínicos ainda, não temos previsão de chegar ao Brasil de forma definitiva. Lembrando que todos os novos medicamentos e substâncias necessitam de passagem pela ANVISA”, ressalta Fernando.