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Depois do lançamento da pílula antirressaca no Reino Unido, agora é a vez do Brasil ter sua própria “solução” contra os efeitos negativos do consumo excessivo de álcool. O produto, chamado NOVVO, chegou ao mercado brasileiro em abril deste ano e funciona como um suplemento alimentar que promete acabar com os sintomas da ressaca com a ingestão de três comprimidos antes de começar a beber.
A pílula brasileira foi idealizada pelo CEO e fundador da NOVVO, Felipe Rebelatto, após um happy hour agitado. Ao acordar no dia seguinte com uma “incrível sensação de bem-estar”, em vez da dor de cabeça e do enjoo comuns de ressaca, o empresário pensou no que poderia ter causado o efeito reverso da bebedeira.
“Listei tudo o que comi e bebi no dia e na noite anterior: as proteínas, os drinks, a água, os suplementos de performance e decidi repetir aquele ‘ritual’ em outras ocasiões e, novamente, acordei novo”, explica Rebelatto em release institucional divulgado à imprensa.
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Com isso, decidiu reunir todas as informações e começou a estudar as causas e os sintomas da ressaca, além de participar de seminários e palestras sobre o assunto e contratar cientistas para trabalharem no desenvolvimento de um suplemento para evitar a ressaca.
Após descobrir que um ingrediente natural poderia ser o responsável pela sensação de bem-estar, Rebelatto passou a oferecer e a testar a fórmula com amigos e familiares, recebendo a validação de 82% das pessoas que provaram o produto.
A partir disso, o empreendedor foi a fundo no projeto, passando a trabalhar em conjunto com laboratórios estadunidenses e com cientistas especializados em biomateriais, toxicologia e genética, a fim de aprimorar as características do produto.
Em 2016, a patente foi elaborada e registrada. Em 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu a anuência e o processo de lançamento foi iniciado. O resultado final é um suplemento alimentar composto de Vitamina C, Vitamina E, complexo B, L-cisteína e quitosana.
Pílula britânica x pílula brasileira: quais as diferenças?
Em julho deste ano uma pílula chamada Myrkl foi lançada no Reino Unido e causou uma grande euforia por prometer reduzir os efeitos do álcool por até 12 horas após o consumo. Desenvolvida pela farmacêutica De Faire Medical em parceria com o Instituto de Ciência e Saúde da Pfützner, da Alemanha, a pílula deve ser ingerida ao menos duas horas antes de começar a beber.
Porém, o produto britânico e o brasileiro possuem mecanismos de ação diferentes. Para entender essa diferença, é preciso, primeiro, compreender como a ressaca acontece: ao ser consumido, o álcool é decomposto pelo fígado em acetaldeído, que produz o ácido acético no corpo, composto que está por trás dos sintomas da ressaca.
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A pílula britânica é composta de duas bactérias: a Bacillus coagulans e a Bacillus subtilis, além do aminoácido L-Cisteína. Juntos, esses componentes decompõem o álcool em água e dióxido de carbono, garantindo que o fígado não produza acetaldeído e ácido acético.
Já o suplemento brasileiro é composto por vitaminas e substâncias que são capazes de auxiliar o organismo a eliminar os aldeídos do sistema circulatório, ajudando na recuperação após a ingestão de álcool. A L-cisteína, também presente no NOVVO, junto com as vitaminas do complexo B, ajudam a eliminar e a neutralizar toxinas, além de melhorarem as funções imunológicas e gastrointestinais.
O suplemento brasileiro contra ressaca é realmente eficaz?
“Essas substâncias [presentes no NOVVO] podem ajudar em sintomas como dor de cabeça, náusea e fadiga, pois atuam como antioxidantes e são anti-inflamatórias”, explica Paula Pires, endocrinologista e metabologista pela Universidade de São Paulo. “Trata-se de um suplemento alimentar, mas ainda sem estudos que comprovem a sua eficácia diretamente ou que essas substâncias nos protegem diretamente dos efeitos tóxicos do álcool”, enfatiza a especialista.
Por outro lado, a fabricante afirma que, por dois anos, foram feitos estudos para verificar a efetividade dos componentes utilizados na pílula. No entanto, a pesquisa ainda não foi publicada.
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Em relação à pílula Mrkyl, um estudo pequeno foi publicado na revista científica Nutrition and Metabolic Insights, realizado com 24 participantes divididos entre o grupo placebo e o grupo que recebeu dois comprimidos do suplemento de uma a 12 horas antes da ingestão de álcool.
Na pesquisa, foi observada uma redução de 70% da quantidade de álcool no sangue uma hora após o consumo da bebida no grupo que recebeu a pílula. “A crítica a esse estudo é que tem um número pequeno de participantes, sendo eles brancos e saudáveis, ou seja, não tem uma grande diversidade. Além disso, eles ingeriram apenas duas taças de vinho, então, não se sabe se essa medicação teria efeitos em uma grande quantidade de álcool”, comenta Tassiane Alvarenga, endocrinologista e metabologista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabolismo (SBEM).
Como evitar os sintomas desconfortáveis após a bebedeira?
Enquanto ainda não há comprovações científicas fortes de que as pílulas antirressaca são capazes de evitar os sintomas desconfortáveis da ressaca, a melhor estratégia para se sentir bem é adotar alguns métodos antes e durante o consumo de álcool.
“Toda vez que for beber, se hidrate. Beba muita água, dois ou três copos para cada copo de bebida alcoólica. Alimente-se antes, durante e depois de forma saudável. Durma bem, não dirija após beber e lembre-se: todo excesso faz mal e devemos sempre buscar o equilíbrio”, orienta Tassiane.
Além disso, a endocrinologista Paula também acrescenta: “De nada adianta banho frio, café, chás, produtos com cheiro forte ou qualquer outra medicação caseira. O importante é hidratação, carboidratos e bastante repouso. Sucos, água-de-coco e isotônicos vão repor não só a água, mas também os sais minerais e as vitaminas perdidas”, completa.
A profissional também faz um alerta em relação a medicamentos que reduzem os sintomas de ressaca ou que prometem não gerar sintomas. “Além de não funcionarem bem como prevenção da ressaca, esses medicamentos ainda podem estimular o indivíduo a beber mais, pois o mesmo passa a achar que está protegido contra os efeitos maléficos do consumo exagerado de álcool”, finaliza.