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Apesar de ser ineficaz para o tratamento da COVID-19 e ser contraindicada pelas autoridades sanitárias, a Ivermectina foi usada por 79,5% dos brasileiros ao serem infectados pelo coronavírus. A informação é de um levantamento produzido pelo Instituto Global de Saúde de Barcelona (ISGlobal), que analisou dados de 23 países, incluindo o Brasil, representando mais de 60% da população mundial.
O estudo foi publicado na revista científica Nature e mostra que, em todo o mundo, 27% das pessoas disseram ter tomado Ivermectina ao sentirem os primeiros sintomas de COVID-19. No entanto, as autoridades sanitárias de todo o mundo, incluindo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não recomendam o uso do remédio para o tratamento da doença, já que diversos estudos já comprovaram que ele é ineficaz para COVID-19.
Para o trabalho, foram entrevistadas mil pessoas de cada um dos países participantes. Foram eles: África do Sul, Alemanha, Brasil, Canadá, Cingapura, China, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Estados Unidos, França, Gana, Índia, Itália, Quênia, México, Nigéria, Peru, Polônia, Rússia, Suécia, Turquia e Reino Unido.
Os entrevistados tiveram que responder um formulário formado por 30 questões, que foi desenvolvido por um painel de especialistas. As perguntas eram relacionadas ao recebimento de uma dose de reforço da vacina da COVID-19 ou sobre a vontade de tomar o reforço quando estivesse disponível e se houve uso de medicamentos para tratar a doença, por exemplo.
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Além dos dados sobre o uso de medicamentos contraindicados para COVID-19, o estudo também revelou que a aceitação global das vacinas contra a doença aumentou em 5,2% entre 2021 e 2022. Neste ano, 79,1% dos entrevistados disseram estar dispostos a se vacinar. Ano passado, essa porcentagem era de 75,2%.
Entretanto, oito países, entre eles o Brasil, estão na contramão dessa tendência: por aqui, houve uma queda de 3,3% na aceitação das vacinas contra COVID-19. Entre os que também estão nessa lista, há o Reino Unido e a China (ambos com 1% de queda na aceitação) e a África do Sul (com 21,5% de queda).
Ivermectina: qual é a indicação correta do medicamento?
O Ivermectina é um vermífugo indicado para o tratamento de doenças causadas por vermes ou parasitas, como elefantíase, lombriga, sarna e piolhos. Sua ação se dá por meio da paralisação da musculatura desses parasitas e vermes, eliminando-os do corpo.
No entanto, durante a pandemia de COVID-19, o uso do Ivermectina e de outros medicamentos sem eficácia comprovada para o tratamento da doença, como hidroxicloroquina e azitromicina, foi incentivado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e por profissionais de saúde alinhados a ele. Com isso, a venda desses remédios - que passaram a ser chamados de “kit-COVID” ou “tratamento precoce” - disparou.
A fabricante da Ivermectina, a farmacêutica Merck, chegou a divulgar um comunicado oficial, em fevereiro de 2021, ressaltando que o medicamento não é recomendado para o tratamento da COVID-19. Segundo a empresa, nenhuma pesquisa científica apresentou evidências que comprovem a eficácia do vermífugo no tratamento da infecção causada pelo novo coronavírus.
A Merck também afirmou que a análise feita por especialistas identificou o seguinte:
- Não há nenhuma base científica em estudos pré-clínicos sobre um efeito terapêutico potencial do medicamento contra COVID-19;
- Nenhuma evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com o diagnóstico de COVID-19;
- Há uma preocupante falta de dados de segurança na maioria dos estudos.
Medicamento indicado para tratamento para COVID-19 já está disponível no Brasil
Atualmente, já existem medicamentos com eficácia comprovada para o tratamento da COVID-19. É o caso do Paxlovid, antiviral oral produzido pela Pfizer. O medicamento foi aprovado para uso emergencial pela Anvisa em março de 2022 e a sua comercialização iniciou neste mês.
O uso do remédio é indicado para o tratamento da COVID-19 em adultos que não requerem oxigênio suplementar, ou seja, que apresentem as formas leve e moderada da doença e que tenham ao menos um fator de risco de progressão para quadro grave. O antiviral demonstrou, em estudos clínicos, que reduz em até 89% a possibilidade de hospitalização ou morte pela doença.
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A venda no mercado privado está sendo realizada pela SAR e pela 4bio, empresas especializadas em fornecer medicamentos em todo território nacional. Além disso, o Paxlovid também está disponível para a população elegível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde outubro de 2022. O público que pode ter acesso ao medicamento é: imunossuprimidos a partir de 18 anos e idosos com 65 anos ou mais de idade, que apresentem quadros leves a moderados, sem necessidade de suplementação de oxigênio.