Psicóloga formada pela Universidade Estácio, com pós-graduação em Psicanálise pela Universidade Veiga de Almeida, pós-gr...
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Um relatório divulgado em 2016, pela ONG Save The Children, apontou que o Brasil é o pior país da América do Sul para meninas viverem em termos de oportunidades e de desenvolvimento. Segundo a organização, o Brasil apresenta números elevados de gravidez na adolescência e de casamento infantil.
Dados levantados pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam ainda que meninas entre cinco a 14 anos passam 160 milhões de horas por dia a mais em atividades domésticas não remuneradas em comparação a meninos na mesma faixa etária. Essa realidade compromete o acesso à educação, ao desenvolvimento, além de reduzir as oportunidades de lazer e de socialização.
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Nesse cenário, incluir as crianças no movimento de empoderamento feminino é essencial para garantir um futuro mais igualitário e seguro para as próximas gerações de mulheres. “O Brasil ainda é um país muito machista e essa banalização da mulher está tão naturalizada na sociedade que já estamos com olhar viciado e não paramos para questionar”, afirma Talitha Nobre, psicóloga do Grupo Prontobaby.
A psicóloga infantil defende ser necessário, cada vez mais, falar sobre empoderamento feminino infantil. “Os pais precisam criar seus filhos para respeitarem as mulheres, assim como é necessário desde cedo empoderar essas meninas para que elas possam se construir para além desses rótulos reducionistas. Se não trabalharmos isso na infância, esse cenário não vai mudar no futuro”, reflete.
O que é empoderamento feminino?
Empoderamento é uma palavra derivada do inglês “empowerment”, que significa o ato de conceder ou dar poder a si próprio ou a outra pessoa. Esse termo foi resgatado e adaptado para o português para dar nome ao movimento social de luta pelos direitos da mulher e igualdade de gênero.
De maneira geral, o empoderamento feminino é o conjunto de ações tomadas por mulheres para que elas não sejam inferiorizadas pelo seu gênero, seja no ambiente de trabalho, seja em casa. Afinal, estima-se que 27% das mulheres de 15 a 49 anos já passaram por algum tipo de violência doméstica na vida, segundo pesquisa publicada pela The Lancet.
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Além disso, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres ganham cerca de 20% menos do que os homens.
Para a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), a luta pelo empoderamento feminino e igualdade de gênero é essencial para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país, além de melhorar a qualidade de vida da sociedade como um todo.
Por que o empoderamento feminino infantil é importante?
Incluir as crianças no movimento de empoderamento feminino é essencial para garantir uma mudança de cenário no futuro. “O Brasil ainda é um país muito machista e essa banalização da mulher está tão naturalizada na sociedade que já estamos com olhar viciado e não paramos para questionar”, afirma Talitha.
A psicóloga infantil defende que, desde cedo, o assunto seja abordado com os pequenos. “Os pais precisam criar seus filhos para respeitarem as mulheres, assim como é necessário desde cedo empoderar essas meninas para que elas possam se construir para além desses rótulos reducionistas. Se não trabalharmos isso na infância, esse cenário não vai mudar no futuro”, reflete.
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Em um primeiro momento, pode até parecer que o assunto é muito delicado para ser abordado com crianças. Porém, a desigualdade de gênero e padrões de pensamento e comportamento machistas prejudicam meninas desde a infância.
Uma pesquisa publicada pela revista Science, por exemplo, aponta que 30% das meninas entre seis e sete anos se sentem menos inteligentes do que os meninos. Essa é uma das constatações que demonstram a importância e a necessidade do empoderamento das garotas na infância.
“A construção do feminino é feita de maneira inconsciente desde o nascimento da mulher”, comenta a psicóloga Talitha. “Há uma influência do patriarcado, da repressão e da submissão da mulher ao homem. Toda essa construção, desde a infância, pressiona a mulher a um lugar de responsabilização. Enquanto o menino pode brincar, se sujar e se jogar no chão, a menina tem que se comportar, sentar direito, ser mais concentrada e responsável”, completa.
Com essa responsabilidade atribuída desde pequena, a mulher cresce acreditando ser a única responsável pelo relacionamento, pela criação dos filhos e pelo cuidado com a casa. “Existe todo um peso em torno da mulher e isso, de certa forma, inibe a construção subjetiva do feminino. E quando uma mulher ousa se construir fora desses padrões, normalmente é julgada pela sociedade”, afirma.
Como criar meninas empoderadas? Veja essas dicas importantes
Não é uma tarefa fácil criar meninas empoderadas, porque é um desafio que vai no sentido contrário da dinâmica do movimento patriarcal. Mas com algumas mudanças de atitudes e de olhar, é possível trazer o empoderamento para a realidade das meninas.
“Para essa mudança, é necessário, antes de mais nada, um olhar dos pais para o singular. Olhar para a criança, independente do sexo ser feminino ou masculino, porque ali tem um sujeito com sua singularidade, sua própria personalidade, necessidade e habilidades individuais”, explica Talitha. Veja algumas dicas para o empoderamento feminino infantil:
1. Permita que a menina expresse a sua personalidade
Cada menina tem sua singularidade e personalidade e, por isso, a ideia de feminino deve ser construída individualmente, de acordo com essas características. “Para algumas mulheres, a maternidade é a saída para o enigma do feminino, para outras, é a descoberta profissional”, explica a psicóloga. “Assim, desde cedo é necessário que os pais permitam que as meninas se construam uma a uma, a partir da sua singularidade”, completa.
Para isso, é fundamental permitir que a criança tenha um espaço de fala, para conhecer suas próprias emoções e validá-las. “Para a construção de crianças empoderadas, é necessário investimento. Por exemplo, ao negar algo à criança, é importante que os pais expliquem por que negaram. Isso vai permitir que a criança compreenda e amplie seu repertório psíquico e construa sua própria organização mental sobre o que é certo e errado”, esclarece.
2. Permita que a criança tome as próprias decisões
Outra dica fundamental para que a menina consiga, desde cedo, construir sua própria personalidade, sem estereótipos, é permitir que ela possa tomar as próprias decisões, no que for possível. Por exemplo, permitir que ela escolha o que vestir é um ótimo começo.
“Descobrir desde cedo que a criança não é uma extensão da mãe é fundamental para que ela construa sua própria identidade. A criança é um ser único e como tal deve ser respeitada e incentivada a descobrir sua própria identidade”, afirma Talitha.
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3. Mantenha um diálogo sincero
Abordar assuntos delicados, como violência sexual e violência doméstica, nem sempre é fácil para as crianças. Mas o diálogo é um caminho possível para que elas compreendam que esses são perigos reais e que a menina deve ter autonomia de seu próprio corpo, desde sempre para sempre.
“Esse lugar da criança como objeto, como alguém que deve sempre obedecer o adulto, reduz sua capacidade psíquica e não permite que ela construa seu próprio referencial do que pode ou não pode permitir”, explica Talitha.
“Então, conversar sobre sexualidade, trabalhar a autonomia da menina em relação ao próprio corpo, explicar que o corpo é dela e não do outro e que ninguém pode tocá-la sem permissão, são alguns movimentos importantes para o empoderamento desde a infância”, elenca a psicóloga.
4. Ensine os meninos a respeitarem as meninas
A educação em torno da igualdade de gênero e do empoderamento feminino não deve ser restrita apenas às meninas. Os meninos também devem ser ensinados a respeitar a mulher e a construir um olhar sobre elas que não seja de submissão.
“Os pais precisam criar seus filhos para respeitarem as mulheres. Ensinar, desde cedo, aos meninos que eles devem respeitar as meninas e evitar comentários de cunho machista”, explica Talitha.
Parece óbvio, mas muitas atitudes machistas são inconscientes. “Sexualizar a criança, o que, muitas vezes se dá através de uma brincadeira inofensiva, também contribui para a perpetuação dessa cultura”, finaliza.