Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina do ABC (1978) e doutorado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da U...
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Uma nova pesquisa mostra que 75% dos brasileiros que consomem álcool de forma abusiva acreditam que possuem um hábito de consumo moderado; apenas 13% reconhecem que bebem muito e que precisam mudar esse padrão. Os dados são do estudo “Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2023”, publicado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) na última quarta-feira (26).
A pesquisa busca compreender com que frequência e intensidade os brasileiros maiores de 18 anos bebem, assim como o perfil dos consumidores (sexo, faixa etária, renda, classe social, raça, religião e tamanho da cidade). Além disso, o estudo também procurou entender o que os entrevistados consideram beber com moderação e como classificam o próprio hábito de beber.
Para definir o que é consumo moderado de álcool e o que é considerado abusivo, o CISA considera a quantidade de doses consumidas em um único dia. No Brasil, a dose padrão de álcool equivale a 14 gramas de álcool puro. Esse valor corresponde a 350 mL de cerveja, 150 mL de vinho ou 45 mL de destilado (vodka, uísque, cachaça, gin ou tequila).
Para o CISA, o consumo de álcool é considerado moderado quando não passa de duas doses em um único dia ou de 14 doses por semana, para homens, e de uma dose em um único dia ou de 7 doses por semana para mulheres. Já o consumo abusivo é caracterizado pelo consumo de quatro doses ou mais em pelo menos uma ocasião no último mês.
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A pesquisa foi feita a partir da coleta de dados em domicílio, encomendada pelo CISA para o Ipec - Inteligência em Pesquisa e Consultoria. Foram entrevistadas 1.983 pessoas, sendo a maior parte (52%) mulheres, a partir de 18 anos, das classes socioeconômicas A, B, C, D e E.
Os entrevistados tiveram que responder um questionário com perguntas relacionadas à frequência em que consumiam bebidas alcoólicas, a quantidade de doses consumidas e quantas doses bebiam em uma única ocasião (como happy hour, jantar, festa ou jogo).
Quem é o consumidor de álcool no Brasil?
De acordo com a pesquisa, 55% dos entrevistados responderam que não bebem, enquanto 27% e 17% foram categorizados como consumidores moderados e abusivos, respectivamente. Dos que não bebem, a maior porcentagem é das mulheres (64%). Já entre os consumidores moderados e abusivos, a maior parte é composta pelo público masculino: 31% e 23%, respectivamente, contra 24% e 12% das mulheres, nessa ordem.
A faixa etária mais jovem, entre 18 e 24 anos, é a que possui menor porcentagem de abstêmios (13%), ou seja, que não bebem. Já a faixa etária seguinte, de 25 a 34 anos, é a que possui maior porcentagem de consumidores moderados e abusivos.
Em relação à frequência do consumo de álcool, entre os que consomem bebidas alcoólicas, 20% afirmam ingerir uma vez por semana ou a cada 15 dias; 14% ingerem uma vez por semana ou menos; 7% de duas a quatro vezes por semana e apenas 3% consomem cinco vezes ou mais.
Frequência de consumo abusivo de álcool
A pesquisa mostra que 33% dos entrevistados consomem seis ou mais doses, ou seja, possuem consumo abusivo de álcool uma vez por mês ou menos; 20% consomem uma vez por semana ou a cada 15 dias; 12% consomem de duas a quatro vezes por semana e 5%, de cinco ou mais vezes por semana.
Desse grupo, a faixa etária de 60 anos ou mais é a que pratica consumo abusivo com maior frequência: 17% afirmam consumir seis ou mais doses de duas a quatro vezes por semana e 9% o fazem cinco vezes por semana ou mais.
Por outro lado, os brasileiros parecem não perceber que consomem álcool de forma abusiva. Entre os entrevistados que abusam do álcool, quase metade (47%) respondeu que considera seu consumo moderado e 28% desse mesmo grupo afirmam que bebem de forma moderada e só passam dos limites eventualmente.
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Existe um termo para o hábito de beber abusivamente em uma única ocasião: Binge drinking, em inglês, ou “Beber Pesado Episódico (BPE)”, em português. Esse é um comportamento muito comum em happy hours ou em outros eventos sociais, como festas e churrascos. Apesar de ser episódico, o hábito está relacionado a maior risco de danos à saúde.
“Beber grande quantidade de álcool em uma única ocasião está relacionado a um maior risco de prejuízos imediatos, como amnésia alcoólica, quedas, envolvimento em brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido e intoxicação alcoólica”, escreve Arthur Guerra, psiquiatra e presidente-executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) em seu artigo publicado no MinhaVida.
Apenas 13% do grupo que consome álcool de forma abusiva reconhecem que bebem muito e que precisam mudar seu padrão de consumo. Já 11% reconhecem que bebem muito, mas não veem problema nisso.
Aumenta o número de internações e óbitos entre mulheres relacionadas a álcool
Outro dado que chamou a atenção no estudo publicado pelo CISA foram as taxas de morte e de internações entre as mulheres, que aumentaram 7,5% e 5%, respectivamente, entre 2010 e 2021, quando comparadas às taxas por 100 mil habitantes.
Essas taxas respondem por 23,6% do total de óbitos e por 29% das hospitalizações no país por esse motivo. As mortes e internações femininas relacionadas ao álcool se concentram na faixa etária acima dos 55 anos (71,2% e 44,2%, respectivamente).
Por outro lado, entre os homens, foi registrada queda de 8% das mortes e de 13% das internações. Na população geral, houve redução de 4,8% e 8,8%, respectivamente, após pico de mortes no primeiro ano da pandemia de COVID-19.
O consumo de álcool em excesso está associado a alterações na função renal, como diminuição da capacidade dos rins de filtrar o sangue, e ao maior risco de doença renal crônica. "O álcool também inibe o hormônio antidiurético (ADH), que regula a quantidade de água eliminada, afetando assim a capacidade de manter a quantidade certa de água no corpo", escreveu Arthur Guerra em outro artigo publicado recentemente no MinhaVida.