Graduada pela Faculdade de Medicina de Santo Amaro (FMSA), da Organização Santamarense de Educação e Cultura (1981). Rea...
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Que a amamentação possui diversos benefícios já conhecidos tanto para o bebê, quanto para a mãe, você já sabe. Porém, os benefícios da amamentação não param por aí e vão muito além do que você, talvez, possa imaginar!
O leite materno é repleto de macro e micronutrientes e, também, de microorganismos que desenvolvem papéis fundamentais para a construção da microbiota intestinal do bebê e para o desenvolvimento do sistema imunológico do recém-nascido, que ainda é muito imaturo.
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Um estudo, publicado na revista científica Frontiers in Nutrition, decidiu investigar mais a fundo o que tem na composição do leite materno que faz ele ser até chamado de “ouro líquido”. Os pesquisadores revisaram diversos estudos já publicados sobre o assunto e destacaram funções extraordinárias presentes no materno.
O MinhaVida leu o estudo e, com a ajuda da pediatra Lélia Cardamone Gouvêa, membro do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), listou as principais descobertas. Confira, a seguir, cinco benefícios da amamentação que você, talvez, ainda não conheça:
1. Protege contra doenças gastrointestinais
Segundo o estudo, o leite humano é composto por diversos macronutrientes, entre eles as proteínas - e uma das principais encontradas no leite materno é a caseína. Esse componente é importante para a formação de coágulos ou coalhada no estômago, e isso é fundamental para inibir a aderência da bactéria H. Pylori na mucosa gástrica.
Mas, afinal, por que é importante evitar a H. Pylori? “Ela é uma bactéria envolvida no desenvolvimento de gastrite e úlcera péptica, tanto no adulto, quanto na criança”, afirma Lélia.
E tem mais: o leite humano também é rico em oligossacarídeos conhecidos como HMOs que, segundo o estudo, estão relacionados a maior presença de bifidobacterium no intestino do bebê. “Essas bactérias promovem uma produção anaeróbica de ácido, que reduz o crescimento intestinal de patógenos”, explica a pediatra.
O que isso quer dizer na prática? “As fezes do bebê são mais ácidas e isso é ótimo, porque os germes patogênicos, que podem causar diarreia e outras complicações gastrointestinais, não aguentam a acidez”, completa.
Além disso, o leite também protege contra outros microrganismos, como o rotavírus, giárdia, shigella e E. coli, causadores de doenças gastrointestinais caracterizadas pela diarreia, febre e vômitos. Estudos, como o publicado na Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil e no periódico BMC Public Health, mostram que o aleitamento materno exclusivo até os seis meses tem maior poder de reduzir a incidência e a gravidade da diarreia infantil em comparação com os bebês que foram alimentados por fórmula infantil.
2. Protege contra alergias
O estudo recente também reforçou algo que a ciência já vinha evidenciando: a amamentação exclusiva durante seis meses também pode reduzir alergias, incluindo as respiratórias e as alimentares.
De acordo com o trabalho, o leite materno é uma fonte rica em IgA (imunoglobulina A), que são fatores anti-inflamatórios e células imunologicamente ativas que induzem a proteção a antígenos e desenvolvem uma defesa imunológica mais robusta contra patógenos.
“Isso significa que crianças que são amamentadas têm menos respostas alérgicas, menos bronquite, rinite e outros quadros alérgicos. O leite materno traz esses fatores para impedir e retardar a exposição a patógenos até que o bebê tenha imunidade melhor”, explica Lélia.
3. Protege contra infecções por vírus
Lembra dos oligossacarídeos (HMOs) que falamos anteriormente? Eles têm outra importante função no organismo do bebê. Segundo o estudo, esses componentes modulam a imunidade do recém-nascido e têm o potencial de imitar os receptores virais - células nas quais os vírus se ligam em uma infecção para causar danos - e bloquear a adesão dos vírus nas células-alvo verdadeiras.
“Eles bloqueiam os ataques de antígenos aos receptores virais presentes na mucosa intestinal e, com isso, conseguem impedir a infecção”, acrescenta a pediatra. Explicando em outras palavras: esses componentes, presentes no leite materno e que são transmitidos para o bebê através da amamentação, imitam as células do organismo que são alvo dos vírus, enganando-os e, assim, retardam ou evitam que uma doença viral verdadeira aconteça.
Um estudo mais antigo, publicado em 1993 pela revista científica Pediatrics, já havia mostrado esse poder da amamentação na prevenção de infecções. Segundo a publicação, dos 1.013 bebês acompanhados durante o primeiro ano de vida, aqueles que foram amamentados exclusivamente por, pelo menos, quatro meses tiveram 50% menos episódios de otite média em comparação com aqueles que não foram amamentados.
4. Possui função anti-inflamatória e antibacteriana
Outro componente que o estudo descobriu ser encontrado em altas concentrações no leite humano é a lactoferrina. Essa é uma proteína com diversas funções, como propriedades antimicrobianas, anti-inflamatórias, imunomoduladoras (ou seja, regulam o sistema imunológico) e prebióticas.
Segundo os pesquisadores, a lactoferrina ajuda a controlar doenças potencialmente fatais que podem atingir o intestino dos recém-nascidos. “Isso faz com que o leite tenha efeito anti-inflamatório e anti-bacteriano. Ele inibe o desenvolvimento da bactéria e ainda modula a ação das citocinas [proteínas produzidas em resposta ao estímulo de um antígeno], que se ligam ao ferro e impede que bactérias usem esse nutriente presente no leite”, esclarece Lélia.
A especialista citou, ainda, um estudo, publicado no Journal of Tropical Pediatrics, que observou que o leite materno protege contra infecções do trato respiratório, ou seja, que afetam o nariz e o pulmão. De acordo com os dados da pesquisa, havia dez vezes menos bactérias patogênicas na garganta de bebês sadios que foram amamentadas do que aquelas que receberam fórmula.
5. Protege contra diabetes e doenças cardiovasculares
Por fim, mas não menos importante, o estudo recente publicado no Frontiers in Nutrition observou que a amamentação também protege contra doenças crônicas não transmissíveis. É o caso do diabetes e de doenças cardiovasculares. Segundo os pesquisadores, o aleitamento materno influencia nos níveis de HDL (colesterol bom) e reduz o colesterol ruim (LDL).
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Além disso, a amamentação também pode reduzir a pressão arterial e crianças que foram amamentadas por pelo menos seis meses, tiveram pressão arterial mais baixa do que aquelas que nunca foram amamentadas ou que receberam leite materno por menos de seis meses. Para somar, foi observado que a amamentação prolongada também pode reduzir o risco de desenvolver obesidade, asma, eczema, doença celíaca e diabetes tipo 2 ao longo da vida.
É por essa razão que o aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida da criança faz tão bem e deve sempre ser incentivado, afinal, é assim que o bebê recebe nutrientes fundamentais, fica com a imunidade mais forte e melhora ainda mais o vínculo com a mãe.