É uma psicóloga, empreendedora e mentora que tem direcionado o caminho de muitas mulheres para a independência emocional...
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Na noite de sábado (11), a modelo e apresentadora Ana Hickmann registrou um boletim de ocorrência contra seu marido, Alexandre Correa, por violência doméstica. No relato aos policiais, a modelo afirmou que foi pressionada contra a parede pelo esposo, além de ter sido ameaçada de ser agredida com uma cabeçada e ter o braço pressionado por uma porta.
Em entrevista ao Splash, do UOL, Alexandre admitiu a agressão contra Ana Hickmann. “Quando eu vi aquela nota, eu entrei em total desespero e neguei. Mentiu? Menti. Ponto. Ou eu omiti o fato? Omiti. Eu estava numa estrada, desesperado, desnorteado”, afirmou.
O caso representa milhares de outras ocorrências de violência doméstica. Só no Brasil, foram registrados 245.713 casos em 2022, de acordo com o Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública. No mesmo ano, foram solicitadas 522.145 medidas protetivas de urgência, um aumento de 8,1% em relação a 2021 (480.717).
Como identificar um relacionamento abusivo e a violência doméstica?
É difícil para a vítima identificar a relação abusiva que leva até os casos de agressões físicas e verbais. Alguns sinais, no entanto, podem ser observados.
“Em um relacionamento abusivo, existem restrições, um desequilíbrio de poder e táticas manipuladoras. Por exemplo, toda vez que a mulher discorda dele, o parceiro pode fazer tratamento de silêncio; ele pode diminuir as conquistas dessa mulher, ele mente compulsivamente e, geralmente, afasta a mulher da família e amigos”, elenca Najma Alencar, psicóloga, escritora e mentora de mulheres.
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A dependência emocional também é um sintoma do relacionamento abusivo e é o que faz com que a vítima tenha dificuldade de sair desse ciclo violento e insatisfatório. “A mulher sente um grande vazio, tem medo de estar sozinha, aceita migalhas de afeto, o humor muda de acordo com a quantidade de atenção que recebe”, completa a psicóloga.
Como quebrar esse ciclo e se emancipar da dependência emocional?
O ato de denunciar o marido, realizado por Ana Hickmann, demanda coragem e autoconhecimento. Isso porque a mulher vítima de um relacionamento abusivo só conseguirá se emancipar ao ter consciência do que está a afligindo.
“O que existe por trás dessa dependência emocional? É um trauma? Uma insegurança? Para a mulher se emancipar, ela precisa reconhecer e aceitar essa dependência”, explica Najma.
A psicóloga criou um método chamado de “Jornada da Independência”, dividido em três pilares: a autocrítica, a autoestima e a autonomia. Ela explica o que prega cada um deles:
- Autocrítica: aprender a calar a voz interna crítica e desmotivadora que te faz paralisar e substituir por uma voz impulsionadora, segura e confiante
- Autoestima: desenvolver a valorização, melhorar o seu merecimento e entender que não dá para viver de migalhas
- Autonomia: liberdade em gerir livremente a vida, tomando as próprias decisões e escolhas
As pessoas ao redor da vítima também são fundamentais no processo de identificação de um relacionamento abusivo e de auxílio da vítima. “É delicado ajudar uma vítima, pois nem sempre ela está disposta a sair do ciclo de abusos, pois possui inúmeros bloqueios emocionais que a levam a não enxergar condutas abusivas”, explica Gab Saab, psicóloga jurídica e neuropsicanalista.
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Porém, existem alguns meios de ajuda. “Sugerir terapia psicológica é de grande auxílio, também acredito em canais informativos, livros e até palestras. As pessoas podem enviar um link de um canal ou presentear com um livro. Na medida que a vítima aceita, é possível ter uma conversa sobre o assunto”, acrescenta a especialista.
Mas lembre-se: é importante não forçar a vítima a falar sobre o assunto. “Se ela não estiver preparada, ela tende a se afastar da pessoa que deseja ajudá-la. É importante observar os sinais”, completa.
O conhecimento também é saída
“Quando a vítima começa a estudar o assunto, consegue identificar a relação abusiva na família, no vizinho, mas demora até que ela compreenda sua própria vivência abusiva, já que ela normaliza o que não é normal”, explica Gab Saab.
A especialista é autora do livro “Abuso”, em que ajuda a identificar e enfrentar diversos tipos de convívios marcados pela violência física, psicológica e financeira. Gab também foi vítima de um relacionamento abusivo grave, mas agora está livre e ajuda outras mulheres a encontrarem a mesma saída.
“Quanto mais a vítima se conscientizar, através de estudos, leituras e depoimentos de outras vítimas, mais ela se familiariza, pois o comportamento abusivo é padrão e as histórias se repetem”, explica a psicóloga. “Quando o companheiro tratá-la mal, controlar finanças ou fazer piadinhas depreciativas, ela começará a trazer para a consciência o que, até então, era inconsciente”, completa.
Como denunciar um caso de violência doméstica?
Apesar de ser uma etapa difícil e muito temida pelas vítimas de violência doméstica, é fundamental que a denúncia seja feita. O caso de Ana Hickmann pode servir, inclusive, de inspiração e motivação para outras mulheres na mesma situação. Os passos para denunciar uma agressão são:
- Chame a polícia (190, da Polícia Militar, ou 197, do Disque Denúncia, ou, ainda, o Ligue 180, da Central de Atendimento à Mulher)
- Registre a ocorrência logo após a agressão, se possível. As lesões que estão visíveis podem servir como provas
- Colabore com a polícia, dando detalhes do ocorrido e, se preciso, faça exame de corpo de delito
- Se possível, apresente testemunhas e imagens que comprovam o que aconteceu
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Vale lembrar que as Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM) funcionam 24 horas por dia, inclusive em feriados e finais de semana. O Poder Público é obrigado a fornecer acompanhamento psicológico e jurídico à mulher vítima de violência.
As DEAMs também podem oferecer medida protetiva de urgência à vítima e, caso seja solicitada, a polícia tem até 48 horas para enviar o pedido ao juiz, que tem o mesmo prazo para responder ao pedido. A mulher não precisa estar acompanhada de advogado para realizar essa solicitação.
De acordo com a Lei Maria da Penha, também é possível que outras pessoas, como amiga, vizinha ou familiar, façam o registro da ocorrência. Ou seja, é possível seguir com o processo penal mesmo que a vítima não dê queixa.