Médica oncologista formada pela Faculdade de Medicina do ABC (FMABC). É membro titular da Sociedade Brasileira de Cancer...
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O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum entre os homens no Brasil, perdendo apenas para o câncer de pele não melanoma. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram estimados 71.730 novos casos em 2022¹.
Quando diagnosticado precocemente, ou seja, em fase inicial, o tratamento de câncer de próstata tem maior chance de ser bem sucedido, além de evitar que o tumor se desenvolva e avance². No entanto, essa é uma doença silenciosa. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, podem ser confundidos com outras condições de saúde1,2,3.
Por isso, é importante consultar o urologista regularmente e investir em exames de rotina e de rastreamento, principalmente entre aqueles que possuem fatores de risco para a doença1,2,4.
A seguir, vamos explicar tudo sobre os sinais de alerta para o câncer de próstata, principais fatores de risco, exames que ajudam a rastrear e detectar o tumor precocemente e as formas de tratamento. Confira!
Quais são os sinais de alerta para o câncer de próstata?
Como falamos, na maioria das vezes, o câncer de próstata pode ser assintomático, ou seja, não causa sintomas visíveis, principalmente em estágio inicial. Porém, alguns sinais de alerta podem ser suspeitos da doença e valem uma investigação com urologista3. É o caso de:
- Dificuldade para urinar
- Fluxo de urina fraco (diminuição no jato de urina)
- Vontade frequente de urinar, especialmente à noite
- Dor ou queimação ao urinar
- Sangue na urina
- Sangue no sêmen
- Dor ao ejacular
- Dor nas costas, quadris e pélvis1,2,3,5
No entanto, esses sintomas também podem indicar outras condições de saúde benignas, como a hiperplasia da próstata (aumento da glândula, que afeta metade dos homens com mais de 50 anos) e a prostatite (inflamação da próstata)2.
Por isso, ao notar alguns desses sintomas, é fundamental buscar ajuda médica e realizar exames para investigar se há ou não câncer de próstata e, assim, iniciar o melhor tratamento.
Veja os principais fatores de risco para câncer de próstata
Todo homem tem risco de desenvolver câncer de próstata15, mas alguns grupos são mais propensos à doença do que outros. O fator de risco mais comum é a idade: tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente a partir dos 60 anos1.
O sobrepeso e a obesidade também são fatores de risco importantes, principalmente para câncer de próstata avançado1. Além disso, alguns hábitos relacionados a estilo de vida também possuem influência, como o sedentarismo, tabagismo, alcoolismo e a alimentação rica em ultraprocessados1,13.
Pensando nisso, a prevenção do câncer de próstata inclui algumas mudanças no estilo de vida, conforme explica a oncologista clínica Ana Paula Garcia Cardoso. “Cessar o tabagismo, evitar a obesidade e o sedentarismo, assim como manter um estilo de vida saudável são medidas importantes”, afirma. Além disso, realizar o rastreamento para o diagnóstico precoce também é fundamental.
Fatores de risco genéticos (histórico familiar)
Ter histórico familiar de câncer de próstata aumenta consideravelmente o risco de desenvolver o tumor1,14,15. O risco é maior para aqueles que tiveram um parente de primeiro grau (como pai, filho ou irmão) com esse tipo de câncer 1,15. Segundo estudos, a taxa de câncer de próstata atribuída a fatores hereditários é de 5 a 15%14.
“O risco pode ser maior em pessoas com antecedentes familiares de câncer de próstata, principalmente quando há três casos em gerações diferentes do mesmo lado da família. Além disso, casos de síndrome familiar de câncer de mama e ovário também podem ser fatores de risco”, explica Ana Paula.
Esse risco pode estar relacionado a alterações genéticas e hereditárias e, nesses casos, o tumor é denominado câncer hereditário. Diversos genes foram associados a esse tipo de câncer, como:
- BRCA 1 e BRCA 2: os mesmos que causam câncer de mama e câncer de ovário em mulheres, mas que também estão relacionados a uma pequena porcentagem de câncer de próstata14,16
- CHEK2, ATM, PALB2 e RAD51D: mutações nesses genes estão associados a maior risco de câncer de próstata14,16
- Genes de reparação de incompatibilidade do DNA: relacionado à síndrome de Lynch, que aumenta o risco para câncer de próstata14,16
- RNASEL: alterações nesse gene permitem que as células potencialmente cancerígenas vivam por mais tempo do que deveriam14,16
- HOXB13: as mutações nesse gene estão relacionadas a câncer de próstata em estágio inicial14,16.
Como é feito o diagnóstico de câncer de próstata?
O diagnóstico precoce de câncer de próstata é feito através de exames clínicos, laboratoriais ou radiológicos. Eles podem ser realizados tanto por pessoas que já apresentam os sinais da doença quanto para pessoas que estão assintomáticas, mas que fazem parte do grupo de maior risco para desenvolver o tumor1.
“O câncer de próstata é assintomático na grande parte dos pacientes. Por esse motivo, na maioria das vezes, ele é detectável apenas através dos exames de rastreamento”, afirma Ana Paula.
No segundo caso, esses exames fazem parte do rastreamento para câncer de próstata e incluem:
- Exame de toque retal: consiste na avaliação médica da forma, textura e tamanho da próstata e é feito a partir da introdução do dedo, lubrificado e protegido por luva, no reto 2,4,5
- Exame de PSA (antígeno prostático específico): exame de sangue que mede a quantidade de uma proteína específica produzida pela próstata 2,4,5
Níveis altos de PSA detectados no exame são um sinal de alerta para câncer de próstata, mas também podem indicar outros problemas de saúde relacionados à glândula 2,5. Para se ter uma ideia, cerca de 75 a 80% dos homens com aumento de PSA não têm câncer. Por outro lado, cerca de 20% daqueles que apresentaram níveis normais de PSA, mas que apresentavam sintomas, tinham o tumor5.
Por isso, mais exames são necessários para fechar o diagnóstico. A melhor forma é através da biópsia1,2,6,8. Nesse procedimento, um pequeno pedaço de tecido é removido da próstata para ser examinado em laboratório para investigar se há células cancerígenas.
Outros exames de imagem podem ajudar na realização da biópsia, como a ultrassonografia transretal7 e a ressonância magnética8. Se confirmado o diagnóstico, alguns testes de biomarcadores oncológicos (proteínas, genes e outras moléculas que influenciam no comportamento das células cancerígenas) podem ser feitos para definir a melhor forma de tratamento e o prognóstico do paciente8.
Tratamento do câncer de próstata: quais são as opções possíveis?
Geralmente, o tratamento do câncer de próstata varia de acordo com a gravidade do tumor. Portanto, o médico é quem orientará a melhor opção para cada caso1,9. As principais alternativas são:
- Observação vigilante: indicada para casos em que o câncer de próstata está em fase inicial e não parece crescer rapidamente. É feita através do monitoramento realizando testes de PSA e biópsias regularmente9.
- Cirurgia: pode ser feita para casos em que o câncer está localizado na próstata, ou seja, ainda não se espalhou1. O procedimento é chamado de prostatectomia e consiste na remoção da glândula e das vesículas seminais (que atuam na produção de sêmen)9.
- Radioterapia: também é indicada para tumores localizados1,10 e pode ser feita de maneira externa (a radiação é direcionada para as células cancerígenas) ou interna (pellets radioativos são colocados cirurgicamente perto do câncer para destruir as células)9. Ela também pode ser indicada como tratamento complementar à cirurgia10.
- Quimioterapia: consiste no uso de medicamentos para reduzir ou matar as células cancerígenas e é indicado para quando o câncer está em metástase, ou seja, já se espalhou para outras partes do corpo9. Os medicamentos podem ser tomados via oral ou intravenosa.
- Terapia hormonal: também chamada de terapia de privação de andrógeno, é indicada para o tratamento de câncer de próstata metastático1,10,11 ou que não pode ser submetido à cirurgia10,11. A redução desse hormônio ajuda a impedir o crescimento de células cancerígenas.
Quer saber mais sobre o diagnóstico precoce e o tratamento para câncer de próstata? Confira o site da MSD!
Referências
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