Médica especialista em cirurgia vascular, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, especialista...
iVocê já ouviu falar de lipedema? Esse é o nome dado a uma doença crônica progressiva, caracterizada pelo acúmulo anormal e desproporcional de gordura em regiões específicas do corpo, como braços, pernas, coxas e quadris. Com um componente genético, o lipedema afeta principalmente mulheres - a prevalência no Brasil é de 12%.
Ainda pouco conhecido tanto pela população como por muitos médicos, o lipedema foi considerado doença somente em 2022. Muitas vezes, o problema é confundido com a obesidade ou com o linfedema – o que, por sua vez, atrasa o início do tratamento adequado.
Geralmente há um gatilho de início do quadro que é associado com algum momento de alteração hormonal na mulher, como a puberdade, a gestação ou a menopausa.
Uma das principais características do lipedema é o inchaço das áreas afetadas. Mas, diferentemente da obesidade, na qual a gordura é distribuída pelo corpo todo, no caso do lipedema isso não acontece. Comumente, a mulher com a doença pode apresentar, por exemplo, a parte inferior do corpo desproporcionalmente acima do peso em comparação com a parte superior, ou seja, pode ser magra da cintura para cima e com as pernas grossas.
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Com o agravamento do quadro, outros sintomas também podem surgir, como a dor e a sensação de queimação nos locais de acúmulo de gordura, hematomas que se formam com facilidade, além de desconforto e muita sensibilidade à palpação das pernas.
Outros sintomas são presença de nódulos palpáveis embaixo da pele causados pelo acúmulo de gordura com fibrose e inflamação, flacidez, celulite e, quando as pernas são elevadas, não há melhora do edema.
É comum ver mulheres que fazem dieta e atividade física e não perdem gordura e medidas nas pernas - como se todo o esforço não fizesse efeito. Em casos mais avançados, essas mulheres podem apresentar lesões das articulações, dificuldade de andar e até atrofia da musculatura.
O diagnóstico do lipedema é clínico e demanda um olhar especializado. Afinal, ele pode ser facilmente confundido com outras condições. O mais indicado, portanto, é buscar a avaliação de um profissional experiente, porque não temos um exame específico que confirme o diagnóstico. Além de analisar o histórico da paciente e realizar o exame físico, o médico também poderá solicitar alguns exames laboratoriais e, dentre outros exames de imagem, o ultrassom doppler venoso, a bioimpedância, a linfocintilografia, a ressonância magnética de pernas e coxas e a densitometria corporal total, conforme a necessidade.
Lipedema tem tratamento
A partir da confirmação do quadro, é possível seguir para o tratamento, já que o lipedema não tem cura. Neste caso, o tratamento tem como foco o controle da inflamação, e costuma melhorar muito a qualidade de vida e os sintomas.
Geralmente, o tratamento envolve diferentes abordagens, sendo principalmente baseado em reeducação alimentar, atividade física, terapias compressivas, suplementação quando necessário, controle hormonal e em alguns casos, cirurgia.
Tome cuidado com dietas muito restritivas, pois podem não ter efeito sobre o lipedema e até agravar o quadro. O tratamento é multidisciplinar e visa controlar os sintomas, melhorar qualidade de vida e evitar o agravamento da doença.
A caminhada é longa: o lipedema pode causar impacto físico e emocional. Porém, com orientação, cuidado adequado e troca de experiências, essa jornada pode ser leve e chegar ao bem-estar e liberdade em relação ao próprio corpo.
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