Psico-oncologista, é líder nacional de Especialidades Equipe Multidisciplinar da Oncoclínicas. Concluiu um fellowship de...
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O câncer é uma doença causada, na maioria das vezes, por fatores externos e comportamentais, como tabagismo, consumo excessivo de álcool, exposição a compostos químicos e alimentação pouco saudável. Apenas 10% dos tumores têm origem genética, segundo o Ministério da Saúde.
Mas será que é possível que fatores emocionais, como o estresse, ansiedade ou depressão, desencadeiem o desenvolvimento de câncer? Essa é a pergunta que cientistas e médicos do mundo inteiro estão tentando responder há anos e ainda não encontraram evidências da ligação direta entre o estado emocional e o câncer.
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“Vários estudos foram conduzidos para explorar essa possível associação, mas o resultado são, em grande parte, inconsistentes e sujeitos a interpretações variadas. Alguns estudos sugerem uma possível ligação, enquanto outros não encontraram evidências significativas”, afirma Cristiane Bergerot, Líder Nacional de Especialidade Equipe Multidisciplinar da Oncoclínicas, ao MinhaVida.
Por exemplo, cientistas do Institute of Cancer Research realizaram um estudo que acompanhou mais de 100 mil mulheres saudáveis ao longo de 40 anos. Todas foram questionadas sobre com que frequência haviam passado por estresse e se haviam passado por algum evento estressante nos cinco anos anteriores.
Um terço (34%) das entrevistadas relatou ter ficado estressada ao longo do período e 74% já passaram por pelo menos um evento estressante, como a morte de um familiar. No entanto, os resultados mostraram que as 1.783 das mulheres estudadas que, mais tarde, desenvolveram câncer de mama, não sofreram mais estresse ou acontecimentos traumáticos do que aquelas que permaneceram saudáveis.
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Um outro estudo, publicado na Psycho-Oncology, estudiosos coreanos tentaram entender se havia ou não uma relação entre depressão e câncer e, para isso, realizaram uma meta-análise. Os resultados não demonstraram que os pacientes com transtorno depressivo tinham um risco maior de desenvolver câncer em relação à população geral.
A ligação indireta dos efeitos do estresse no corpo com o câncer ainda está em investigação
O estresse é uma reação natural do organismo diante de situações de perigo ou de ameaça, que libera maior concentração de hormônios como o cortisol e a adrenalina. O estresse crônico, caracterizado por um estado contínuo de estresse, pode trazer efeitos negativos no corpo devido à exposição prolongada ao cortisol.
De acordo com a oncologista Cristiane, esses efeitos podem comprometer a capacidade do sistema imunológico de combater eficazmente as células anormais e, potencialmente, contribuir para o desenvolvimento de doenças, como o câncer.
“No entanto, é fundamental dizer que essa é uma hipótese que continua em fase de investigação e que não foram estabelecidas conclusões definitivas”, ressalta a especialista.
Além disso, também existem teorias em estudo de que o estresse prolongado pode estar indiretamente relacionado ao câncer ao levar a comportamentos prejudiciais à saúde. É o caso de padrões inadequados de sono, insônia, alimentação pouco saudável e diminuição da atividade física. “Todos esses padrões podem aumentar o risco de câncer”, explica.
Como lidar com o estresse e garantir uma boa qualidade de vida?
Tendo ou não relação com o desenvolvimento de câncer, é fato que o estresse em excesso pode prejudicar a saúde. Os sintomas do estresse crônico incluem a fadiga, mal-estar, esgotamento mental, insônia, tristeza e outros sintomas físicos e emocionais.
Durante webinar promovido pela Mayo Clinic - e que o MinhaVida esteve presente - Safia Debar, cirurgiã e especialista em manejo do estresse, explicou que a condição pode levar à inflamação do corpo e, ao longo prazo, propiciar o desenvolvimento de doenças em diversos sistemas do organismo.
Por isso, é interessante apostar em estratégias que podem ajudar a manejar o estresse. “Precisamos mudar a nossa relação com o estresse”, afirma a especialista. A especialista listou algumas dicas para fazer isso, como:
- Identificar o estresse através de sintomas como alterações no sono, fadiga e mudanças no padrão do trato digestivo - e tentar entender o que pode causar esse estresse
- Entender seus sentimentos e como está sendo a sua reação ao estresse
- Listar atividades que estão pendentes e entender o que é realmente prioridade
- Pensar em algo que te faz bem e feliz para ajudar o cérebro a promover a sensação de bem-estar
Além disso, práticas como meditação e atividades físicas diversas também podem ajudar no manejo do estresse. “É interessante estabelecer limites e prioridades, buscar apoio social, cultivar hobbies relaxantes e priorizar um sono adequado”, completa Cristiane.