Dr. Carlos Moraes se graduou na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo em 1991. Fez Residência Médica...
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O enjoo na gravidez é um dos sintomas mais comuns do primeiro trimestre da gestação. Algumas mulheres sentem as náuseas mais do que outras e, até então, a causa para isso ainda não era totalmente esclarecida. Porém, um estudo inédito mostra que um hormônio específico pode estar envolvido nesse processo.
Publicada na semana passada na revista Nature, a investigação identificou que um hormônio denominado GDF15 pode ser a principal causa para os enjoos matinais tão característicos da gravidez. Além disso, os cientistas descobriram que a quantidade desse hormônio no sangue da gestante, bem como sua exposição a ele antes da gestação, é o que determina a gravidade dos sintomas.
“O GDF é um biomarcador, ou seja, uma substância produzida pelo corpo”, explica Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa de São Paulo. “Algumas pesquisas recentes têm mostrado que a presença do GDF15, produzido pela placenta, estaria ligada a um risco maior de hiperêmese gravídica”, completa.
A hiperêmese gravídica é uma condição caracterizada pelo excesso de enjoo e vômitos durante a gravidez, o que pode provocar desidratação, perda de peso e baixa ingestão de nutrientes importantes para o desenvolvimento do bebê. Estima-se que cerca de 1,5% das grávidas apresentem essa condição.
Como o estudo foi feito?
O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, e da Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. Nele, os cientistas mediram o hormônio no sangue de mulheres grávidas e analisaram os fatores de risco genéticos para a hiperêmese.
Os resultados mostraram que as mulheres com hiperêmese apresentaram níveis de GDF15 significativamente mais elevados durante a gravidez do que as gestantes que não apresentavam os sintomas.
A relação com o GDF15 e a hiperêmese é que esse hormônio provoca, de fato, náusea e vômitos mais intensos do que o normal. “Porém, vale ressaltar que essa relação depende da quantidade da produção fetal. Quanto maior a produção, maior é a irritabilidade gástrica”, explica Ricardo Bruno, ginecologista e diretor médico da Exeltis.
Os investigadores descobriram, ainda, que o efeito do hormônio também depende da sensibilidade e da exposição da mulher a ele antes da gravidez. O que isso significa na prática? Gestantes que, antes da gravidez, estiveram expostas a níveis mais altos de GDF15 sentiam sintomas menos intensos de enjoo matinal do que aquelas que nunca haviam sido expostas a esse hormônio.
Para investigar essa teoria, pesquisas anteriores, citadas no novo estudo, expuseram alguns ratos a uma pequena quantidade do hormônio e, três dias depois, os roedores receberam uma dose maior, mas não perderam o apetite como os animais que não receberam a dose anterior.
“Isso mostra que não é somente os níveis elevados de GDF no sangue que interferem na intensidade dos enjoos e vômitos na gravidez, mas, também, é uma questão de sensibilidade pessoal da paciente a esse hormônio”, comenta Carlos.
Essa descoberta pode ser interessante para direcionar pesquisas sobre novas opções de tratamento para a hiperêmese gravídica. “Essa dessensibilização [ao hormônio GDF15] foi um tratamento para diminuir náuseas e vômitos na gestação, mas ainda é um experimento animal, sem comprovação em humanos e sem sabermos qual seria o melhor procedimento para a realização em humanos”, completa Ricardo.
Como o enjoo e vômitos intensos na gravidez são tratados?
O enjoo na gravidez, principalmente nas primeiras horas da manhã, é um sintoma comum no primeiro trimestre. Porém, quando se manifesta em excesso, prejudicando a rotina e a alimentação da gestante, torna-se uma condição preocupante.
“Quando a paciente entra nessa fase de vômitos excessivos, há uma consequência drástica, que é a perda de eletrólitos. Pelo vômito, a paciente perde muito líquido e, com isso, desidrata e perde eletrólitos, como cálcio, sódio, potássio e magnésio. Cada um desses minerais tem uma ação específica no corpo e sua perda pode levar a situações gravíssimas”, afirma Ricardo.
Por isso, uma vez constatada a hiperêmese gravídica, é preciso iniciar um tratamento adequado, que requer internação médica. O tratamento inclui dieta com zero ingestão de alimentos via oral, suplementação venosa dos eletrólitos perdidos e uso de medicações antieméticas, ou seja, que ajudam a cessar os enjoos e os vômitos.
“Depois desse tratamento, vamos retomando a alimentação aos poucos”, afirma Carlos.