Ginecologista e especialista em patologia do colo uterino do Grupo Santa Joana - composto pelos Hospitais e Maternidades...
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O mês de março é conhecido como um dos principais momentos do ano para discutir questões relacionadas à saúde da mulher, entre eles, a importância da prevenção contra o câncer de colo de útero, idealizado pela campanha do Março Lilás. A escolha da cor é uma homenagem ao movimento sufragista que ocorreu em 1908 na Inglaterra e reivindicava o direito ao voto feminino.
O surgimento do Março Lilás como parte do calendário colorido não se deu à toa: os tumores no colo do útero são o 4º tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
A situação é a mesma em países que compartilham determinantes sociais e econômicos semelhantes, segundo a Organização Mundial da Saúde.
“O câncer do colo do útero foi um dos primeiros e um dos mais importantes a ter teste de rastreamento, que é feito por meio do papanicolaou e do teste de HPV. Em países desenvolvidos, esse serviço é organizado e o sucesso de detecção e tratamento precoce é muito maior”, explica Maricy Tacla, ginecologista e especialista em patologia do colo uterino do Grupo Santa Joana.
Maricy complementa que a alta prevalência pode ser atribuída aos serviços de tratamento de câncer indisponíveis de forma universal, além da falta de estímulo à vacinação contra o HPV, que está liberada no Programa Nacional de Imunização do país mas não consegue atingir a meta estabelecida.
Tabagismo, imunossupressão, idade, comportamento sexual com múltiplos parceiros, primeira relação sexual precoce e histórias de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) também podem ser fatores envolvidos na evolução do câncer.
O HPV
Apesar de ser um tumor maligno, o surgimento do câncer de colo de útero começa com a infecção persistente do Papiloma Vírus Humano (HPV), um vírus sexualmente transmissível que costuma ser eliminado espontaneamente pelo próprio organismo na maior parte dos casos. Quando se manifesta, pode aparecer no formato de verrugas que acometem os genitais ou as regiões ao redor do ânus.
O fato do HPV em estágio inicial ter um tratamento considerado simples e estar presente em pelo menos 80% da população sexualmente ativa, segundo o Ministério da Saúde, não exclui a constatação de que ele ainda é a principal causa do câncer de colo de útero.
“Mesmo que a maioria dos sorotipos de HPV não sejam cancerígenos, existem alguns subtipos mais comuns que progridem para o câncer. Eles evoluem para lesões atípicas detectadas no Papanicolau e carcinomas 'in situ', um estágio precoce de câncer cervical no qual as células cancerosas estão presentes apenas na superfície do colo do útero”, afirma Ricardo Caponero, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado Pela Vida.
Ele ressalta que essa trajetória leva em média 10 anos e que o longo período assintomático é o que pode favorecer o diagnóstico precoce: “A mulher não deve esperar os sintomas para procurar o médico. Os tipos de HPV que são ‘do mal’ não ficarão quietinhos na maioria das vezes”.
O câncer de colo de útero é uma das consequências mais comuns da persistência do HPV, mas ele também pode desencadear em tumores no pênis, ânus, boca e garganta.
Prevenção e vacina
Nesse cenário, a vacina do HPV funciona como a medida preventiva mais eficaz contra o tumor. Ela combate os diferentes tipos do vírus, incluindo os responsáveis pelos casos de câncer de colo de útero.
A rede privada já disponibiliza a vacina nonavalente (contra 9 subtipos de HPV), mas a rede pública contém a versão tetravalente. O imunizante é recomendado para meninas e meninos na adolescência, geralmente entre 9 e 14 anos de idade, embora possa ser administrada até os 26 anos para mulheres e até os 21 anos para homens.
Outras formas de prevenir estão na realização constante dos exames de rastreamento, limitação do número de parceiros sexuais e o uso de preservativo durante as relações.
Especialista consultado: Ricardo Caponero, oncologista e membro do comitê científico do Instituto Lado a Lado Pela Vida