Doutor em ciências médicas pela FMUSP, é assistente do setor de catarata da Santa Casa de São Paulo e especialista em gl...
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Quando o assunto são cuidados médicos rotineiros, não é por acaso que a consulta oftalmológica seja uma das mais solicitadas independentemente da faixa etária e do momento de vida do paciente. Isso porque a ida ao oftalmologista vai muito além de verificar o grau do óculos: 80% das causas de deficiência visual podem ser tratadas e até prevenidas se detectadas a tempo.
O dado faz parte do primeiro relatório mundial sobre visão emitido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019, que também apontou outros números relevantes: das 2,2 bilhões de pessoas que apresentam deficiência visual, pelo menos 1 bilhão não tratam ou poderiam ter evitado a própria deficiência.
Esse quadro serve para reforçar ainda mais a importância do Abril Marrom, uma campanha dedicada à conscientização sobre a cegueira.
“Com o envelhecimento da população, as doenças ligadas à cegueira permanente têm aumentado. Então temos um problema de cunho social. Dito isso, a campanha tem o papel de alertar os problemas e antecipar a cegueira desses pacientes.”, explica Renato Klingelfus Pinheiro, especialista em glaucoma pela Santa Casa de São Paulo e parceiro da Advance Vision.
Como surgiu o Abril Marrom?
A iniciativa surgiu em 2016 graças ao médico Suel Abujamra, oftalmologista e ex-presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
"O mês de abril foi escolhido por comemorar o Dia Nacional do Braille, no dia 8 de abril, data do nascimento de José Álvares de Azevedo (em 1834), professor responsável por trazer, em 1850, o alfabeto Braille ao Brasil", esclarece Eric Pinheiro de Andrade, oftalmologista e diretor no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE). Ele ainda acrescenta que marrom também não foi por acaso: a cor é a predominante nas íris dos brasileiros.
Hoje em dia, além de ter a prevenção como um dos seus maiores objetivos, o Abril Marrom também se empenha em discutir estratégias inclusivas voltadas para pessoas com deficiência visual.
Quais as doenças oculares mais comuns e as principais causas?
Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista e responsável pelo setor de doenças oculares externas, cirurgia refrativa e de catarata do Instituto Penido Burnier (IPB), elenca a falta de óculos para corrigir miopias, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia como a maior causa de cegueira no país.
"No Brasil é grande o número de brasileiros que engavetam receitas de óculos emitidas pelo SUS. Os erros de refração não doem nem alteram a aparência. Crianças nem sempre sabem referir que não enxergam bem porque não têm uma referência de como é enxergar nitidamente e muitos pais não percebem a dificuldade de enxergar dos filhos. Os casos de erros refrativos graves compromete o desenvolvimento cognitivo, o aprendizado, a tendência ao isolamento e depressão aumentam", relata.
Em seguida, as doenças oculares mais comuns são:
O glaucoma é a doença irreversível com maior incidência em casos de cegueira. Na prática, ocorre um aumento da pressão intraocular que danifica o nervo óptico. “É uma doença ardilosa porque os pacientes só costumam percebê-la quando a situação passa a ser irreversível. Começa alterando o campo visual da periferia para o centro, com nenhuma chance de recuperação”, completa Renato Klingelfus.
Das doenças reversíveis, a catarata lidera o ranking não só no Brasil mas no mundo inteiro. Felizmente, a condição é facilmente reversível com cirurgia. A catarata é uma enfermidade que tem um desenvolvimento lento, ao longo dos anos, e é caracterizada pela opacidade da lente natural do olho, impedindo a visão.
A prevenção como solução
O cuidado começa quando o indivíduo entende que visitas oftalmológicas devem ser feitas com regularidade, pelo menos 1x ao ano. Leôncio Queiroz relembra a necessidade dos pais estarem atentos ao "teste do olhinho" em crianças:
"O teste é feito na maternidade logo que o bebê nasce e deve ser repetido três vezes ao ano até a idade de três anos. Neste período, ele deve passar pelo primeiro exame oftalmológico completo quando atinge 1 ano de idade ou se surgir alguma alteração no teste".
Essa atenção especial volta com força a partir dos 40 anos de idade, fase suscetível à doenças oculares como a catarata e o glaucoma. No caso de degeneração macular, o risco cresce na terceira idade.
Adotar hábitos e um estilo de vida saudável também entram nos cuidados preventivos:
- Manter uma dieta rica em frutas, vegetais, grãos e proteínas magras para deixar o nível de glicose em dia;
- Evitar a exposição excessiva ao sol, um grande vilão para o aumento do risco de catarata e outras doenças
- Evitar o consumo excessivo de álcool e cigarro
- Evitar a prática de automedicação.
Eric Pinheiro ainda ressalta em quais momentos a ida ao médico além das visitas de rotina são necessárias: "Todas as pessoas devem marcar consultas de rotina quando não há indícios de problemas oculares. Porém, quando há sintomas de coceira frequente, vista cansada e/ou embaçada é importante se dirigir a um oftalmologista para entender as causas do problema".
Especialistas consultados: Leôncio Queiroz Neto, oftalmologista e responsável pelo setor de doenças oculares externas, cirurgia refrativa e de catarata do Instituto Penido Burnier (IPB) e Eric Pinheiro de Andrade, oftalmologista e diretor no Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE)