Psicóloga e escritora especialista em comportamento infantil.
Redatora especialista em conteúdos sobre saúde, bem-estar, beleza, fitness e família.
Toda criança tem o costume de mesclar fantasia com realidade. Muitas vezes, a barreira que separa uma da outra desaparece para dar espaço a uma fase de histórias, brincadeiras e crenças em personagens como Papai Noel e Coelhinho da Páscoa. Esse é um momento que dura um bom tempo durante o desenvolvimento dos pequenos e pode resultar em fenômenos como os amigos imaginários.
De um animalzinho até um objeto inanimado, os amigos faz-de-conta podem assumir diversas formas e personalidades, passando a fazer parte da rotina da criança. Mas será que isso é mesmo normal? Se sim, até que ponto? À convite da Paramount, o MinhaVida convidou a psicóloga infantil Nanda Perim (@psimamaa) para responder essas e outras dúvidas em um bate-papo especial.
A conversa também é uma oportunidade para os pais levarem seus filhos para assistir o filme “Amigos Imaginários” que será lançado dia 16 de maio nos cinemas. A trama aborda o tema de forma lúdica e descontraída, proporcionando momentos de diversão para toda a família.
Confira abaixo os principais momentos do bate-papo:
MinhaVida: Como acontece o desenvolvimento de um amigo imaginário na vida da criança?
Nanda Perim: Geralmente parte dos interesses da criança, mas o mais legal é quando parte da completa imaginação dela. Criar um bicho que é a mistura de vários bichos geralmente é baseado em alguma referência, é algo totalmente fantástico - e isso é que é legal. Algumas crianças vão pegar personagens ou objetos da vida real e tornar como uma coisa próxima. Então, se a criança gosta muito de assistir um filme ou um desenho, ela pega esse desenho e traz para perto e transforma algo em amigo íntimo dela. Isso também ajuda a criança na elaboração de desafios, porque é uma figura que já existe e já tem um conceito feito por ela.
MinhaVida: Há alguma idade em que a relação com esse amigo imaginário costuma acabar?
Nanda Perim: Não há uma idade específica. Às vezes - e até com um pouquinho de vergonha - a pessoa tem aquele amigo imaginário ali ainda [mais tarde na vida]. Eu acredito fortemente que os amigos e o peso social passam a ser muito maiores, então essa criança quer parecer legal e pertencer ao grupo. O adolescente começa a se preocupar muito com o que o outro pensa sobre ele, às vezes ele vai ter vergonha de ter esse amigo imaginário.
Por outro lado, por ser uma fase de muitas cobranças, mudanças fisiológicas e emocionais, faria sentido, nesta fase, continuar com o amigo imaginário que deu suporte durante a infância. Geralmente, essa criança se sente pressionada socialmente a não ser mais criança e não fazer coisas de criança. Eu acredito que, por vezes, acaba até reprimindo um desejo de continuar com aquele amigo ou, se aquele amigo veio por uma necessidade, aquela necessidade não existir mais. Naturalmente, o amigo não vai mais fazer parte da vida dela.
MinhaVida: É comum que a criança concretize esse amigo imaginário de modo que ele também passa a ser parte da família?
Nanda Perim: Sim, acontece bastante. O mais comum é a criança brincar mergulhada na fantasia mas saber o momento que aquilo acabou e vir para a realidade. Essa mescla de imaginação e realidade estarem juntos é menos comum, mas ela também acontece muito, principalmente se é uma questão que tomou uma proporção muito grande na vida dessa criança.
MinhaVida: Existe alguma ligação entre transtornos e a criação desses amigos imaginários?
Nanda Perim: Essa foi a primeira coisa que me impressionou quando eu fui estudar o tema de amigos imaginários e também quando eu fui conversar com as pessoas sobre isso. Surpreendentemente, na cultura brasileira, ter amigos imaginários é um tabu.
Criar e ter esses amigos faz parte de um neurodesenvolvimento saudável, é uma coisa que vai ajudar a criança a elaborar emoções e novos conceitos, além de apoiar nas transições. O desafio está quando a criança não está imaginando o amigo, mas quando esse amigo está sendo efetivamente visto e vivenciado como uma realidade. Aí precisamos ter um cuidado maior porque isso pode estar nos sinalizando sintomas. Nesse momento, é importante contar com um profissional muito analisado, respeitoso e humanizado que vá abraçar essa criança no sentido de acolher e de buscar entender o que está acontecendo e suprir as demandas que apareceriam a partir dessa análise. Isso, de forma com que essa criança não se sinta reprimida, criticada, humilhada ou rejeitada.
MinhaVida: Filhos únicos têm mais chances de terem amigos imaginários?
Nanda Perim: Depende do que essa criança precisa suprir. Tem crianças que são filhos únicos e têm bastante companhia, como os primos, então ela não vai precisar. Tem criança que tem um monte de irmão mas que cria um amigo imaginário para elaborar alguma coisa, suprir alguma pendência ou demandar. O amigo imaginário não vem só no lugar de um amigo. A interpretação que sempre fica é a de que se a criança está criando um amigo é porque ela não tem amigos. Se ela está criando alguém pra brincar, é porque ela não tem com quem brincar - e isso não é necessariamente verdade. Você facilmente encontra uma criança numa sala de aula com outras 20, 30 crianças - e com um amigo imaginário. Pode ser muito mais uma questão pessoal de elaboração, de demandas e de necessidades não atendidas do que de falta de amigos.
Assista ao bate-papo completo no topo da página!