Ana Tereza da Silva Marques é psicóloga clínica, especialista em diversidade e consultora da Tree Diversidade. É formada...
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O mês do orgulho LGBTQIAP+ no Brasil é o período do ano em que acontece uma série de atos em prol dos direitos da comunidade. Essa luta ocorre há décadas, durante todo o ano, mas é no movimento de junho que pessoas de todas as orientações sexuais e identidade de gênero tendem a debater e refletir mais sobre os direitos e o bem-estar dessas pessoas.
Apesar dos avanços significativos, como a criminalização da homofobia e o aumento da inclusão e da visibilidade das pessoas LGBTQIAP+ nos meios de comunicação, por exemplo, existem ainda aqueles que permanecem na “invisibilidade” e sofrem com sequelas emocionais geradas pela discriminação que se fazia muito mais presente no Brasil do passado: os idosos.
Ao MinhaVida, Ana Tereza da Silva Marques, psicóloga clínica, especialista em diversidade e consultora da Tree Diversidade, explicou como a solidão e a invisibilidade afetam as pessoas mais velhas que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+.
“A falta de reconhecimento de suas identidades e experiências pode levar ao isolamento social, exacerbando sentimentos de solidão e desamparo. Muitas pessoas idosas LGBTQIAP+ enfrentam o dilema de viver em ambientes onde não se sentem seguros para expressar sua identidade, o que pode resultar em um distanciamento ainda maior de suas comunidades e redes de apoio”.
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Por que os idosos LGBTQIAP+ são afetados pela solidão e a invisibilidade?
De acordo com a psicóloga Ana Tereza, as principais razões relacionadas a solidão e a invisibilidade que afetam pessoas idosas da comunidade LGBTQIAP+ são:
1 - Falta de reconhecimento e aceitação
Muitas vezes, pessoas idosas LGBQIAP+ enfrentam uma falta de reconhecimento de suas identidades e experiências dentro da sociedade em geral — isso inclui suas próprias comunidades e família. Por consequência, é comum que ocorra um sentimento de isolamento emocional e social.
2 - Estigma e discriminação
O estigma e a discriminação relacionados à orientação sexual, identidade de gênero e expressão de gênero são prevalentes em muitos contextos, mas no caso de pessoas mais velhas, isso é ainda mais intensificado e tem muita relação com o etarismo.
3 - Falta de redes de apoio
Existem muitas pessoas idosas LGBTQIAP+ que podem enfrentar dificuldades em encontrar redes de apoio seguras, onde possam ser autenticamente elas mesmas sem medo de rejeição ou discriminação. Isso pode resultar em um isolamento social significativo.
4 - Barreiras de acesso a serviços e recursos
Segundo uma pesquisa realizada por pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein e da Universidade de São Paulo (USP), a população LGBTQIAP+ acima de 50 anos, têm pior acesso ao sistema de saúde — seja em entidades públicas ou privadas.
“O acesso à saúde vai muito além do paciente entrar pela porta do nosso serviço. É necessário um atendimento humanizado, um acolhimento, especialmente, desse grupo que sofre com dupla invisibilidade — por ser LGBTQIAP+ e idoso”, afirmou um dos autores do estudo.
5 - Histórico de trauma e experiências negativas
Pessoas idosas LGBTQIAP+ podem ter um histórico de experiências negativas. Isso costuma aumentar a probabilidade de se afastarem de outras pessoas, como uma forma de autopreservação. Esses idosos são afetados por uma complexidade de fatores sociais, culturais e pessoais, que muitas vezes resultam em um sentimento de desconexão e isolamento.
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Quais são as condições emocionais e mentais que mais afetam essas pessoas?
Existem diversas condições psicológicas ou psiquiátricas que podem afetar pessoas idosas da comunidade LGBTQIAP+. Dentre as principais, Ana Tereza destaca:
- Depressão
- Ansiedade
- Síndrome do pânico
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)
- Pensamentos suicidas
“Essas condições são frequentemente desencadeadas ou agravadas por experiências de discriminação, rejeição e invisibilidade ao longo da vida. Reflito a importância de que, para casos de diagnósticos por condições psicológicas e/ou psiquiátricas, é crucial o acolhimento, apoio e orientação de profissionais de saúde devidamente qualificados, e que estudem tanto o processo histórico do envelhecimento, quando da comunidade LGBTQQIAP+”, diz a psicóloga.
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Como ajudar os idosos da comunidade LGBTQIAP+?
Para acolher e incluir as pessoas idosas LGBTQIAP+, a população pode desempenhar alguns atos que podem ser bem significativos, como:
- Sensibilizar e conscientizar outras pessoas acerca de preconceitos e respeito em relação à comunidade
- Combater comportamentos discriminatórios
- Denunciar situações de violência física ou verbal aos órgãos competentes
- Se educar sobre as experiências vividas pela comunidade LGBTQIAP+ ao longo de sua vida
- Encorajar a pessoa idosa LGBTQIAP+ a procurar ajuda profissional de psicólogo ou psiquiatra (caso haja sinais das condições mentais citadas acima)
- Usar os pronomes e termos de identidade autodeclarados pela pessoa
- Evitar qualquer forma de julgamento, discriminação ou preconceito
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Quais cuidados os idosos devem aderir à rotina para melhorar a saúde mental?
Se você é uma pessoa idosa que faz parte da comunidade LGBTQIAP+, precisa saber que existe uma série de cuidados capazes de melhorar a sua saúde mental e beneficiar o seu bem-estar diário.
Dentre as principais indicações da psicóloga Ana Tereza da Silva Marques, destacam-se:
- Buscar apoio emocional e psicológico quando necessário
- Praticar atividades que promovam o bem-estar emocional, como meditação, exercícios físicos, hobbies e atividades criativas
- Manter conexões sociais significativas com amigos, familiares e redes de apoio
Além dos cuidados citados, a psicóloga também destacou a importância de participar de grupos de apoio à comunidade LGBTQIAP+ para garantir a estabilidade da saúde emocional e mental.
No país, existem algumas instituições que são voltadas para esse tipo de acolhimento que, normalmente, são cruciais para o aumento da perspectiva de vida e do bem-estar de pessoas idosas LGBTQIAP+; é o caso da EternamenteSOU.
Sobre a EternamenteSOU
A EternamenteSOU é um centro de convivência para idosos LGBTQIAP+, que fica localizado na cidade de São Paulo e oferece uma série de programas e atividades que proporcionam acolhimento, respeito, visibilidade e bem-estar para essas pessoas.
“Dentro da ONG, os idosos LGBTQIAP+ contam com uma equipe de voluntários, como psicólogos, assistentes sociais, médicos e advogados. Por lá, todos são responsáveis pelo planejamento de projetos como o “Café e Memórias”, que consiste em fazer encontros mensais que visam se aproximar dessas pessoas, compartilhar experiências com eles e ouvi-los.”, conta Eduardo Lopes, co-autor de pesquisa sobre a ONG EternamenteSOU.
Procurando ajuda
Quando sintomas de depressão, síndrome do pânico ou ansiedade se apresentam, é fundamental o idoso buscar ajuda de um profissional da área da saúde mental — um psicólogo ou psiquiatra.
Em caso de pensamentos suicidas, não hesite em buscar ajuda para alguém próximo, ou mesmo para o Centro de Valorização da Vida (CVV), ligando para o número 188 ou conversando gratuitamente pelo chat, através do site cvv.org.br.
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