Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iO Center for Disease Control (CDC) dos Estados Unidos publicou, no final de junho, a atualização dos dados epidemiológicos sobre o diabetes naquele país. Vinte e quatro milhões de americanos tem diagnóstico de diabetes, ou 8% da população. Outros 54 milhões têm pré-diabetes, somando pouco mais de ¼ das pessoas que vivem nos Estados Unidos, apresentando problemas no metabolismo glicêmico. Em relação aos dados anteriores, de 2005, houve um aumento de 4 milhões de casos, com a prevalência da doença passando de 7% para 8% da população. De acordo com os dados do relatório do CDC, o diabetes é a principal causa de cegueira adquirida, assim como de insuficiência renal terminal, sendo que 44% dos novos casos de diálise nos EUA se devem a nefropatia diabética. Mais de 60% das amputações não traumáticas que ocorrem nos Estados Unidos são em pessoas com diabetes. Por outro lado, o mesmo relatório aponta que a percentagem de pessoas que desconhecem o diagnóstico caiu de 30 para 25% do total de pacientes diabéticos, sinalizando que as campanhas preventivas e o interesse crescente da imprensa pelo diabetes está aumentando a conscientização dos pacientes naquele país.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), lançou no ano passado um filme institucional - Diabetes, seja o primeiro a saber - , onde a entidade alerta que existem 6 milhões de diabéticos no Brasil, mas apenas metade deles sabe que tem a doença. É muito importante que medidas preventivas e campanhas informativas sejam disseminadas no Brasil também, para que o diagnóstico precoce do diabetes possa ser feito. Tão logo o diabético saiba de sua condição, ele pode começar o tratamento, visando manter o controle glicêmico, prevenindo, assim, várias comorbidades.
A importância do diagnóstico precoce é justificada, pois o diabetes provoca uma série de condições no organismo e no aparelho visual que afetam diretamente a saúde ocular e predispõe o portador a complicações na córnea, à catarata e ao glaucoma. Além disso, provoca a retinopatia diabética, a maior causa de cegueira permanente em indivíduos economicamente ativos. É importante destacar que a perda visual provocada pelo diabetes freqüentemente é um sintoma tardio da doença. É importante que o paciente diabético saiba que, mesmo apresentando uma boa acuidade visual, ele necessita de acompanhamento e tratamento oftalmológicos.
Cuidados especiais que devem ser observados pelos pacientes diabéticos:
1) O acompanhamento oftalmológico do paciente portador de diabetes é recomendado devido à fragilidade de sua córnea. As células do epitélio corneano do diabético não têm a aderência que se encontra na maioria dos não-diabéticos. Estes pacientes, durante as cirurgias de vitrectomia tendem a perder o epitélio com maior facilidade e freqüentemente tem a cicatrização e o repovoamento das células da córnea mais demorados. Essa fragilidade é a porta de entrada para uma série de infecções oportunistas no segmento anterior, como blefarites e úlceras;
2) Embora não existam restrições quanto ao uso de lentes de contato, o paciente diabético exige atenção redobrada e cuidados maiores do que os não-portadores. Muitos pacientes diabéticos não usam lentes de contato, não pela fragilidade corneana, mas pelo estado do olho em si, em alguns casos, muito comprometido devido à doença;
3) A catarata também é mais prevalente na população diabética devido ao sorbitol - poliálcool resultante do metabolismo do açúcar - que se acumula no cristalino, altamente hidrofílico. Em situações de hiperglicemia, o cristalino absorve água, o que provoca miopia no paciente. À medida em que a glicemia retorna aos seus níveis normais, o cristalino se desidrata e volta ao seu tamanho original. A repetição dessa situação altera as fibras da estrutura do cristalino, provocando sua opacificação. Isso explica a maior predisposição dos diabéticos a sofrer de catarata mais cedo e com mais freqüência, se comparados à população que não sofre da doença;
4) Esse mecanismo de hidratação/desidratação é provocado principalmente pela falta de controle da glicemia, que também pode afetar exames de refração, acusando miopia inexistente ou maior do que a presente em situações de glicemia normal. É fundamental que o oftalmologista tenha informações precisas sobre a glicemia do paciente ao recomendar o uso de lentes corretivas para não prescrever óculos desnecessariamente;
5) O diabetes também é um fator de risco para o surgimento do glaucoma, embora os mecanismos fisiopatogênicos não estejam tão claramente desenhados como no caso da catarata. A alteração química causada no organismo pela doença provoca a degeneração de vários tecidos, o que acaba afetando o trabeculado e, conseqüentemente, o escoamento do humor aquoso. Isso aumenta a pressão intra-ocular e provoca o glaucoma secundário a essa degeneração;
6) O diabetes também afeta a circulação sangüínea na cabeça do nervo óptico, o que acaba contribuindo para a sua degeneração. Com as alterações químicas provocadas pelo diabetes, as paredes dos vasos sangüíneos tornam-se gradativamente mais fracas, propiciando vazamentos e hemorragias. O aparecimento da retinopatia diabética está relacionado às alterações na microcirculação retiniana. O processo envolve o aparecimento de microaneurismas, dilatações capilares, isquemia, vazamento de plasma, oclusão capilar e, se não houver tratamento e controle, a neovascularização, que caracteriza o estágio mais avançado da doença, denominada retinopatia diabética proliferativa.
Informação e prevenção
O mais eficiente tratamento da retinopatia diabética e das outras comorbidades causadas pelo diabetes à visão é evitar que elas ocorram, por meio do controle estrito da glicemia, da pressão arterial e das nefropatias; do combate à obesidade e ao sedentarismo; e do corte do cigarro. O relatório americano indica que as medidas preventivas mais eficientes para diminuir a incidência de novos casos de diabetes e o impacto negativo da doença na saúde da população reside em medidas de reforço de mudanças de estilo de vida, que segundo o próprio documento, têm um custo efetividade superior ao uso de medicamentos.
Virgilio Centurion é oftalmologista e diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para saber mais, acesse: www.imo.com.br