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Terapeuta Clínica há 15 anos com abordagem cognitiva comportamental. Especialista clínica em Ansiedade, Crise de Pânico...
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Jornalista com sete anos de experiência em redação na área de beleza, saúde e bem-estar. Expert em skincare e vivências da maternidade.
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Se você já se pegou falando sozinho e, por um instante, pensou: "Será que estou ficando maluco?", pode ficar sossegado. Falar sozinho não é sinal de loucura— na verdade, a psicologia mostra que esse hábito pode trazer vários benefícios para o cérebro e até para a organização dos pensamentos.
Em um artigo anterior do MinhaVida, a psicóloga Larissa Fonseca conta que: “Ao expressar seus pensamentos, você não só reflete sobre os problemas e soluções, como também estabelece um diálogo interno que ajuda a encontrar novos caminhos para os seus objetivos”, explicou. É como ter uma conversa com o próprio cérebro, permitindo que ele se acalme e se reorganize.
Muita gente que passa longos períodos sem companhia, seja porque mora sozinho, trabalha em home office ou simplesmente gosta de curtir momentos de solitude, percebe que falar em voz alta se torna algo natural. Pode ser um desabafo, uma conversa mental que escapa pela boca ou até um simples lembrete verbalizado.
E, ao contrário do que se imagina, isso não é um indício de que algo está errado — na verdade, pode ser um mecanismo poderoso para aumentar o foco, regular emoções e melhorar o desempenho em tarefas do dia a dia.
É bom para a memória
A maioria dos psicólogos afirma que falar sozinho não está associado a problemas de saúde mental. Gary Lupyan, professor de psicologia da Universidade de Wisconsin, disse à BBC que "falar em voz alta consigo mesmo não é irracional". Segundo ele, falar consigo mesmo de maneira instrutiva pode acelerar habilidades cognitivas relacionadas à resolução de problemas e ao desempenho de tarefas, devido à hipótese de feedback.
Em seu estudo, um dos mais citados na área, os participantes que diziam o nome de um objeto em voz alta conseguiam localizá-lo mais rapidamente. Além disso, aqueles que falavam em voz alta tinham mais chances de se lembrar do objeto. “Dizer um nome em voz alta ajuda a memória porque a linguagem impulsiona o processo de recuperação da memória”, explicou.
Ter esse diálogo interno em voz alta traz inúmeros benefícios para o cérebro e pode ser uma ferramenta útil para recuperar memórias, aumentar a concentração e gerar uma sensação de segurança. Segundo Lupyan, podemos até nos surpreender com nossas próprias reflexões e, ao verbalizar nossos pensamentos, chegar a conclusões inesperadas.
Reduz a ansiedade e melhora o desempenho
Ethan Kross, professor de psicologia da Universidade de Michigan, explicou ao New York Times que “a linguagem nos fornece uma ferramenta para nos distanciarmos de nossas próprias experiências quando refletimos sobre nossas vidas”. Quando falamos conosco mesmos, buscamos enxergar as coisas de forma mais objetiva, afirmou Kross. Por isso, a maneira como nos dirigimos a nós mesmos é fundamental, e é importante evitar um diálogo interno negativo.
Podemos usar o diálogo interno instrucional – falar consigo mesmo enquanto realiza uma tarefa – ou o motivacional, como o utilizado por Simone Biles antes de uma competição.
Um estudo publicado na revista Procedia – Social and Behavioral Sciences investigou os efeitos do diálogo interno motivacional e instrutivo e descobriu que ele tornava as pessoas mais eficazes em suas atividades.
Kross também estudou o impacto desse tipo de diálogo em atitudes e sentimentos e percebeu que, quando as pessoas se referiam a si mesmas na segunda ou terceira pessoa – por exemplo, dizendo "Você consegue" em vez de "Eu consigo" –, sentiam menos ansiedade e eram avaliadas de forma mais positiva por seus colegas.
Segundo ele, isso ocorre devido ao autodistanciamento: ao focar em si mesmo a partir da perspectiva de uma terceira pessoa, é possível criar um afastamento emocional da experiência. Essa distância é essencial.
Ajuda a gerenciar emoções e desenvolve a inteligência emocional
A psicoterapeuta Anne Wilson Schaef afirma que o diálogo interno é uma excelente ferramenta para gerenciar emoções. Além disso, um estudo publicado na Cognitive Development mostrou que conversar consigo mesmo ajuda a organizar pensamentos, planejar ações e controlar emoções.
Em entrevista à BBC, Schaef explicou que esse hábito traz alívio emocional porque “todos nós precisamos conversar com alguém interessante, inteligente, que nos conheça bem e esteja do nosso lado – e essa pessoa somos nós mesmos”. Segundo ela, conhecer a si mesmo e compreender seus sentimentos pode ajudar no desenvolvimento pessoal.
Outra pesquisa, conduzida pelos especialistas Winsler, Fernyhough e Montero, concluiu que o diálogo interno está intimamente ligado à regulação emocional e ao desenvolvimento cognitivo em crianças. Além disso, falar sozinho está associado ao aprimoramento da inteligência e das emoções. Ou seja, esse hábito pode contribuir para o desenvolvimento da inteligência emocional.
Falar sozinho não é coisa de gente esquisita ou louca – e, como você viu, traz inúmeros benefícios. Claro, desde que esse diálogo seja conduzido de maneira positiva. A forma como nos falamos pode influenciar nossa autoestima e até impactar nosso nível de felicidade.
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