
Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.

Encontrar uma vaga para estacionar em uma cidade grande costuma ser um desafio, por isso, ao encontrá-la, você coloca o carro na vaga, liga o pisca-alerta e abaixa o volume da música antes de iniciar a manobra. Você já se perguntou por que instintivamente abaixa o volume da música quando está tentando estacionar em uma vaga apertada?
Não se trata apenas de um hábito estranho, mas comum. Ele tem uma explicação fascinante do ponto de vista da neurociência e revela como o cérebro otimiza a concentração em momentos críticos.
O efeito da música e outros estímulos em nossa atenção
Victoria Bayón, neurocoach especializada em otimização cerebral, explicou ao La Vanguardia que nosso cérebro tem uma capacidade limitada de processar informações. Quando tentamos realizar uma tarefa que exige precisão, como estacionar em uma vaga apertada ou decifrar as informações em uma planilha do Excel, o cérebro precisa reduzir os estímulos para se concentrar o máximo possível na tarefa.
A música, embora pareça ser apenas uma música de fundo para criar um clima, ocupa um espaço valioso na “largura de banda” do cérebro, sendo mais um estímulo cognitivo a ser processado, desviando a atenção da tarefa principal.
De fato, pesquisadores da Universidade da Geórgia descobriram que ouvir música instrumental não é o mesmo que ouvir músicas com letras, sendo que a última exige muito mais do cérebro. Mesmo quando você não entende o idioma da música. Tudo se soma e é processado igualmente.
“Quando estacionamos, nosso cérebro precisa concentrar toda a atenção, e a música, embora possa não parecer, está ocupando um espaço valioso que poderia ser melhor dedicado à tarefa em questão”, diz Bayón.
Quando iniciamos uma tarefa importante que exige grande precisão, o cérebro prioriza essa “largura de banda” de informações, eliminando tudo o que é supérfluo naquele momento. Por esse motivo, instintivamente abaixamos o volume ou paramos de ouvir conversas de fundo quando estamos altamente concentrados em uma determinada tarefa.
A atenção é um recurso limitado
Diversos estudos psicológicos demonstraram algo que basicamente já sabíamos, mas que insistimos em aplicar: o cérebro não é multitarefa e não consegue fazer várias tarefas ao mesmo tempo com eficiência.
Ao tentar fazer isso, o cérebro muda rapidamente seu foco de atenção, o que diminui a qualidade de nossa concentração. No caso do estacionamento, essa atenção deve ser dividida entre a música, os ruídos ao redor e a manobra do carro.
Um estudo realizado por Hal Pashler, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, demonstrou a interferência que ocorre quando o cérebro tem de dividir sua atenção entre tarefas simultâneas (ouvir música, processar as informações espaciais do estacionamento e operar os controles do carro), mostrando que a capacidade de processamento do cérebro é limitada quando confrontada com vários estímulos.
Estratégias para maximizar a concentração
Se você costuma desligar a música ou diminuir o volume antes de estacionar, isso é um sintoma de que sua capacidade de atenção já está saturada, portanto, você precisa reduzir todo o ruído cognitivo ao seu redor para ser mais eficiente na tarefa principal. Entender como seu cérebro funciona permite que você crie estratégias para melhorar sua capacidade de concentração.
Uma maneira de preparar seu ambiente para reduzir os problemas de concentração é minimizar os estímulos cognitivos. Evite tocar música ou ruído de fundo e, se possível, evite ter corredores ou passagens em seu alcance visual. Isso libera espaço no cérebro e o ajudará a se concentrar no que realmente importa.
Usar fones de ouvido com cancelamento de ruído pode ser uma excelente opção, mesmo quando não estiver tocando nada, graças aos seus recursos de isolamento, especialmente em ambientes barulhentos, como um escritório. A atenção é uma habilidade que é exercitada e pode ser aprimorada gradualmente, de modo que o cérebro seja capaz de isolar esses estímulos por conta própria, reforçando a atenção seletiva.
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