Joji Ueno é ginecologista-obstetra. Dirige a Clínica Gera e o Instituto de Ensino e Pesquisa em Medicina Reprodutiva de...
iTer engravidado naturalmente uma vez, com facilidade, não é garantia de que o mesmo acontecerá uma segunda vez. São comuns os casos de infertilidade secundária, quando um casal não consegue engravidar ou levar uma gravidez até o final, após já terem tido um filho. Esse tipo de infertilidade é tão comum quanto a infertilidade primária, sem ocorrência de gravidez anterior.
Os mesmos fatores que causam a infertilidade primária podem causar a secundária: bloqueio de trompas, endometriose, problemas de ovulação, pouca quantidade ou falta de motilidade dos espermatozóides, varicocele, dentre muitos outros motivos. Seja qual for a causa da infertilidade secundária, ela se desenvolveu ou se agravou, após a primeira gestação. Para ter o segundo filho, o casal precisa passar pela avaliação de um especialista em fertilidade.
Ser incapaz de ter um segundo filho pode gerar um estresse enorme para o casal. Muitos acreditam que por terem tido uma primeira gravidez bem sucedida poderão ter outras iguais. Mas isto nem sempre é verdade. O importante neste processo é saber o momento adequado de buscar auxílio médico e psicológico.
O que é a infertilidade secundária
A infertilidade secundária é definida como a inabilidade de conceber um bebê ou seguir com a gravidez até o fim, após o nascimento de um ou mais bebês. É uma condição clínica comum.
Diversas são as causas para o aparecimento da infertilidade secundária. Dentre as que atingem as mulheres, podemos relacionar desordens ovulatórias, menopausa precoce, aderências pélvicas, inflamação ou infecção, danos ou bloqueios nas tubas uterinas, pólipos, fibroses uterinas e endometriose.
Nos homens, as causas principais incluem baixa contagem espermática, motilidade deficiente dos espermatozóides, problemas ejaculatórios ou mesmo a qualidade do esperma. A causa ou as causas da infertilidade secundária podem ser determinadas em cerca de dois terços dos casos. Para um terço dos casais, a razão para não engravidar ou não levar a gravidez até o fim é desconhecida.
O estilo de vida também pode contribuir para o aparecimento da infertilidade secundária. Tabagismo, uso e abuso de drogas e álcool, doenças sexualmente transmissíveis e excesso de peso podem interferir na fertilidade do casal. Em alguns casos, a infertilidade secundária surge em razão do envelhecimento. Com a idade, a capacidade da mulher de conceber um bebê decresce. A fertilidade feminina começa a declinar a partir da metade da terceira década de vida, quando os ovários liberam menos óvulos e a qualidade deles vai declinando.
Os óvulos envelhecem a cada ano que passa, mais rapidamente do que a mulher. Assim, uma mulher que tenha tido seu primeiro filho por volta dos 34 anos estará muito menos fértil aos 39 anos, quando ela ainda se julga apta a conceber um segundo bebê.
A idade também aumenta a chance da mulher desenvolver endometriose e outras desordens que interferem no sucesso da concepção e da gravidez. O risco de abortos espontâneos também aumenta com a idade: a taxa de aborto natural está em torno de 10% para mulheres nos seus 20 anos, 20% para mulheres com idade entre 35 e 39 anos, e cerca de 50% para mulheres com idade entre 40 e 44 anos. A fertilidade masculina também diminui com a idade. Na medida em que envelhecem, os homens produzem espermatozóides em menor quantidade e com menos motilidade. Homens em idade mais avançada podem também apresentar problemas para manter a ereção.
Abalos psicológicos
O estresse emocional e a ansiedade que um casal sente lidando com a infertilidade secundária podem ser ampliados pela falta de compreensão da família e de amigos. Este tipo de situação é menos reconhecida e compreendida pelos mais próximos do que os casos de infertilidade primária. Tanto a família, quanto os amigos podem não entender o sofrimento de quem enfrenta dificuldades para engravidar pela segunda vez. Esta falta de compreensão e empatia do círculo social pode provocar sentimentos de inadequação, é como se o casal não tivesse o direito de ficar triste por não conseguir a segunda gravidez, uma vez que já tem um filho.
Outra fonte de estresse vem do fato de estarem cercados por casais que não tiveram problemas para engravidar do segundo ou do terceiro filho. Se o casal sofre de infertilidade primária, ele pode evitar o mundo infantil, mas quando o casal já tem um filho, ele está mergulhado nesse universo e não pode deixar de participar de festinhas de aniversário e de outras atividades infantis, onde encontra casais grávidos e cheios de filhos.
Tratando o problema
Assim como a infertilidade primária, a secundária pode, na maioria das vezes, ser diagnosticada e tratada. Exames apropriados podem revelar problemas com hormônios, contagem espermática e bloqueios tubários, dentre outras causas. É importante obter o diagnóstico apropriado e tratar o problema o mais cedo possível.
O tratamento varia de acordo com a causa do problema. Existe uma possibilidade de sucesso de gravidez, se o casal procurar ajuda médica no tempo adequado, ou seja, assim que notar a dificuldade para engravidar. Casais que sofrem a infertilidade secundária, muitas vezes, podem não saber da gama de tratamentos seguros e eficazes disponíveis destinados a solucionar este problema.
Prof. Dr. Joji Ueno é ginecologista, especialista em reprodução humana, Doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da USP, diretor da Clínica Gera.
Para saber mais, acesse: www.clinicagera.com.br