Psicóloga formada em 1998 pela Faculdade de Ciências e Letras, com validação e equivalência de diploma pela Universidade...
iO substantivo violência, segundo o Novo Dicionário Aurélio, é o ato de constrangimento físico ou moral com o uso da força.
A violência faz parte da vida do homem desde que o mundo é mundo e dependendo do momento histórico, ela sofre variações.
Convivemos atualmente com vários tipos de violência: a violência direta da guerra, do trânsito, do assalto, do tráfico de drogas, sendo que todas matam e destroem até a violência das compulsões consumistas, do exagero do culto ao corpo, a violência política diante das quais a sociedade atual identifica como o grande perigo que ameaça a qualidade de vida.
Atualmente não há um território privilegiado e isso nos remete a pensar que a dificuldade ou a obscuridade de um assunto não é razão suficiente para o desdenhar. A violência está impedindo o homem de usufruir sua liberdade, vivendo enjaulado dentro de seu próprio mundo. É como se vivêssemos em dois mundos alternadamente: o dos fatos e dos símbolos (sonhos, fantasias, desejos, ficção).
A realidade, muitas vezes, não é clara e nem sempre nos parece inteligível. Os fatos podem parecer tão agressivos que as pessoas acabam por negá-los, recolhendo-se na fantasia. Dessa forma, a imaginação toma corpo, pois é moldada conforme nossa vontade.
O instinto de conservação do homem o faz proteger-se. Desde a antigüidade, o homem se refugiava nas cavernas para se proteger dos animais selvagens.
Hoje, de alguma forma, a situação se repete: medo x proteção. Ao invés de vivermos num país de primeiro mundo, estamos vivendo no primeiro dos mundos (caverna). O homem começa a identificar a violência em seus aspectos externos, visíveis e cruéis e a proclama como a vilã do presente que ameaça a qualidade de vida.
Disse Descartes: "Se eu conhecesse sempre claramente o que é verdadeiro e o que é bom nunca estaria em dificuldade de escolher o que deveria fazer." Muitas vezes, o homem faz sua escolha por um ato irracional de livre-arbítrio. Isto quer dizer, que a violência se opõem à liberdade, tornando-se um obstáculo que impede a satisfação dos nossos desejos. Dentro de uma análise psicológica, o fato do ato parecer gratuito ao seu autor não quer dizer que realmente o seja, pois pode ser determinado por motivos inconscientes, que podem ser aprendizagens esquecidas. Muitas vezes, passamos por uma experiência, e assimilamos alguns conceitos dos quais não percebemos e que ficam registrados e que podem levar à violência.
A tentação do assassínio gratuito corresponde ao impulso de uma agressividade exacerbada conseqüência de frustrações mais ou menos distantes.
O grande impasse da vida contemporânea consiste no fato do ser humano remover seus medos, levando uma vida que se cria a partir da desistência, renúncia e frustração, acreditando ser uma forma equilibrada de evitar maiores males. Por exemplo, as casas que vivemos atualmente, têm muros altíssimos, fios de alta tensão, cães treinados, câmeras de vídeo, seguranças, etc. Tentamos solucionar o problema através da conseqüência e não da causa.
Em nossa sociedade a violência começa a ser um estado de consciência. Erradicá-la, como um passe de mágica, é impossível, e esse desejo de todos levará décadas. Geralmente a crença de quem foi vitimada se mantém através da raiva e do medo. Nesse momento, o sentimento de impotência prevalece, dificultando-o de ter coragem para criar saídas satisfatórias. A violência é a própria expressão da incompletude humana, sempre buscando a dimensão que falta até mesmo quando tudo sobra.
A coragem, segundo André Comte Sponville, não é ausência de medo, é a capacidade de enfrentá-lo, de dominá-lo, de superá-lo, o que supõe que ela existe ou deveria existir. A coragem é uma forma de enfrentamento que está ligada ao medo, que por sua vez, sem ele o ser humano não precisaria ter coragem. Nesse sentido, é importante que o psicólogo explore da maneira mais ampla possível os conteúdos ligados aos medos, para que os indivíduos possam perceber as suas possibilidades e limitações e assim, mobilizar energias que o levem a atuar de maneira mais equilibrada, voltando a sua ação para o comportamento da coragem. Nesse momento, a pessoa vive a sua própria realidade impulsionada pela realidade externa.
O indivíduo passa experienciar aquilo que ele pode e o que não pode. O fator intuição, persuasão e confiança atuam como elementos facilitadores na estruturação da coragem. E o que fazer, então? Dentre as ciências que se ocupam do homem, encontra-se a Psicologia. Um dos seus papéis na organização social é a busca da realização do indivíduo considerando a sua singularidade na estimulação de todos os seus valores integrando-o num mundo constante de transformação.
Ao desenvolver as suas atividades, ele pode recuperar, de um lado, a unidade, e de outro, a personalidade, prolongando-se no espaço por uma forma mais positiva. Trata-se de arrancá-lo de um estado de diminuição intelectual e moral, muitas vezes provocado por suas renúncias, frente as modernas e cruéis condições de vida. Para chegar a tal resultado, a Psicologia intervém no processo de desenvolvimento do indivíduo, o qual se encontra intimamente ligado ao meio em que vive.
A Psicologia estimula o indivíduo na reflexão, no questionamento de suas crenças e valores, na conscientização de sua realidade e possibilidades de transformação.
Adriana de Araújo é Psicóloga clínica e hipnoterapeuta ericksoniana.
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