Diretora Clinica do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional. Médica graduada pela Universidade Federal de Goiás,...
iA Agência Européia de Medicamentos (EMEA) suspendeu, dia 23 de outubro de 2008, a comercialização do medicamento Acomplia - cuja droga é o rimonabanto - em todos os países da União Européia. A droga vinha sendo usada naqueles países desde junho de 2006 para o tratamento de um tipo especial de obesidade associado à chamada Síndrome Metabólica.
No Brasil, após uma longa espera, o medicamento foi aprovado pela ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária em abril de 2007, e liberado pela CMED Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos em julho do mesmo ano.
Aprovado em mais de 50 países, o medicamento já é usado por mais de 500 mil pacientes em todo o mundo, entanto, foi vetado nos Estados Unidos, em junho do ano passado, por um comitê de 14 especialistas do FDA, a agência norte americana que regula os medicamentos e alimentos. O FDA decidiu aguardar mais tempo e mais pesquisas a cerca dos efeitos colaterais da droga, especialmente os distúrbios psiquiátricos associados a ela, tais como depressão, ansiedade e problemas do sono.
Na verdade, o rimonabanto não é um medicamento aprovado como emagrecedor, pois ele tem efeitos metabólicos muito mais importantes do que seu potencial de fazer perder peso. O fato de ajudar na perda de peso de alguns pacientes não faz dele um emagrecedor.
Ele pode até ser menos eficiente do que a maior parte dos medicamentos que já dispomos para auxiliar a perda de peso. Seus mais importantes efeitos ocorrem na correção de várias alterações metabólicas que comprometem alguns pacientes com a chamada Síndrome Metabólica, um conjunto de alterações que envolve obesidade central, triglicérides elevados, HDL ou colesterol bom baixo, hipertensão arterial e pré-diabetes ou diabetes franco.
Efeitos colaterais
Os efeitos colaterais sempre foram um capítulo muito sério do rimonabanto. O que acontece é que o medicamento bloqueia alguns receptores cerebrais intimamente ligados ao nosso sistema de compensação ou aos nossos mecanismos anti-estresse. Sabíamos que a ingestão do remédio poderia ser intensamente agressiva para alguns pacientes, pois retirava deles a capacidade de tolerar as angústias, as frustrações e tudo o que representa desprazer. Logo, ele só poderia ser consumido com acompanhamento médico rigoroso e com seleção criteriosa dos pacientes.
A bula do medicamento já alertava para esses fatores e já contra-indicava o seu uso para pacientes com antecedentes de depressão e síndromes ansiosas graves. Sabíamos inclusive, que pacientes que nunca manifestaram esses problemas poderiam apresentá-los quando expostos ao rimonabanto. Vale destacar também uma preocupação com o que observávamos, às vezes, em nossos pacientes que faziam uso do medicamento: um desinteresse pela comida, uma insatisfação vaga. Sabemos que essa apatia e esse desinteresse podem também refletir certo desinteresse pela vida.
Motivos da suspensão
De acordo com o EMEA, a decisão de retirar o rimonabanto do mercado, se baseia na coletânea de dados e trabalhos científicos que revelam que os pacientes obesos que tomam o Acomplia têm o dobro de risco de apresentar doenças psiquiátricas quando são comparados àqueles que tomam placebo. No Brasil, o laboratório Sanofi-Aventis tomou a decisão de seguir as recomendações da Agência Européia e retirou o produto do mercado, mesmo sem a interferência da Anvisa, onde o registro do medicamento continua válido. O medicamento não será comercializado nas farmácias brasileiras até que se possa avaliar os riscos reais do uso da droga.
Esse é mais um capítulo difícil da nossa atuação no atendimento dos pacientes obesos. Difícil, pelas tão escassas armas terapêuticas, cientificamente eficazes que dispomos para o manuseio desses pacientes. Só nos resta trabalhar mais e estudar ainda mais, para buscar novos rumos e novas esperanças para as pessoas que lutam cronicamente contra o mal da obesidade e suas inúmeras seqüelas.
Dra. Ellen Simone Paiva é médica é especializada em endocrinologia e nutrologia. Diretora clínica do CITEN - Centro Integrado de Terapia Nutricional.
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