Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
i... Bernardo, 12 anos, foi atendido por mim pela primeira vez. Eu já havia atendido na sessão anterior o pai e a mãe de Bernardo, sozinhos. Os pais eram separados e cada um tinha uma visão diferente do filho. A mãe repetia que o pai pouco via o filho, por isso não sabia de nada dele.
Na história de Bernardo, um evento estressor grave havia ocorrido há alguns anos, que foi a morte de seu irmão mais velho, na época, com 14 anos, fruto de um acidente. Após isso, Bernardo passou a ficar mais agressivo, mais revoltado e seu rendimento escolar caiu expressivamente.
Sua mãe estava preocupada, pois Bernardo já tinha sido levado a outros profissionais e estava sendo medicado com quatro medicamentos em doses altas para a idade dele, segundo palavras da mãe, ao ler o conteúdo da bula dos medicamentos. Ao término da consulta com os pais eu forneci questionários específicos para serem preenchidos por pais/familiares e pelos professores do Bernardo. Na segunda consulta, agora com o Bernardo e seus pais, vi que mãe e filho eram mutuamente hostis e agressivos. Bernardo mostrava-se bastante irritado. O pai não encontrou espaço para suas colocações, pois a mãe o interrompia sempre.
Em menos de 10 minutos Bernardo sofreu reprimendas e inúmeras críticas por parte da mãe, e revidou todas. Pedi para os pais saírem para que eu pudesse conversar a sós com o Bernardo. Após um momento inicial onde ele foi hostil comigo, ficou calmo e educado, pois percebeu que eu estava ali não querendo criticá-lo ou julgá-lo, simplesmente queria entender o que estava ocorrendo e tentar ajudar.
Bernardo me contou muitas coisas, ficando evidente que ele se sentia rejeitado pela mãe, que ele não gostava de sua aparência e que havia engordado muito. Seus olhos ficaram marejados , mas logo ele se recompôs dizendo que homem não chora, isso é pra maricas.
Disse que tenta agradar a mãe de todas as formas, mas que ela nunca fica satisteita, que sempre quer mais e mais dele. Eu nunca dou uma a dentro com a minha mãe ... disse ele. Ficou claro também, toda a sua raiva e revolta em relação a várias coisas. Ele se sentia obrigado a tomar todos aqueles medicamentos, sem saber para quê eram, ele não havia sentido nenhuma melhora, ao contrário, e que ele sabia que o que ele tinha que melhorar dependia de sua força de vontade e não dos remédios.
Disse que tomava os remédios passivamente para não desagradar a mãe. Enfim, muito mais foi debatido e ao final daquela consulta ele se mostrou muito motivado para voltar ao consultório uma vez na semana para traçarmos um plano de tratamento para ele e para os seus pais.
Ficou claro para ele que ele fazia tudo que a mãe mandava, pelo simples fato da mãe mandar, porque ele tinha medo de magoar a mãe, etc., engolindo tudo aquilo sem digerir e sem processar , apesar de sentir muita raiva da vida ter que ser assim, conforme ele me disse.
Confira a análise da especialista sobre este caso
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência.
Para saber mais, acesse: www.evelynvinocur.com.br