Paulo Serafini é médico graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e possui doutorado em Medicina (Obstetr...
iHá trinta anos, em 1978, nascia Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, no mundo. De lá para cá, a Medicina Reprodutiva avançou e passou a oferecer técnicas menos invasivas e mais sofisticadas.
Hoje, temos à disposição informações e recursos tecnológicos que possibilitam a realização do processo de maneira muito mais precisa, melhorando as perspectivas de um bom resultado. Louise Brown nasceu em 25 de julho de 1978, em Bristol, Inglaterra, como resultado do processo de Fertilização in Vitro (FIV) conduzido por pesquisadores britânicos. A técnica já era utilizada experimentalmente em ovinos e bovinos, e passou a ser amplamente estudada por cientistas americanos e ingleses em meados dos anos 70.
No caso da família Brown, a constatação de uma obstrução de trompas da mãe - uma causa bastante freqüente de infertilidade foi a mola propulsora para que os especialistas Patrick Steptoe e Robert Edwards optassem pela FIV. O que mudou em 30 anos Para entender as principais mudanças ocorridas, precisamos saber como era e como é realizada hoje a FIV.
O primeiro passo do tratamento consiste no estímulo à produção de óvulos e espermatozóides através de gonadotrofinas medicamentos que vão estimular as gônadas (glândulas reprodutivas). Há trinta anos, essas substâncias sintéticas ainda eram muito impuras e não havia uma maneira precisa de acompanhar o amadurecimento do óvulo no organismo feminino.
Hoje, os hormônios estimulantes sintéticos são produzidos de maneira muito mais avançada, portanto mais são puros, e a análise de amadurecimento de óvulos é realizada de maneira precisa, através do ultrassom vaginal. Atualmente, a coleta dos óvulos é realizada de maneira transvaginal, através de uma guia acoplada a um ultrassom e com a paciente sedada.
Os óvulos são aspirados e depois analisados em laboratório. Antes, o procedimento era realizado através de laparoscopia, que implicava em internação hospitalar e utilização de anestesia geral. Hoje, o método é minimamente invasivo e muito mais cômodo para a paciente. Após a análise em laboratório, os óvulos são unidos aos espermatozóides quando ocorre a fertilização - para serem implantados no útero três dias após a coleta.
O refinamento de todas as técnicas do processo vem possibilitando a implantação de um número cada vez menor de óvulos fertilizados, o que evita gravidez múltipla, uma das possibilidades em FIV. Na Europa, a determinação é que sejam implantados até dois embriões. No Brasil, a recomendação é a de que sejam implantados no máximo quatro, porém, em média, são implantados dois.
Em geral, quando se sabe do nascimento de trigêmeos ou mais, o fato está relacionado a uma estimulação ovariana mal acompanhada e não à FIV. Novas técnicas Um dos maiores avanços em FIV está relacionado a ICSI - intra citoplasmatic sperm injection desenvolvida em 1991 por cientistas italianos. Nela, o espermatozóide é introduzido no óvulo maduro, por meio de uma microscópica injeção. A técnica tornou-se o segundo grande marco na história da ciência da Reprodução Humana Assistida, depois do nascimento de Louise Brown.
É um requinte tecnológico da micro-manipulação de gametas, semelhante a colocarmos algo dentro de um ovo, sem quebrar-lhe a casca. O advento da ICSI trouxe avanços científicos significativos, como as técnicas de coleta de espermatozóides diretamente do testículo, e praticamente fez com que o fator masculino de infertilidade passasse a não existir. Outros avanços fundamentais são as técnicas de congelamento de embriões, desenvolvida a partir de 1984, e a de congelamento de óvulos, que chegou ao Brasil vinte anos depois.
Quando se fala em Reprodução Humana, os óvulos ainda representam um grande desafio da ciência. Se os óvulos têm qualidade, todas as técnicas de Reprodução Assistida podem obter excelentes resultados. Eles representam uma fronteira nesse avanço, uma vez que os óvulos que envelhecem não têm tratamento.
Talvez, o futuro esteja relacionado à colonização dos ovários a partir da implantação de células-tronco. Um futuro que pode estar muito mais próximo do que se imagina.
Paulo Serafini é ginecologista e especialista em Reprodução Humana e diretor da Huntington Medicina Reprodutiva.
Para saber mais, acesse: www.huntington.com.br