Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iPesquisas mostram aumento no número de atendimentos a crianças e adolescentes americanos por serem portadores de Desordens Bipolares num período de dez anos (de 1994 à 2003).
A Psiquiatria está passando por várias reformulações e grandes avanços, principalmente no caso específico da psiquiatria infantil, onde os estudos e trabalhos de campo e de pesquisa têm sido ainda maiores, com o advento das neurociências e estudos em neuroimagem e genética molecular.
Mas o fato é que a o aumento dos diagnósticos em Psiquiatria tem trazido calorosos debates. As mais variadas hipóteses têm sido levantadas, como a de que médicos estariam fazendo diagnósticos e tratamentos de modo mais agressivo ou até um possível superdiagnóstico, ou seja, toda criança atendida que fosse agressiva ou explosiva, já sairia da consulta diagnosticada e tratada como bipolar, o que levaria ao surgimento de outras polêmicas, uma vez que o custo de um tratamento para Transtorno do Humor Bipolar pode ser de três a cinco vezes mais caro do que o de outras doenças, como Ansiedade ou Depressão. Ainda mais que tais tratamentos, além de poderem não corresponder aos benefícios esperados, podem gerar efeitos colaterais adversos sérios como o ganho de peso.
O motivo real não sabemos, mas verdade é que a magnitude da situação tem sido tema de calorosos debates.
Transtorno do Humor Bipolar se caracteriza por alterações intensas do humor e até há pouco tempo se achava que a condição só afetava os adultos, poupando os pequenos.
Pensando sob outro ângulo, alguns psiquiatras dizem que o Transtorno Bipolar é um problema muito freqüentemente não diagnosticado em crianças e que tal fato merece reflexão e estudo, na medida em que os médicos, conhecendo mais o transtorno, estariam beneficiando aquelas crianças e adolescentes portadoras do transtorno. Dr. John March, chefe de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Universidade de Duke, acha que a situação reflete uma imaturidade nessa área dos transtornos bipolares em crianças. Segundo ele, ainda não há meios de se fazer um diagnóstico com perfeição em crianças pequenas, do ponto de vista do desenvolvimento. Diz também que a maioria das pesquisas mostra que crianças qualificadas para o diagnóstico não apresentariam os sintomas clássicos do transtorno como o estado de mania, ao contrário, tornar-se-iam crianças deprimidas. Dr. Mani Pavuluri, diretor do programa de transtornos do humor da Universidade de Illinois, Chicago, fala que o rótulo do Transtorno do Humor Bipolar, geralmente, é melhor do que qualquer outro diagnóstico para crianças difíceis. Ou seja, para aquelas que apresentam ódio, raiva extrema e incontinência afetiva e do humor, emoções insuportáveis para essas crianças. E que seria bom se finalmente esses sintomas fossem reconhecidos como parte de uma doença única. Pesquisadores de Nova York, Maryland e Madri analisaram dados de pesquisa do Centro Nacional para estudos epidemiológicos em Saúde com foco em médicos particulares e estimaram um aumento do diagnóstico de Transtorno Bipolar do Humor da ordem de 780 mil, no mesmo período de 1994 a 2003. Dr. Mark Olfson, pesquisador em Saúde Mental da Universidade de Columbia há anos e chefe da atual pesquisa, revelou que foi o aumento mais surpreendente em período curto de tempo. Ele diz que tal resultado fez o Transtorno do Humor Bipolar mais comum entre crianças do que a depressão. Segundo o estudo, psiquiatras fizeram quase 90% dos diagnósticos e que 2/3 das crianças, eram meninos. Cerca de metade dos pacientes apresentava outras dificuldades mentais, como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. O tratamento quase sempre incluía medicamentos. Metade deles recebeu drogas como a risperidona ou a quetiapina, ambos aprovados para o tratamento da esquizofrenia. 1/3 recebeu o estabilizador de humor chamado Depakote. Psicoestimulantes e antidepressivos também eram usados. A maioria das crianças recebia combinação de duas ou mais drogas e cerca de quatro em dez crianças recebiam psicoterapia. O estudo achou que a metodologia usou recursos similares ao do tratamento do Transtorno Bipolar do Humor em adultos.
Especialistas disseram que o aumento dos diagnósticos de Transtorno do Humor Bipolar em crianças e adolescentes reflete vários fatores. Estudos recentes sugerem que sintomas bipolares de fato aparecem mais precocemente na vida de adolescentes e crianças pequenas, que desenvolvem os sintomas plenos da doença em idades mais tardias. E que o diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência dá aos psiquiatras e aos familiares, um tratamento para as chamadas tempestades afetivas , verdadeiras crises de fúria . Os psiquiatras têm sido encorajados a pensar e pesquisar o Transtorno do Humor Bipolar e várias drogas já estão aprovadas no tratamento em adultos. A risperidona foi aprovada pelo FDA para o tratamento do Transtorno do Humor Bipolar na Infância e Adolescência em agosto de 2007.
Não só o Transtorno do Humor Bipolar, mas também o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e outros transtornos geram controvérsias, com admiradores e opositores. É o caso da Dra. Gabrielle Carlson, da Universidade Stony Brook em Long Island. Ela diz que todos estão inundados com divulgações maciças de Laboratórios de remédios dizendo que os médicos não estão diagnosticando o Transtorno Bipolar do Humor e outras coisas. Alguns pais de crianças diagnosticadas como portadoras de Transtorno do Humor Bipolar dizem que o rótulo levou a tratamentos efetivos, com o tempo. Foi uma benção para nós, pois meu filho de 15 anos tendia a explosões de raiva até tomar lítio e risperidona por muito tempo. Agora ele toma só o lítio e é um ótimo estudante , disse uma mãe.
Evidentemente, outras declarações não foram tão otimistas assim. Fato é que ainda temos muito caminho pela frente no que tange ao total entendimento de um transtorno tão grave e tão sério quanto o Transtorno Bipolar do Humor, tanto em crianças, adolescentes e adultos.
Artigo publicado na revista The New York Times, 03 de Setembro de 2007 por Benedict Carrey
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência. Para saber mais, acesse: www.evelynvinocur.com.br