Médico oftalmologista autor e editor de 15 livros sobre catarata, cirurgia refrativa e administração em oftalmologia.&nb...
iÉ na hora de acender os faróis! Segundo estatísticas da Polícia Rodoviária Federal, quase 30% dos acidentes nas estradas ocorrem entre 17h e 20h. Segundo os oftalmologistas, é justamente nesse período de tempo que o mecanismo da visão passa por uma mudança que torna o olho humano muito mais sensível à luz. Dentre as razões para a concentração de acidentes neste período, estão a dificuldade natural do ser humano para enxergar em situações de pouca luz, iluminação pública deficiente e o desrespeito às leis de trânsito.
Privilegiados com dias longos, os brasileiros não têm como prioridade cuidar da visibilidade noturna. Em países do hemisfério norte, onde em tempos de neve a escuridão prevalece na maior parte do dia, conseguir enxergar à noite na rua é uma questão crucial. Por isso, usam-se materiais que refletem a luz e acerta-se a parte elétrica do carro. No Brasil, não são raras as notícias de motoristas que não se preocupam nem em regular os faróis, um cuidado simples que pode reduzir o risco de acidentes.
À noite, a visão pode nos pregar peças, principalmente para quem já tem algum problema de visão. Em condições de pouca luminosidade, a capacidade de enxergar é reduzida em até 30%. A hora do lusco-fusco - transição entre dia e noite - é crítica para o condutor de veículos. A perda de noção de distância e profundidade estão entre os riscos para os condutores de veículos. Com a percepção afetada, os reflexos ficam mais lentos.
Mesmo uma pequena deficiência visual pode atrapalhar o motorista na hora de dirigir à noite. Mesmo que a pessoa não sinta falta de óculos durante o dia, a deficiência à noite é bastante agravada.
Medidas de segurança
A receita para uma direção tranqüila à noite abrange óculos e lentes adequados; estradas bem pavimentadas e iluminadas; faróis regulados e a posição correta do motorista no assento em relação ao painel e retrovisores. Enxergar à noite já é um exercício para quem tem a visão normal. Fica mais difícil para quem possui alguma deficiência visual ou quem está com idade avançada.
A visão de quem tem miopia, astigmatismo, glaucoma e catarata piora devido à falta de iluminação suficiente e os faróis ofuscam a visão fazendo com que se perca a noção de profundidade. Nestas condições, os reflexos do motorista ficam mais lentos porque entre míopes e astigmáticos a noção de distância em relação aos outros veículos é maior do que a real.
Para enxergar melhor à noite, sugiro o uso de filtros para óculos, com lentes amarelas. O motivo é que quem possui alguma deficiência visual pode perder de 10% a 25% da visão à noite. Este percentual varia de acordo com o vício de refração de cada motorista. Por exemplo, os míopes, na hora do lusco-fusco, chegam a diminuir até duas linhas - medidas de acuidade visual da Carta de Snellen, a escala optométrica utilizada por oftalmologistas para medir a capacidade de visão dos pacientes.
Os motoristas que se submeteram à cirurgia de catarata, com lentes intra-oculares implantadas, podem apresentar alterações no ofuscamento. A redução da visão à noite depende da visão de contraste. Geralmente, quem tem a visão de contraste diminuída possui olhos operados de cirurgia refrativa ou são portadores de opacidades, como a catarata.
Como a catarata é prevalente na população idosa, os condutores da terceira idade devem estar sempre com o exame oftalmológico em dia. Um relatório do ICO - Conselho Internacional de Oftalmologia -, de 2004, mostrou que, nos Estados Unidos, a principal causa de morte por ferimentos entre pessoas de 65 a 75 anos é o acidente automobilístico. Nessa categoria, 95% das lesões são relacionadas a problemas de visão.
No Brasil, para obter a Carteira de Habilitação, é preciso fazer uma bateria de exames, entre eles a avaliação oftalmológica, que inclui o teste de visão noturna e de ofuscamento. O Contran Conselho Nacional de Trânsito - determina que motoristas de até 65 anos devem renovar seu exame a cada cinco anos. Após essa idade, o intervalo passa a ser de três anos, período que pode ser reduzido, se o médico perito constatar algum problema no motorista. A avaliação oftalmológica feita no Brasil está em consonância com os parâmetros utilizados nos Estados Unidos e em países da Europa - embora alguns deles já tenham adotado restrições para impedir que motoristas com baixa visão noturna dirijam no período da noite.
Virgilio Centurion é oftalmologista e diretor do IMO, Instituto de Moléstias Oculares.
Para saber mais acesse: www.imo.com.br