Uma das maiores preocupações dos cirurgiões plásticos, hoje, é explicar à sociedade que o sucesso da cirurgia plástica envolve a escolha de um profissional gabaritado pelo paciente. Em setembro do ano passado, o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Cremesp, divulgou um levantamento revelador sobre a cirurgia plástica e a realização de procedimentos estéticos no estado de São Paulo. Segundo os dados do Cremesp, cerca de 97% dos médicos que respondem a processos éticos-profissionais relacionados a cirurgias plásticas e procedimentos estéticos não possuem título de especialista na área.
Os dados que foram levados em conta pelo órgão abrangem a análise de processos éticos que tramitaram no órgão de janeiro de 2001 a julho de 2008, totalizando 289 médicos. Deste contingente, 139 médicos (48,1%) não têm título em nenhuma especialidade médica. Já 143 médicos (49,5 %) possuem título em especialidades não relacionadas à cirurgia plástica e procedimentos estéticos. Dentre os médicos processados, figuram 6 cirurgiões plásticos (2,1%) do total e apenas um dermatologista (0,3% do total).
Os planos de saúde, hospitais e o SUS exigem o título de especialista quando contratam um médico especialista. Mas quando a procura envolve a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos, que não contam com cobertura dos convênios e do SUS, o próprio paciente faz a escolha destes profissionais. Temos que educar a população para que ela possa escolher apropriadamente estes profissionais. É importante fazer alertas constantes sobre os riscos dos tratamentos com profissionais não habilitados.
Atraídos pela propaganda enganosa
A publicidade médica irregular é a infração mais recorrente nos processos analisados pelo Cremesp que envolvem a cirurgia plástica e os procedimentos estéticos. Esta prática abrange a exposição de pacientes (mostrando o "antes" e o "depois"), a divulgação de técnicas não reconhecidas, de procedimentos sem comprovação científica e a mercantilização do ato médico (anúncios em quiosques de shoppings, promoções onde o "prêmio" é uma cirurgia plástica, consórcios e crediários para realização de cirurgias plásticas).
Ao se deparar com anúncios como estes, o paciente deve ficar alerta. A cirurgia plástica não pode ser oferecida como uma vantagem, uma bagatela, um grande negócio... Ela é uma cirurgia como outra qualquer, com todos os riscos envolvidos em qualquer cirurgia. Você escolheria num quiosque de shopping um cirurgião cardiovascular para operar o seu coração? Você aceitaria ganhar numa promoção um transplante de um órgão que você necessita muito? Certamente, não. O pensamento em relação à cirurgia plástica deveria ser o mesmo, mas não é.
Imperícia profissional
O segundo tipo mais recorrente de infração no campo da plástica e dos procedimentos estéticos, que figura em 28,39% dos processos, refere-se à má prática (negligência, imperícia ou imprudência). São motivos de queixas: erros de diagnóstico, prescrição errada de medicamentos, métodos inadequados de tratamento, má assistência no período pós-operatório, complicações anestésicas, erros em cirurgias, altas precoces, resultado insatisfatórios de cirurgias plásticas, prejuízos à saúde do paciente, danos estéticos irreversíveis, realização de procedimentos sem o conhecimento do paciente, desentendimento sobre cobranças de honorários, condições inadequadas de funcionamento das clínicas de estética e até mesmo o óbito do paciente (registrado em dois dos processos julgados pelo Cremesp).
Queixa número um: lipoaspiração
De acordo com o mesmo levantamento do Cremesp, a lipoaspiração é o procedimento médico que mais aparece nos processos ético-profissionais, com 70 menções, ou seja, 33,50% do universo analisado. Em seguida, as queixas são referentes à colocação de prótese de silicone (42 menções), rejuvenescimento facial (12), bioplastia (9), botox (8), rinoescultura (8), dentre outros procedimentos.
A lipoaspiração é um dos procedimentos mais realizados nos últimos tempos, entretanto, não é recomendado para quem deseja emagrecer, perder peso, mas sim para os que desejam remodelar o corpo, retirar a gordura localizada mudando o contorno corporal. Sendo assim, ela é ideal para pacientes próximos de seu peso ideal e precisa ser muito bem indicada. Para garantir a segurança do procedimento é aconselhável solicitar todas as orientações e certificar-se sobre a escolha de profissionais capacitados para realizar o procedimento e ter ciência de que a lipoaspiração somente poderá ser realizada por cirurgião plástico habilitado, segundo normatização do próprio Conselho Federal de Medicina. A lipoaspiração deve ser feita em um ambiente cirúrgico - um hospital ou uma clínica muito bem equipada - respeitando os procedimentos de assepsia e preparados para qualquer intercorrência.
Quando o assunto é lipoaspiração, a propaganda enganosa pode muitas vezes confundir o paciente e comprometer a sua escolha. "Minilipo, Lipinho ou Lipo Light... Os nomes seduzem e podem até confundir quem quer deseja melhorar o contorno corporal, mas tem medo de se submeter a uma cirurgia. Não considero apropriado 'mascarar' o procedimento, lipoaspiração é sempre lipoaspiração, com os seus riscos e benefícios.
O que aparentemente pode ser traduzido como uma vantagem para o paciente - o preço reduzido - pode tornar-se uma chateação a longo prazo. É desaconselhável fazer várias lipoaspirações de pequeno porte por ano, ou seja, se submeter a várias 'minilipos' pode sair o mesmo preço de uma lipoaspiração habitual, só que com muitos mais riscos à saúde, pois são vários pós-operatórios. As 'minilipos' estão sujeitas às mesmas complicações de uma cirurgia de grande porte. Entre os riscos ligados à lipoaspiração em si estão a possibilidade de retirar gordura demais e deixar o local lipoaspirado um pouco afundado ou de a pele não se retrair e restar um excesso de pele ou gordura, principalmente quando não há elasticidade suficiente.
Dr. Ruben Penteado é cirurgião plástico, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e diretor do Centro de Medicina Integrada.
Para saber mais informações, acesse: www.medintegrada.com.br
Cirurgia plástica precisa ser levada a sério
O sucesso do procedimento envolve a escolha de um profissional gabaritado