Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
Imagine um mundo com cores pouco definidas, às vezes embaçadas, com nuances distorcidas e sem diferenciação entre os tons. Parece bem estranho não é mesmo? Mas é assim que vive 5% da população mundial. Conhecido como daltonismo, o distúrbio se caracteriza por uma irregularidade na percepção visual das cores e causa dificuldade para distinguir determinadas tonalidades, como o azul, verde e vermelho. Uma condição que pode atrapalhar muito a rotina diária de uma pessoa.
O MinhaVida conversou com a oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Dorotéia Matsuura, que tira as dúvidas sobre o distúrbio, que ainda não tem cura. "Hoje o que podemos fazer pelos daltônicos é ensiná-los a aprender a diferenciar cores por meio da luminosidade e saturação que elas apresentam", explica.
1. O que é o daltonismo?
O daltonismo é um distúrbio da percepção visual caracterizado pelo não funcionamento dos cones oculares (células fotoreceptoras da retina), responsáveis por diferenciar todas ou algumas cores. Sua origem está, principalmente, relacionada à hereditariedade e sua incidência é, em média, vinte vezes mais comum em homens do que em mulheres.
2. Como o distúrbio se desenvolve?
Ele pode ocorrer de duas maneiras que são classificadas como congênito ou adquirido. O primeiro tipo acontece quando o paciente nasce com a disfunção na retina. Este é mais frequente em homens e caracteriza-se pela dificuldade de enxergar as cores verde ou vermelha.
O segundo, adquirido, surge a partir de causas secundárias, como lesões no nervo ótico, na retina ou no córtex cerebral - região do cérebro responsável pelo reconhecimento de imagens. Esse caso de daltonismo pode se desenvolver em igual frequência em homens e mulheres, sendo que os pacientes têm dificuldades de enxergar as variantes da cor azul e também apresentam diminuição da qualidade de visão.
3. Então uma pessoa daltônica não enxerga apenas o preto e o branco?
Depende da forma da manifestação da doença. Quando é parcial, a pessoa percebe as cores numa tonalidade mais fraca. Ela reconhece, mas sente deficiência em alguns tons. Enquanto, na forma completa, o individuo não enxerga uma cor específica. Assim, ela pode enxergar outra cor no lugar ou confundi-las, como ocorre entre verde e vermelho. Mas, na ausência total de visão de cores, em que a pessoa não enxerga cor alguma (de incidência muito rara, inclusive), o daltônico pode perceber as cores em tons pastéis ou acinzentados.
4. Como perceber os sintomas em crianças?
Os pequenos apresentam sinais de confusão na distinção de cores, principalmente, no início das atividades escolares. Esse é um sinal importante de que alguma coisa pode estar errada com a visão. Quando ocorrer, os pais devem procurar imediatamente um oftalmologista.
5. Quais são as principais dificuldades de uma pessoa daltônica?
Para pessoas daltônicas, existem algumas limitações em exercer determinadas profissões como atiradores, motoristas profissionais e pilotos. No dia a dia, até mesmo situações aparentemente simples, como combinar as cores ao se vestir, podem gerar dificuldade.
6. Como acontece o diagnóstico do problema?
Existem dois métodos para identificar o daltonismo. Um deles é aplicado para identificar o defeito congênito e, o outro, para o adquirido. Para diagnosticar o quadro de daltonismo congênito, a técnica japonesa chamada de Método de Ishihara é a mais utilizada. Este procedimento consiste na exibição de uma série de 32 cartões coloridos, cada um contendo vários círculos de cores ligeiramente diferentes. Alguns círculos são agrupados no centro do cartão, com um número de cores que somente será visível para pessoas de visão normal. O número de acertos pode variar conforme o grau e o tipo de daltonismo.
Para diagnosticar o daltonismo adquirido, a técnica mais utilizada é o Farnsworth. O teste é composto de quatro bandejas plásticas contendo cem cápsulas em tons diferentes. O observador tem 15 minutos para posicionar as cores em ordem lógica, levando em consideração as cápsulas fixas nas extremidades da bandeja. A escolha inicial deverá ser a cor mais próxima da cápsula principal, e, em seguida, a cor mais próxima da recém-escolhida e assim sucessivamente até completar a ordenação de todas as cápsulas. Se o paciente confundir a ordem ou a posição das cores, o daltonismo é diagnosticado.
7. O tratamento não é capaz de solucionar o distúrbio? Como ele funciona?
O distúrbio não tem cura. Mas, quando o daltonismo é adquirido ele pode apresentar uma evolução no quadro. O tratamento depende da causa do problema. O distúrbio só estabiliza quando a causa do defeito visual é sanada, ou seja, quando a lesão no nervo ótico, retina ou no córtex cerebral é tratada. Em razão disso, o tratamento é baseado no problema de cada pessoa.
8. Porque a incidência é maior nos homens?
O daltonismo, na sua forma congênita, está relacionado à hereditariedade e ligado ao gene do cromossomo X. Para que a doença se manifeste na mulher, ambos os genes X precisam ser portadores da doença. No caso dos homens (XY), apenas um.
9. Podemos nos precaver contra o daltonismo?
No caso da forma congênita da doença, não há prevenção. Na forma adquirida, há prevenção para algumas doenças que são fatores de risco para o daltonismo, como o glaucoma , por exemplo. Os exames periódicos ajudam no diagnóstico precoce de tais doenças e permitem uma prevenção mais efetiva.