Redatora de saúde e bem-estar, autora de reportagens sobre alimentação, família e estilo de vida.
A pressa é sempre dos pais, que não vêem a hora de contar a novidade aos amigos e exibir as habilidades da criança para a família . Mas o bebê não está nem aí para as expectativas e diverte-se à vontade enquanto engatinha, sem dar a menor bola para os adultos que vibram quando ele fica em pé. "Esta é uma fase de muitas descobertas para a criança. Ela fica inquieta e curiosa ao extremo", afirma a pediatra Fernanda Sancho, uma das coordenadoras do setor no Hospital Villa-Lobos, em São Paulo.
Estranhar as pessoas que não são habituais ao ambiente de casa é outra característica deste período. "Acontece o que chamamos de sorriso seletivo: em vez de sorrir para qualquer um, a criança guarda esta reação apenas para as pessoas que ela conhece", diz a especialista. Brincar de esconde-esconde e correr atrás de objetos que são jogados longe são outros passatempos que agradam.
Independência é a palavra-chave desta fase. Com os movimentos do engatinhar, a criança ganha mais firmeza e também passa a sentar sozinha, sem a necessidade de apoio. O aumento da firmeza nos braços e nas pernas é um dos principais benefícios dos passeios em quatro apoios. "Nas semanas em que aprende a engatinhar, os braços e pernas do bebê ainda não estão em sintonia. Mas, insistindo em manter o equilíbrio, ele logo aprende a coordenar os movimentos e fortalece a musculatura, num exercício importante para conseguir andar dali a pouco" afirma o pediatra Leandro Peyneau, também do Hospital Villa-Lobos.
Todas as estruturas ao redor da coluna também são fortalecidas quando os pais deixam o bebê à vontade para correr a casa de quatro e os benefícios alcançam até a fase do desenvolvimento escolar. "Quando a criança engatinha, ela treina a coordenação visual, o que a ajudará mais tarde a ler e escrever", afirma a pediatra Viviane Sonaglio, do Hospital A.C. Camargo, em São Paulo.
Os riscos de acidentes, no entanto, aumentam conforme o bebê vai ganhando autonomia. Fechar bem as gavetas, esvaziar as prateleiras mais baixas dos móveis e proteger as tomadas são alguns dos cuidados que evitam surpresas desagradáveis. Mas as preocupações não terminam aí: os pais precisam entender os limites da criança e respeitar a evolução dela, sem pressão. "Os pais não podem forçar a criança a ficar em pé. A insistência na realização de uma habilidade para a qual o bebê não está preparado pode levar a quedas e contusões, ocasionalmente graves, atrasando ainda mais o desenvolvimento motor", afirma a médica.
Noção de distância
A criança também desenvolve senso de direção quando engatinha. Assim que começa a coordenar os movimentos das mãos e dos pés (o que acontece entre os nove e os doze meses de idade), o bebê descobre que pode escolher para onde quer ir. "Ele aproveita para explorar o ambiente e deslocar o corpo no espaço em direções específicas", diz Leandro Peyneau.
Com os joelhos protegidos, no entanto, os avanços tendem a ser mas rápidos (porque engatinhar não machuca). "Os joelhos podem ser protegidos por um ambiente seguro, com piso limpo, sem grandes falhas e sem objetos que possam lesar a pele do bebê", diz o médico. "Caso os pais optem pelo uso de joelheiras, elas devem ser confortáveis e não apertar, evitando comprometimento de irrigação sanguínea e lesões de pele. Mas, na minha opinião, este acessório é desnecessário", completa a pediatra Fernanda Sancho.
Evite o andador
O andador facilita a ocorrência de acidentes, como os tombos, porque a criança adquire velocidade enquanto anda nele. Além disso, o brinquedo favorece a marcha na ponta dos pés, o que é difícil de ser corrigido mais tarde. "O andador atrasa o desenvolvimento psicomotor da criança. Bebês que utilizam andadores levam mais tempo para ficar de pé e caminhar sem apoio, além disso, engatinham menos", afirma a pediatra Viviane Sonaglio.