Formado em 1976, no Rio de Janeiro, fez especialização em ginecologia na Pontificia Universidade Católica. Em 1978/80, e...
iMuito se fala em causas de infertilidade ligadas a esterilidade imunológica. Mas isso realmente existe?
O espermatozóide é uma célula que tem metade da carga genética de um indivíduo (23 cromossomos). Ao penetrar no óvulo, se unirá a carga genética deste (que também possui 23 cromossomos), formando um novo ser humano, com 46 cromossomos, imunologicamente diferente da mãe.
O ser humano possui um mecanismo de defesa, que é o sistema imune e toda vez que entra em contato com uma proteína estranha, cria anticorpos que vão atacar o estranho e destruí-lo. Acontece com vírus , bactérias, e tecidos, como nos casos de transplantes. Por que então não atacaria o espermatozóide e o embrião que são "estranhos" às células maternas?
No caso dos espermatozóides é ainda para nós uma incógnita, mas o fato é que a medicina nunca conseguiu provar que uma mulher tenha realmente anticorpos contra o espermatozóide. Em estudos realizados em laboratório, estudamos a secreção feminina para avaliar a penetração e sobrevivência do espermatozóide no teste pós-coito. Podemos nos deparar com espermatozóides imóveis ou vibratórios, como se estivessem impedidos de se locomover, presos a "alguma coisa". Podemos então dizer que estão sofrendo a ação de anticorpos.
Estes anticorpos são os de defesa natural do organismo, contra bactérias e combatem os espermatozóides, pois estes também são estranhos. Isto é freqüente em processos infecciosos do colo do útero. Após tratamento da infecção, este fenômeno desaparece e os espermatozóides conseguem chegar ao útero sem problemas.
No caso do embrião, a situação é um pouco mais complexa. A mulher, quando engravida, possui um sistema imunológico que deverá reconhecer as células do feto e placenta como estranhas. Pelo ambiente próprio hormonal e humoral da gravidez, o sistema imune após ser ativado contra o corpo estranho, sofre um bloqueio e passa a tolerar a evolução daquelas células até o final da gravidez.
Em pacientes que sofrem de aborto de repetição, uma das causas pode ser esta ausência de reconhecimento fetal e, conseqüente, falta de bloqueio imune. A gestação evolui e em determinado momento será interrompida pelos anticorpos de defesa do organismo, provocando o abortamento. O tratamento para este tipo de problema, será pela sensibilização da mulher com células paternas e, a partir daí, é realizada uma vacina com o sangue do marido.