Evelyn Vinocur é doutora em Pediatria, graduada em 1978 pela Universidade Federal Fluminense (UFF), especialista em Pedi...
iAs falsas crenças em torno da depressão aumentam a dificuldade de compreender o real sentido do transtorno e a possibilidade de tratá-la. Nosso vocabulário pode desempenhar um grande papel nisso, já que utilizamos a palavra "depressão" para descrever diversas experiências emocionais, tornando a expressão banal. Com isto, o sentido médico da palavra se perde em meio a tantos significados que criamos no dia a dia.
Por conta de sentimentos universais, como a simples sensação de estar triste, muitas pessoas podem acreditar que já conhecem todos os sintomas da depressão, e circulam falsas informações acerca da doença ao meio social. Confira a seguir, os principais mitos que rondam a depressão:
Mito 1: A depressão não é uma doença médica
A depressão é uma condição médica séria, que afeta não só o humor e os pensamentos de quem sofre com ela, como também todo o organismo do indivíduo. As pesquisas mostram que a depressão tem causas genéticas e biológicas. Pessoas deprimidas apresentam maior nível de estresse e podem sofrer as consequências desse fator.
Mito 2: A depressão não tem cura
A depressão tem cura, e mais de 80% dos indivíduos com transtornos depressivos melhoram com o tratamento. Medicamentos modernos e novos tratamentos continuam sendo descobertos. O primeiro passo para um tratamento efetivo, é ser avaliado por um especialista que faça um diagnóstico diferencial, para saber a causa da condição psicológica, que muitas vezes pode estar ligada a distúrbios hormonais, como a desregulamentação da tireoide. Após o diagnóstico, o especialista pode decidir se irá realizar o tratamento por via medicamentosa ou psicoterápica, sendo possível um tratamento misto.
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Mito 3: Estar deprimido e estar triste são a mesma coisa
Fazer um paralelo entre estar triste e ter depressão, seria o mesmo que dizer que resfriado é igual a pneumonia. Muitas vezes nos decepcionamos ou ficamos tristes por diversos fatores, que podem incluir decepções e frustrações frente à vida. Porém, essa tristeza tem curta duração, podendo se prolongar por alguns dias. Já a depressão, pode durar por toda a vida, e trata-se de uma doença invasiva e limitante.
Mito 4: Falar sobre a depressão faz com que ela piore
Por conta de convenções sociais, falar sobre a depressão tornou-se um tabu. Para muitas pessoas, falar sobre a condição é uma tarefa embaraçosa. E portanto, difundiu-se a crença que dialogar sobre a doença faz com que ela se agrave, e o melhor a se fazer é manter-se calado. Porém, diversas correntes psicoterápicas, como a psicanálise, promovem a cura pela fala. É importante compartilhar seus pensamentos com amigos e familiares, além de buscar o auxílio de um especialista. Precisar de ajuda não deve ser algo vergonhoso.
Mito 5: Quem tem depressão é fraco
A depressão, assim como um ataque cardíaco, não pode ser banida. A depressão é um transtorno neuroquímico no organismo, que não pode ser superado simplesmente pelo pensamento positivo ou forte determinação. Devido ao estigma acerca da doença, procurar ajuda para a depressão é um ato de coragem e força, e não de fraqueza.
Mito 6: A depressão "vai embora" sem tratamento
Caso a depressão se finalize sem tratamento, ela irá voltar no futuro, já que um indivíduo ao ter um episódio de depressão, acaba tendo predisposição para ter outros episódios depressivos. A depressão maior é uma doença potencialmente fatal, e o suicídio pode ser o resultado final para muitos que esperam a depressão "passar sozinha sem tratamento ", por conta do preconceito e estigmas acerca da doença.
Mito 7: A depressão faz parte do envelhecimento
A depressão não faz parte de um envelhecimento normal. Mas a idade faz com que tenhamos contato com um número muito maior de adversidades, como a perda de um familiar, de amigos, o surgimento de doenças, isolamento e problemas financeiros. Além disso, grande parte da população de terceira idade, viveu em uma época onde a depressão não era abertamente comentada e conhecida, e eles podem sentir-se constrangidos em falar sobre a doença ou em pedir ajuda. Altas taxas de suicídio ocorrem em maiores de 65 anos de idade, sendo os homens mais vulneráveis do que as mulheres. É imprescindível que os idosos deprimidos busquem ajuda médica para a depressão, caso houver.
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Mito 8: A depressão afeta somente as mulheres
Apesar das mulheres serem duas vezes mais acometidas pela depressão do que os homens, a doença também afeta o sexo masculino. Frequentemente, a depressão clínica é sub-relatada em homens, principalmente em culturas machistas e desencorajadoras, que relacionam o pedido de ajuda à fraqueza. Homens apresentam maiores taxas de suicídio do que as mulheres, e por isto, é crucial que os homens procurem auxílio para os sintomas depressivos.
Mito 9: A depressão não afeta crianças e adolescentes.
Gostaríamos que todas as crianças vivenciassem uma infância alegre e sem preocupações. Porém, esta não é a realidade. De acordo com o Instituto Nacional de Saúde Mental, uma em cada 33 crianças, e um em cada oito adolescentes, apresentam depressão ao longo dessa etapa da vida. As crianças não estão preparadas para falarem sobre seus sentimentos como os adultos, por isso, devemos tomar a iniciativa de procurar e observar sintomas de depressão nessa faixa etária.
Mito 10: Se alguém da sua família sofrer de depressão, você irá herdar essa genética
Do mesmo modo que você pode ser predisposto a ter pressão alta ou diabetes, você pode ser geneticamente predisposto à depressão. Suas chances de ter depressão são maiores do que se você não tivesse nenhum parente com a doença. Porém, isto não significa que você irá desenvolver a patologia de qualquer forma. Há formas de prevenção, e um acompanhamento psicológico deve ser feito com certa frequência.
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