Referência em Pediatria no Brasil por seu enorme conhecimento, o Dr. Jorge Huberman é pós-graduado em Neonatologia pelo...
iOps! A criança fez xixi na cama de novo. Para quem tem filhos pequenos, trocar os lençóis molhados, colocar o colchão no sol e ficar atento aos passos do pequeno são atitudes que fazem parte da rotina durante o período de adaptação entre o adeus as fraudas e o uso do banheiro.
O problema é que muitas crianças quando já estão grandinhas sofrem com a enurese noturna, mais popularmente conhecida como "xixi na cama". Às vezes, o problema é tão marcante, que a criança chega aos 10 ou 11 anos com o problema. "A criança não sabe dizer o que sente, por isso, seu corpo fala por ela. No caso das crianças que permanecem com o problema após os cinco anos, é preciso investigar se as causas são emocionais ou físicas", explica a psicóloga Marina Vasconcellos.
A vasopressina, também conhecida como argipressina ou hormônio antidiurético, é responsável pelo controle da vontade de urinar. Em algumas crianças, os níveis deste hormônio diminuem e ela não consegue segurar a urina. "Isso também pode estar associado a outros problemas físicos e emocionais, por isso, é importante averiguar as verdadeiras causas do problema", explica Jorge Huberman, pediatra do Hospital Albert Einstein.
A dona de casa Maria José, 42 anos, lembra bem dos tempos em que sua filha, Clara, hoje com 26 anos, fazia xixi na cama, acordava, virava o colchão e voltava a dormir. "Ela já tinha uns 10 anos e continuava com o problema. Um dia procuramos ajuda psicológica e descobrimos que ela tinha medo da coleguinha que faleceu e, por isso, não conseguia parar", diz Maria.
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Xixi na cama tem idade certa
É normal que a criança faça xixi na cama até os cinco anos de idade, afinal, ela ainda não tem a capacidade de controlar a urina durante à noite. Porém, quando a situação continua a acontecer após esta idade, a melhor coisa a fazer é identificar as causas do problema.
"Podem ser diversos fatores. Primeiro, é preciso investigar se há alguma causa física, como incontinência urinária, problemas na bexiga ou outros, e então, partir para as possíveis motivações psicológicas", continua Marina.
De acordo com o pediatra Jorge Huberman, a idade do "xixi na cama" pode variar entre 5 e7 anos, dependendo da frequência com que a criança urina na cama. "Às vezes, a criança tem entre 6 e 7 anos e um dia ou outro solta um pouco de urina no colchão. Isso não significa que ela tenha o problema, ela apenas passou por um processo que é natural em qualquer ser humano", continua o pediatra.
Pode ser sinal de que alguma coisa no organismo vai mal
Segundo o pediatra Jorge Huberman, deve-se levar em consideração os seguintes fatores:
- Hereditariedade: o fator hereditário é um dado importante, pois crianças com um dos pais enuréticos (que tiveram esse problema na infância) têm 40% de chance de serem enuréticas. Se ambos forem enuréticos, as chances aumentam para 77%. O problema também está relacionado a fatores emocionais ligados ao estresse, tais como mudança de lar, separação dos pais, nascimento de irmão e outros
- Perda involuntária de urina durante o dia: os pais devem ficar atentos e perceber se o filho solta a urina involuntariamente e se sente dor ou se há sangramento na hora de urinar durante o dia. Isso pode ser um indicativo de que a criança tem ou terá enurese noturna ou alguma disfunção no organismo que desencadeia o xixi na cama. É um problema que pode estar associado a um quadro clínico mais grave, como uma infecção urinária
- Disfunções na bexiga: quando a bexiga não suporta a quantidade de líquido ingerida, a tendência é urinar fora de hora. Um dos tratamentos sugeridos para enurese noturna é o uso do hormônio oxibutinina, que relaxa a bexiga aumentando seu tamanho
- Problemas neurológicos: em casos mais sérios, somente uma visita ao médico poderá dimensionar o problema
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E se for o lado emocional?
Marina Vasconcellos explica que o fato da criança fazer xixi na cama pode sinalizar algumas situações pelas quais ela está passando. "Ela pode estar se sentindo amedrontada, triste ou até rejeitada. É bom conversar para saber", explica a psicóloga. Algumas das razões emocionais para o problema, segundo ela, são:
- Pressão na escola ou pela rotina estressante para a idade: os adultos muitas vezes não percebem que a rotina imposta por eles às crianças é estressante e vai muito além do que os pequenos podem suportar, com isso, as crianças reagem de diversas formas e uma delas é fazer xixi na cama
- Medo de algo: nesta fase, é mais do que normal as crianças ficarem impressionadas com histórias ou ações dos coleguinhas. Tudo ganha uma dimensão maior do que realmente tem. Por isso, é bom conversar na escola e ver o que é está acontecendo. Um acompanhamento com o terapeuta pode ajudar
- Tristeza pela separação dos pais: é a causa mais comum do problema. Os pais, muitas vezes, deixam transparecer os problemas conjugais e a criança se sente culpada ou dividida, daí o xixi para chamar a atenção ou como forma de extravasar a angustia
- Chegada do irmãozinho: neste caso, é natural que a criança regrida para chamar a atenção dos pais, mas o quadro não pode demorar a passar, senão deixa de ser natural para ser um problema.
Além disso, é importante evitar que o problema se transfira para a vida social da criança. Deixar o pequeno exposto às gozações de adultos e crianças é um erro. "Caso ela queira ir dormir na casa de algum coleguinha, explique aos pais dele para evitar constrangimentos", sugere Marina.
Bexiga sob controle
Marina explica que é possível tomar alguns cuidados para evitar ou ao menos amenizar o problema, como:
- Não tomar líquidos pelo menos duas horas antes de dormir
- Evitar chocolate e café à noite, pois, eles estimulam a contração da bexiga, segundo o pediatra Jorge Huberman
- Elogiar quando a criança consegue ficar uma noite sem fazer xixi. "Os estímulos ajudam a reforçar na criança o desejo de parar e, embora não seja algo premeditado, ela consegue se condicionar a segurar a urina", diz Marina. "Repreender a criança como se ela fizesse de propósito só faz com que ela se sinta ainda mais culpada, agravando a situação", continua
- Ludoterapia, que é a modalidade de terapia recomendada e que tem mostrado grandes efeitos. "A criança brinca com o terapeuta e durante a brincadeira, que é planejada e analisada pelo profissional, conta seus traumas e receios. Os desenhos também podem revelar as causas do problema", explica a psicóloga
- Uso de medicamentos que interferem no funcionamento da bexiga e do aparelho urinário, caso seja necessário. "Existem tratamentos à base de hormônios que ajudam a regular a bexiga, como é o caso do oxibutinina e do desmopressina, que alteram o tamanho da bexiga", finaliza o pediatra.