Muita gente insiste em dizer que não existe mais amor de verdade, que as pessoas não querem se comprometer e que, por isso, muita gente está insatisfeita com os relacionamentos amorosos. O que acontece de fato é que as pessoas têm mais liberdade para assumir comportamentos, enquanto há algumas décadas eram totalmente condenadas por optar pela separação, por relações extraconjugais ou relacionamentos mais livres, em que ambos podem ter uma vida social, sexual e até amorosa fora do casamento.
Hoje, entretanto, há mais pessoas tentando esse tipo de relação amorosa conhecido como relacionamento aberto, em que os parceiros têm a liberdade de sair com outras pessoas e relacionarem-se sexualmente e até amorosamente com elas, neste caso poliamor - uma das variações do relacionamento aberto. A psicanalista Regina Navarro, em seu livro "A Cama na Varanda", observa que as pessoas não têm mais que se adaptar a modelos impostos de fora, e então, cada vez mais abrindo um espaço onde novas formas de viver, assim como novas sensações, podem ser experimentadas. Os filósofos Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir, um dos casais mais célebres da História, viveram um relacionamento assim, que durou 50 anos. Essa liberdade era exercida mediante um pacto, no qual eles contavam os detalhes de suas aventuras amorosas um para o outro.
Mulheres Vs. Homens?
Não é à toa que muita gente é totalmente contra esse tipo de "acordo". Uma das razões é explicada pela biologia. A mulher tem um repertório de gametas sexuais formado desde o nascimento, que amadurecem na primeira menstruação. A partir daí, ela libera um óvulo por mês. Isso tende a fazer com que ela se comporte de uma maneira mais seletiva do que o homem, que tem todos os espermatozoides renovados a cada 32 horas. Ou seja, isso explica em partes porque os homens, muitas vezes, priorizam a quantidade de parceiras, enquanto as mulheres procuram relacionamentos mais duradouros. Mas essa é apenas uma parte da questão, tendo em vista que a maneira como somos educados e as nossas escolhas também têm grande influência nos relacionamentos amorosos.
Entretanto, independentemente do fator fisiológico, a vontade de variar existe. A maioria de nós já sentiu vontade de viver uma relação com alguém que lhe agradou, não importando se ama outra pessoa. O fisiologista de comportamento da Unifesp, Ricardo Monezzi explica que a partir dessa ideia, sai o conceito de fidelidade, como exclusividade sexual, e entra com maior importância e força o conceito de lealdade, que envolve a sinceridade e o companheirismo. Uma das ideias expostas por Regina Navarro é que os mais variados aspectos podem provocar o desejo, mas somos historicamente limitados pela ideia de exclusividade sexual.
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Amor sem pronomes possessivos
O casal Heloísa Fernandes e Pedro Mascarenhas mantêm um relacionamento aberto há oito meses. Antes disso, nenhum dos dois tinha vivido nenhuma experiência assim. "Sempre senti que um relacionamento aberto era a melhor solução, mas não tinha coragem para assumir algo assim. Posso sair com outras pessoas quando quero, mas tenho um forte compromisso em não deixar o Pedro de lado. Procuramos nos ver com frequência e até hoje nenhum relacionamento que tivemos interferiu negativamente no nosso", conta Heloísa. Para Heloísa, esse modelo combina com a concepção que ela tem sobre o amor: "nos amamos de verdade e acredito que o amor de fato só existe quando o outro é livre para escolher. Quem ama não quer o outro como sua posse, ou como a satisfação de suas idealizações. Quem ama quer o outro livre e feliz", conta a estudante. "Nossos pais não sabem disso. Prefiro não dizer ainda, pois é algo que, provavelmente, eles entenderiam como promiscuidade", conta ela.
Pedro, no começo, temeu entrar nesse tipo de relação e acha que o acordo deve ser bem conversado: "com certeza um relacionamento aberto não é oposto à responsabilidade. Acredito que em um relacionamento responsável são indispensáveis a comunicação, a confiança e a sinceridade. Só assim é possível amar sem porém, incorporando tudo o que de bom e o que de ruim um relacionamento oferece - inclusive a satisfação sexual", diz ele, que tem 21 anos. Entretanto, ele não considera adequado o modelo do poliamor, pois acha que o amor é uma construção, que demanda tempo e dedicação.
João Lestrange, professor, tem um relacionamento aberto com Gustavo Molina Turra há quatro anos. Hoje, os dois moram juntos e só adotaram o relacionamento aberto depois de um ano de namoro. "Ficamos com outras pessoas, mas não há envolvimento sentimental. Sempre procuramos contar sobre os outros relacionamentos um para o outro e nos amamos de verdade", conta João. Nem tudo são rosas, no entanto. João não obteve aprovação da mãe, mas seguiu nesse modelo, pois acredita que é mais feliz assim, desde que tudo seja bem conversado.
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Para quem diz não
Muitas pessoas têm simpatia pela ideia do relacionamento aberto, mas sentem que não conseguirão viver felizes dessa forma. "Quando há dúvida e ciúmes, investir nesse tipo de relação não trará a menor satisfação", diz Ricardo Monezzi. Portanto, ceder a um relacionamento aberto só porque você se apaixonou por alguém que quer exercitar esse modelo pode trazer uma enorme frustração. Se alguém tem outros relacionamentos às custas da mágoa do companheiro pode ter certeza de que não estamos falando de um relacionamento. "Tudo deve ser uma escolha consciente, tendo em vista que envolve aspectos muito sérios, da vida amorosa de cada um", diz Ricardo.
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