A área da odontologia que visa o atendimento do adolescente, a Odontohebiatria, tem sua recente origem intimamente ligada à constatação científica de que, após o nascimento, nenhuma fase da vida é tão cheia de alterações físicas e psicológicas quanto à adolescência.
É nessa fase que, por exemplo, o ser humano desenvolve sua estatura final. Apesar de não serem quantificadas, as mudanças psicológicas são igualmente significativas, agravadas pela necessidade de os jovens se encaixarem e serem aceitos socialmente em determinados grupos e pela forte influência que padrões de beleza e comportamento exercem nessa faixa etária.
A área ainda não é oficialmente uma especialidade odontológica e, portanto, não há dados sobre quantos cirurgiões-dentistas são especialistas ou atuam nela no Brasil.
A Odontohebiatria tem se enquadrado mais como um campo do conhecimento, englobado a princípio pela Odontopediatria e que vem sendo estudado e utilizado por vários cirurgiões-dentistas em seus consultórios, para aparar as arestas do atendimento desse grupo de pacientes, minimizando os erros e potencializando os acertos, durante o tratamento de um paciente tão peculiar.
Sem preconceitos e mente aberta
Antes de tudo, é de extrema importância que o profissional esteja livre de preconceitos e estereótipos e entenda o universo da adolescência, identificando as alterações pelas quais o indivíduo está passando e ainda tenha discernimento sobre o que são os aspectos normais e patológicos do desenvolvimento nessa fase da vida.
É preciso conhecer a adolescência e suas características, tanto biológicas como psicológicas e sociais. O adolescente passa por transformações metabólicas, hormonais, estresses emocionais advindos de cobranças externas. Eles buscam novos desafios e experiências e se sentem "fortes", "imortais", o que caracteriza os comportamentos de risco.
As crianças, os idosos e os adultos têm facilidade em procurar um atendimento especializado, mas o mesmo não acontece com o adolescente, que se encontra numa fase muito especial da vida. Na maioria das vezes, o adolescente continua o tratamento com o odontopediatra, mas não de uma maneira tão confortável.
Educando e motivando
Outro aspecto importante a que o profissional deve estar atento é que a adolescência é uma fase limite entre a dependência infantil e a autonomia do adulto.
Nesse contexto, os cuidados com a saúde bucal também devem ser transferidos. Essa é uma época em que as tarefas e o controle rotineiro dos pais tendem a diminuir e a responsabilidade dos adolescentes ganha ênfase.
Alguns jovens são capazes de se cuidarem sozinhos e estão cientes da importância da própria saúde bucal. Outros resistem em incorporar hábitos saudáveis por imaturidade, falta de informação, ausência de motivação ou até por rebeldia.
O papel do cirurgião-dentista é se inserir nessa fase como educador e motivador, para introduzir nos hábitos e na rotina do adolescente o cuidado com a saúde bucal e conscientizá-lo da sua importância para a saúde geral.
E isso nem sempre é tarefa das mais fáceis, pela dificuldade própria em se adotar um novo hábito e ainda pelo comportamento contestador de muitos adolescentes.
Relação de confiança
Mostrar ao jovem que ele deve ser responsável por sua saúde bucal não é a única medida importante para obter sua colaboração e atendê-lo de forma completa.
O bom andamento do tratamento depende, e muito, do quanto o cirurgião-dentista conhece o paciente e da relação que mantém com ele.
A anamnese bem conduzida, na presença dos pais ou do responsável já fornece muitas informações sobre o modo de vida, a alimentação, a higiene, a saúde geral, o relacionamento familiar e a personalidade do adolescente. É importante também dirigirmos o nosso questionário ao adolescente, mostrando interesse em escutá-lo.
Além disso, é preciso ter sensibilidade para deixar o adolescente à vontade, percebendo, por exemplo, o momento certo de pedir que ele entre sozinho no consultório para o atendimento, para que possa tirar suas dúvidas e responder às perguntas sem vergonha ou receio.
Construir um vínculo e uma relação de confiança com o paciente também é muito importante, pois o dentista pode se tornar o intermediário entre os pais e os adolescentes, ou entre eles e outros profissionais da saúde.
Ao manter uma relação mais próxima com o jovem e conduzir bem os exames clínicos e anamnese, o cirurgião-dentista é, muitas vezes, o primeiro responsável a saber ou perceber problemas como o uso do álcool, fumo, drogas ou outros.
Um vínculo forte com os pacientes nos traz sempre muita satisfação e orgulho, ao atestarmos que eles estão mais sadios, em termos de saúde bucal, do que nós mesmos, quando tínhamos a idade deles.O profissional deve adequar à forma de se comunicar com esse público, adotando uma postura versátil e informal, porém com linguagem madura.
Definitivamente as "palavrinhas" no "diminutivo" não são a melhor opção. Normalmente, os adolescentes não querem ser tratados como criança, eles se sentem mais próximos dos adultos.