Glaucia Helena Zeferino, formada em medicina pela Universidade Federal de Pernambuco, formação cirú...
iO início da lipoaspiração se deu na Europa, nos anos 70, e teve sua consagração nos Estados Unidos, em 1990. A palavra lipoaspiração vem do termo científico "lipectomia assistida por sucção", que consiste na remoção de tecido adiposo por finas cânulas sobre pressão negativa. Os cortes devem ser pequenos por três motivos: para manter a pressão negativa na sucção, reduzir as cicatrizes, e, finalmente, para escondê-las em pontos que maximizem o resultado estético.
Determinadas regiões do corpo estarão predispostas a "engordar" mais que outras - desde sua origem embriológica. Ou seja, estão mais sujeitas a sofrer o processo dito lipodistrófico. Tais regiões são encontradas nas mulheres nos culotes e abdômen. Já nos homens estão nos flancos e também no abdômen.
Além dessas regiões, braços, pescoço e nuca também estão sujeitos ao processo lipodistrófico, que em determinadas épocas da vida como primeira infância, adolescência, gestação e pré-menopausa ou andropausa, será acentuado caso haja aumento de peso em excesso. Por isso, também será de difícil reversão por meio de dietas ou exercícios.
Na seleção pré-operatória do paciente a ser submetido à lipoaspiração, o exame clínico é importantíssimo. Na grande maioria das vezes, é a chave para o bom resultado cirúrgico. Isso porque, em primeiro lugar, a lipoaspiração é indicada para tratamento da gordura localizada, ou seja, depósitos de gordura que não são resolvidos com dieta e exercícios. Por isso, o ideal é estar com peso adequado ou próximo a adequação para a altura. É importante salientar que a lipoaspiração não é um tratamento para obesidade.
Há em nosso meio médico um consenso de preferência pela "técnica tumescente", que é a infiltração do tecido gorduroso com uma solução a base de soro fisiológico, adrenalina (vasoconstrictor para reduzir as perdas sanguíneas) e, em alguns casos de acordo com a opinião do anestesista, anestésico local. O volume a ser aspirado deve oscilar entre 5% a 7% do peso corporal, o que depende das condições clínicas, nível prévio de hemoglobina sanguínea, existência ou não de cirurgias associadas e da proporcionalidade da relação sangue/gordura aspirada, medida de forma constante no ato cirúrgico.
No caso de lipoaspiração de grandes volumes e/ou com cirurgias associadas, a anestesia peridural combinada a anestesia geral é bem indicada, pois melhora a analgesia no pós-operatório imediato, assim como reduz o risco dos fenômenos tromboembólicos. Isso acontece porque o ciclo neuro-humoral da dor é inibido, portanto não desencadeia resposta inflamatória exacerbada ao trauma, que é fator de gênese do tromboembolismo.
A lipoaspiração realizada de forma excessiva, ou sem indicação precisa, pode trazer complicações imediatas como anemia aguda com descompensação hemodinâmica, distúrbios metabólicos pela perda abrupta de sangue e outros elementos do organismo. Pode causar embolia, principalmente nos obesos, fumantes e indivíduos com outras doenças crônicas, além de complicações estéticas como necroses de pele e grandes irregularidades cutâneas.
Atualmente, é obrigatório o uso de cinta modeladora e fisioterapia cutânea dermato-funcional para um bom resultado. Os procedimentos reduzem o índice de fibrose excessiva, retrações, além de algumas assimetrias e irregularidades teciduais. É importante também o complemento da radiofrequência para melhorar a flacidez, que poderá ocorrer em grandes volumes aspirados e/ou pacientes com flacidez prévia.
Medidas preventivas para evitar intercorrências no intra e pós-operatório devem estar em perfeita harmonia com o anestesista. Desde o pré-operatório, como suspensão de algumas medicações, dentre elas o anticoncepcional oral, até as intra-operatórias. Nesse momento, passa a ser fundamental a escolha do tipo de anestesia a ser utilizada, além do controle da relação sangue/gordura aspirada, utilização de manta térmica para evitar hipotermia, meia elástica e massageador de pernas.
Em alguns casos, pode ser importante o uso de anticoagulantes fracos como o clexane-r para redução dos fenômenos tromboembólicos, assim como a quantidade de líquido e expansores colóides a serem repostos no pós-operatório imediato. Uma excelente analgesia deve ser considerada também. Todas essas medidas vêm reduzindo cada vez mais a chance de intercorrências.
Outros métodos começaram a surgir, como por exemplo a vibrolipoaspiração, as cânulas com ultrassom e as cânulas com "laser na ponta". Porém, apesar de terem algumas indicações precisas, nenhum deles se firmou em termos de "custo-benefício-risco", como o método tradicional do Dr. Illouz, modificado, ou seja, a cada dia com cânulas mais delicadas.
No Brasil, estima-se que mais de 140 mil procedimentos de lipoaspiração sejam feitos por ano. É, portanto, um procedimento bem estabelecido e normatizado há mais de 20 anos com inúmeros benefícios às pessoas que necessitam dele e não teriam outra possibilidade de modificar o formato de uma região do corpo sem essa aplicação.
De qualquer forma, devemos ter ciência que tal procedimento é cirúrgico, traumático e deve ser realizado por profissionais devidamente qualificados, experientes e titulados para tal. Tudo em um ambiente hospitalar com condições de suporte em uma eventual intercorrência. Esses cuidados farão com que a busca da melhora da auto-estima desse paciente e o uso da habilidade do cirurgião sejam unidos de forma adequada para o resultado desejado por ambas as partes.
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