Cirurgiã-dentista graduada em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia desde 2001. Ela também é mestre e doutora n...
i A odontologia busca prevenir doenças e tratá-las da forma menos invasiva possível. Pensamos muito na comodidade do paciente e em como devolver a ele a saúde e a estética do sorriso, usando técnicas cada vez mais práticas, simples e previsíveis, aprofundadas no universo científico. Dentro desse contexto moderno surge a cirurgia óssea piezoelétrica como uma alternativa interessante às cirurgias odontológicas tradicionais, realizadas com instrumentos rotatórios ou cortantes.
O método piezoelétrico emprega uma vibração ultrasônica para promover as modificações necessárias em ossos ou gengiva. A cirurgia óssea piezoelétrica é indicada nos casos de extrações dentárias - incluindo os dentes do ciso -, cirurgias de enxerto ósseo para a reconstrução dos tecidos perdidos, plastias ósseas, remoção e enucleação de cistos, implantes e outras técnicas específicas.
Um aparelho piezoelétrico nada mais é do que um aparelho de ultra-som, daqueles utilizados em sessões de profilaxia e remoção de tártaro, que produz uma vibração específica capaz de cortar apenas o osso. Esses instrumentos eram, inicialmente, usados apenas em cirurgias ortopédicas, sendo fabricado somente em 2002, na Alemanha, o primeiro aparelho piezoelétrico específico para odontologia (PiezoSurgery, Mectron). A voltagem e a frequência desse aparelho tornam-o capaz de fazer o corte seletivo do osso, preservando os tecidos moles e duros adjacentes (gengiva, bochecha, lábos, raízes dos dentes, nervos). Essa característica é de extrema importância nas cirurgias odontológicas realizadas próximas ao nervo mandibular (alveolar inferior), ao assoalho do seio maxilar ou a qualquer estrutura anatômica que deva ser preservada.
Além disso, a vibração ultrasônica produzida no osteótomo, que é a ponta ativa do aparelho, promove um efeito cavitacional que é potencializado pelo spray de soro fisológico, utilizado para irrigar e resfriar a região da incisão óssea. Essa irrigação gera um campo cirúrgico livre de sangue, de fácil visualização e isento do risco de o osso necrosar por aquecimento. As brocas, tradicionalmente empregadas nesse tipo de cirurgia, podem gerar queimaduras ósseas seguidas de necrose, comprometendo os resultados.
Além disso, as cirurgias convencionais geram muito desconforto ao paciente, já que o uso de brocas e cinzéis cortantes é percebido negativamente por ele, em função do barulho, da pressão e da vibração exercida pelo instrumental. O osteótomo piezoelétrico reduz significativamente o barulho, a vibração, a pressão, o aquecimento e o desconforto pós-operatório. Alguns estudos clínicos demonstram que a recuperação do paciente é muito mais tranquila após uma cirurgia piezoelétrica, pois a cicatrização óssea é acelerada e a ausência de aquecimento diminui a possibilidade de ocorrerem edemas.
Entretanto, toda técnica tem suas limitações. O ultra-som piezoelétrico específico para fins cirúrgicos tem custo elevado, exige uma curva de aprendizado e não otimiza o tempo da cirurgia, deixando-a inclusive mais demorada.
Independentemente disso, a cirurgia óssea piezoelétrica surgiu, tanto na medicina quanto na odontologia, para facilitar a prática clínica e melhorar o conforto trans e pós-cirúrgico do paciente. Estudos ainda se fazem necessários para desvendar porque a cicatrização óssea torna-se acelerada, mas de que forma essa técnica pode contrubuir ainda mais para a odontologia moderna.